11 de janeiro de 1987. Jogo final da Conferência Americana. Cleveland Browns e Denver Broncos disputam uma vaga no Super Bowl XXI. Os Browns, comandados pelo quarterback Bernie Kosar, vencem por 20 a 13, com 5 minutos e 32 segundos restando no relógio. O Denver Broncos, após um excelente trabalho da equipe de kickoff de Cleveland e uma falha do seu retornador, tem a bola em sua própria linha de 2 jardas, para começar sua série ofensiva. O que aconteceu em seguida, entrou para a história do esporte, com o nome de “The Drive“. Comandados por John Elway, o Denver Broncos marchou as 98 jardas necessárias para o touchdown, em 15 jogadas que consumiram 5 minutos e 2 segundos. O jogo foi para a prorrogação e o chute de Rich Karlis deu a vitória aos Broncos.
17 de janeiro de 1988. Jogo final da Conferência Americana. Cleveland Browns e Denver Broncos disputam uma vaga no Super Bowl XXII. Com 6 minutos faltando para o fim da partida, o Denver Broncos vence por 38 a 31. Após uma excelente campanha do ataque liderado por Bernie Kosar, o Cleveland Browns tem a bola na linha de 8 jardas do campo dos Broncos, com 1 minuto e 12 segundos restando à partida. Bernie Kosar faz o handoff para o running back Earnest Byner. Ele segue o bloqueio do seu guard e quebra um tackle. Tudo indica que a jogada terminará com o touchdown de empate de Cleveland. No entanto, no último momento antes de Byner cruzar a linha da end zone, o defensive back Jeremiah Castille apareceu como um foguete, tirando a bola das mãos do jogador dos Browns. Fumble recuperado por Denver em sua própria linha de 2 jardas. A jogada que ficou conhecida como “The Fumble” terminaria no mesmo ponto em que “The Drive” começou.
Essas duas jogadas são parte fundamental do folclore que se tornou a maldição esportiva de Cleveland. Ela diz respeito à seca de títulos conquistados pelas três grandes equipes esportivas da cidade: os Browns, os Indians, da Major League Baseball (MLB) e os Cavaliers, da National Basketball Association (NBA). Essa seca teve seu início em 1964, quando os Browns conquistaram o título da NFL, e durou até domingo passado, quando os Cavaliers venceram o último jogo da série final da NBA contra o Golden State Warriors. A vitória dos Cavaliers pôs fim à maldição e retirou um peso dos ombros de diversos ex-jogadores que falharam em encerrá-la anteriormente. Dois desses jogadores são Bernie Kosar e Earnest Byner, que estarão presentes no desfile de comemoração que acontecerá hoje em Cleveland.
O que o fim da maldição representa para o Cleveland Browns?
Quer você acredite em maldições ou não, o fato é que o Cleveland Browns tem sido, já há algum tempo, uma das menos vitoriosas equipes da NFL. Desde que venceram o campeonato da NFL de 1964, os Browns têm apenas 6 vitórias e 15 derrotas nos playoffs, a terceira pior marca da liga. Sua última aparição na pós-temporada foi em 2002 e sua última vitória nos playoffs foi na temporada de 1994. Não bastasse isso, Cleveland nunca chegou a jogar em um Super Bowl. Apenas outras três equipes da NFL atual dividem essa distinção com os Browns – Lions, Texans e Jaguars. E a vitória do Cleveland Cavaliers não vai mudar isso.
O que pode mudar isso, no entanto, é a nova mentalidade da diretoria da equipe. Sashi Brown e Paul DePodesta deram início a um processo de reestruturação radical na equipe, como já analisamos anteriormente. O time tem buscado se reconstruir a partir do Draft, abrindo mão de veteranos cujo contrato chegou ao fim, liberando espaço no salary cap, a ser investido quando o time estiver novamente pronto para competir. Mas quando será isso?
Recentemente vimos duas equipes obterem grande sucesso utilizando esse sistema de reconstrução do elenco. Jacksonville Jaguars e Oakland Raiders encontraram jogadores no Draft que já se encontram entre os melhores de suas posições, como Khalil Mack e Allen Robinson. Com uma forte base de jogadores novos, os times buscaram reforços na free agency e já se encontram em condições de disputar os títulos de suas divisões.
Quanto tempo levará até que os Browns estejam na mesma situação?
Isso é difícil de prever. O processo de reestruturação dos Raiders começou em 2012 e o dos Jaguars em 2013. Baseado nessas duas equipes, que se encontravam em situação parecida à dos Browns quando decidiram “implodir” seus elencos e adotar uma nova filosofia gerencial, poderíamos esperar que o Cleveland Browns estivesse pronto para competir em 2019. Um fator determinante para o sucesso de Raiders e Jaguars, entretanto, é que ambas as equipes conseguiram encontrar no Draft a peça mais importante para a reconstrução de um elenco: o quarterback. Ainda que possa ser discutido que Blake Bortles e Derek Carr ainda não se alçaram ao posto de franchise quarteback, eles definitivamente estão a caminho disso.
O Cleveland Browns selecionou Cody Kessler na terceira rodada do Draft desse ano, a pedido do técnico Hue Jackson, mas é pouco provável que o jovem quarterback vá se tornar o titular da equipe. Uma outra aposta é em Robert Griffin III, mas as noticias vindas de Cleveland a respeito de sua performance nos treinamentos não são exatamente encorajadoras. Inconsistente em seus fundamentos desde a época de Washington, o quarterback ainda estaria aprendendo todos os detalhes da posição, segundo Hue Jackson. Isso é um grande motivo de preocupação, para um jogador que já está indo para sua quinta temporada na NFL. O quarterback mais confiável que Cleveland tem em seu elenco ainda é o veterano Josh McCown, mas ele não será a solução a longo prazo para a equipe.
Se os Browns estivessem em condição de brigar pelo título da divisão Norte da Conferência Americana, McCown seria a melhor opção. Na situação atual, no entanto, Robert Griffin III como titular faz mais sentido. Ainda que seja um cenário improvável, caso ele consiga de fato dominar todas as nuances da posição, Cleveland teria um ainda jovem jogador para servir como base de sua reconstrução. Caso aconteça o mais provável e RG3 realmente não seja um franchise quarterback na NFL, o pior plantel da liga, comandado por ele, certamente terminaria a temporada na última colocação. Isso garantiria a Cleveland a primeira escolha geral do Draft do ano que vem. Ainda é muito cedo para prevermos quem será o primeiro jogador escolhido em 2017, mas Deshaun Watson, quarterback de Clemson é o atual favorito à posição. O segundanista foi um dos finalistas do troféu Heisman em 2015 e ajudou a conduzir sua equipe à final do College Football. Se seu jogo continuar evoluindo em 2016, como parece que vai, é possível que em 2017 ele se torne a nova esperança dos torcedores dos Browns. Se a reconstrução da franquia seguir o mesmo rumo de Raiders e Jaguars, pode ser que, em 2019, Watson esteja conduzindo a equipe ao título da divisão. E, com o fim da maldição, por que não ao primeiro Super Bowl da cidade de Cleveland?
Difícil? Sim. Impossível? Não em um mundo em que maldições são quebradas por heróis em um domingo à noite.






