Ainda dá pra acreditar no Jacksonville Jaguars?

Depois de um jogo disputado até a última descida contra o Green Bay Packers e uma derrota acachapante contra o San Diego Chargers, o Jacksonville Jaguars se encontra com duas derrotas nas duas primeiras semanas da temporada pela quarta vez em cinco anos.

A evolução do quarterback Blake Bortles, seu entrosamento com seus wide receivers, aliada aos reforços defensivos trazidos na interemporada projetavam um começo melhor para a equipe da AFC South – a qual, convenhamos, não é a divisão mais difícil do mundo de ser vencida. O que foi visto, até agora, foi uma dificuldade enorme em mover as correntes no ataque, uma defesa que quase nada de pontuação – só 65 pontos, tá tranquilo – e um retrospecto negativo: um cenário familiar até demais para os torcedores em Jacksonville. Com tanto talento dos dois lados da bola, o que acometeu a franquia do norte da Flórida?

A dificuldade em mover as correntes do ataque – a “inexistência” de um jogo corrido 

Dos 89 passes tentados por Blake Bortles nos dois jogos, 63 deles foram para uma distância de 10 ou mais jardas para conquistar uma nova primeira descida. Se descontarmos os 30 em primeiras descidas, são 33 passes em situações nas quais o ataque não moveu as correntes, cometeu faltas ou foi derrubado atrás da linha de scrimmage. Ou seja, 37% dos passes tentados por Blake Bortles são realizados para tentar compensar a dificuldade em construir momento ofensivamente. Além disso, 20 dos 89 passes de Blake Bortles sequer passaram da linha de scrimmage. 40 deles, ou seja, 44.9% não foram além das cinco jardas de profundidade.

Estas estatísticas indicam, antes de mais nada, uma dificuldade enorme em mover a bola. Os passes para 10 ou mais jardas que não são nas primeiras descidas são resultados de passes incompletos, sacks, tentativas corridas paradas atrás ou na própria linha de scrimmage, faltas… Uma série de variáveis contribuem para esse alto número. Esses primeiros sintomas apontam para uma “doença”: o jogo corrido “não existe”.

O segundanista T.J. Yeldon teve a oportunidade de mostrar serviço quando o veterano Chris Ivory se ausentou das duas primeiras partidas. Com o domínio do backfield, o camisa 24 teve 28 tentativas terrestres para 67 jardas, uma péssima média de 2.4 jardas por carregada. No jogo aéreo, 12 recepções para 40 jardas, um resultado de 3.3 jardas por passe recebido, o que indica também uma dificuldade em conquistar território após segurar o passe. A ineficiência em conquistar jardas corridas acaba por gerar um ataque desequilibrado, utilizando screens e bubble screens para tentar reparar essa deficiência – passes curtos para o lado com intuito do recebedor conquistar jardas após a recepção. O Detroit Lions fez isso (substituir jogo corrido por screen) a rodo ano passado.

Quando você virtualmente não tem jogo corrido, o jogo aéreo vira sua única forma de avançar no campo. E quando a defesa sabe o que marcar, marca melhor – por óbvio.

Nas duas partidas, o Jacksonville Jaguars tentou 89 passes – 52 snaps a mais que o número de tentativas corridas (37). Se por ventura estipularmos que screens e passes curtos são “tentativas corridas”, no sentido de que é uma forma de compensar pela deficiência do jogo terrestre, o número passa de 37 tentativas para 57. Nota-se, portanto, que esses passes curtos, que muitas vezes sequer cruzam a linha de scrimmage, são uma forma de compensar a ineficiência terrestre, e se isso não funciona, o ataque não consegue se desenvolver.

Recebedores que brilham em profundidade: incoerência se sustentar nos passes curtos?

Os wide receivers Allen Robinson e Allen Hurns são duas armas perigosíssimas para qualquer defesa. Mais do que isso, eles representam perigos em profundidade, sendo extremamente eficientes recebendo passes longos. O problema neste ano é que eles simplesmente não tem recebido essas bolas fundas.

Como visto, muito disso se dá pela ineficiência do jogo corrido. Quando você não consegue correr com a bola, os passes curtos e os passes laterais são uma forma de suprir essa ineficácia. Não é viável, dentro do nível profissional, simplesmente lançar a bola longe em cada tentativa aérea – não é sustentável. Se você começa a fazer isso, a defesa e os safeties começarão a diagnosticar suas jogadas antes delas acontecerem, fechando ainda mais o seu ataque. O coordenador defensivo adversário vai lotar o plano de jogo com formações nickelcover 4/6 a rodo.

 Sem jogo corrido, os passes rápidos e curtos são essenciais; o problema é que essa alternativa não tem dado resultado para o Jacksonville Jaguars em duas semanas. Os passes cursos mitigam o risco de uma big play defensiva, com sack ou interceptação, mas para mitigarem de fato qualquer risco, eles devem ser de alguma forma eficiente.

Há que se considerar, ainda, que as escolhas do coordenador ofensivo Greg Olson em utilizar passes curtos com mais frequência pode se dar pela linha ofensiva. O trabalho da unidade na proteção ao passe não tem sido lá essas coisas; em especial o left guard Luke Joeckel, que não tem conseguido dar tempo no pocket para Blake Bortles. O left tackle Kelvin Beachum também está construindo química com o guard, e de fato toma tempo para que os jogadores de linha ofensiva se tornem uma unidade sólida e coesa, conhecendo suas atribuições em cada jogada. Não ajuda, também, o fato de que o center Brandon Linder, melhor jogador de linha ofensiva nesta temporada, deve perder a partida da Semana 3 contra o Baltimore Ravens.

Beleza, o ataque tá uma catástrofe. Ainda dá pra acreditar no Jacksonville Jaguars? 

O potencial do Jacksonville Jaguars só irá se concretizar se eles conseguirem tornar o jogo corrido uma ameaça real ou fazer os passes curtos terem algum impacto. Há a esperança de que a entrada de Chris Ivory, um running back com mais aptidão para brigar pelas jardas nas trincheiras, mude de forma substancial este ataque. Eu mediria minhas expectativas – apesar da linha ofensiva estar bem nos bloqueios para o jogo terrestre – pois é a estreia do jogador em um novo sistema, e sob pressão.

Defensivamente, o desempenho do Jacksonville Jaguars é até razoavelmente esperado – por isso mesmo não me debrucei sobre estas questões. O reforço de Malik Jackson é perceptível, apesar do jogador ainda não ter brilhado tanto na proteção contra o jogo terrestre. Dos principais nomes defensivos que chegaram, dois são calouros e um não participou da segunda partida (Prince Amukamara) – isso sem contar Dante Fowler Jr., que é virtualmente marinheiro de primeira viagem, visto que um cruzado anterior rompido o privou da sua temporada de calouro.

No final das contas, a resposta para a pergunta título deste texto é simples: eu acredito, sim, no Jacksonville Jaguars. Só que a concretização das projeções, dos destaques defensivos e do ataque explosivo podem acontecer só tarde demais – talvez num momento no qual a classificação para a pós-temporada já seja um sonho mais distante. E aí Gus Bradley vai ter que dar uma olhada no catho.com.

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