Análise tática: A importância da movimentação antes do snap na NFL atual

[dropcap size=big]M[/dropcap]uitas vezes o torcedor menos ligado nos aspectos táticos do futebol americano não compreende os motivos das movimentações antes do início das jogadas dos jogadores de ataque.

Os motions, como são chamadas essas mudanças de localização de algum jogador pré snap, estão cada vez mais em altas no ataques da NFL e são parte fundamental para efetividade de times como os Chiefs, Rams, Patriots, Saints entre outros.

Vamos mostrar os motivos que fazem os times utilizarem tanto esse subterfúgio e como eles impactam diretamente em cada situação de jogo.

O exemplo de Kansas City: Jet Motion

Um motion muito utilizado pelos Chiefs, é o jet motion. Nele, o wide receiver vem em velocidade alta e pega a bola da mão do quarterback, executando uma jogada chamada jet sweep.

O time de Kansas City utiliza demais com Tyreek Hill como ball carrier e sua principal função é gerar um mismatch entre Hill e algum jogador de linha defensiva, que dificilmente terá velocidade para o conter na linha de scrimmage. Fora isso sua capacidade de quebrar tackles em campo aberto sempre cria a chance de uma big play. Também é utilizado para diminuir a agressividade do edge defensivo, o fazendo ficar hesitante.

Contra os Chargers na semana 1, eles fazem exatamente isso; deixam Melvin Ingram titubeando na linha de scrimmage e o obrigam a uma leitura. Quando ele identifica Hill com a bola, já foi contornado. Além disso, os Chiefs geram uma vantagem numérica, com o combo entre o left tackle e o tight end deixando Ingram passar e indo direto ao segundo nível. O resultado é um excelente ganho de 21 jardas

Pelo ângulo de trás, para visualizar a movimentação da OL e como Ingram sofre com a leitura.

Com o tempo e utilizando com os jogadores corretos, o jet motion acaba também servindo de isca.

O exemplo dos Rams com Gurley & Amigos

Os Rams fizeram isso logo no começo do jogo contra os Broncos, usando Brandin Cooks. O segundo que sua movimentação faz Von Miller travar é fundamental para que o tight end cruze a linha e consiga o bloquear, num movimento chamado de trap. Além disso, o right tackle fica livre para avançar contra o inside linebacker dos Broncos (54), ajudando no ganho de 22 jardas na corrida de Todd Gurley.

New England e o Cross Motion

Outro motion muito popular é o near ou cross motion, em que um jogador cruza atrás da linha de scrimmage para o outro lado, seja para auxiliar nos bloqueios ou para uma jogada de passe.

No jogo corrido funciona muito bem contra equipes que estejam defendendo em zona e somente façam ajustes, não movendo mais um jogador para área. Os Patriots fizeram isso muito bem contra os Dolphins.

Movendo o tight end Dwayne Allen (83) da direita para esquerda, eles criaram uma vantagem na lateral. Allen executa um excelente reach block no defensive end, selando a lateral. O wide receiver Cordarrelle Patterson (84) faz o mesmo no linebacker, deixando que o left tackle Trent Brown (77) possa liderar a corrida executando um bloqueio no último nível da defesa e pavimentando caminho para o touchdown de Sony Michel.

Sean Payton: usando movimentações há anos

No jogo aéreo esse motion é muito utilizado para que o quarterback identifique a cobertura defensiva. Drew Brees faz esse reconhecimento com muita rapidez.

Ao mover Michael Thomas da direita para esquerda e notar que o cornerback alinhado não o acompanhou, Brees automaticamente associa que os Buccaneers estão numa cobertura de zona. Essa é uma das grandes vantagens da movimentação antes do snap: ela pode revelar qual a cobertura defensiva. Se acompanhar o recebedor em movimento, alta chance de ser homem-a-homem. Se não, a tendência é ser zona.

Quando há o ajuste no lado esquerdo e o cornerback mais aberto recua para deep zone tendo apenas um safety no meio do campo, fica clara a cover 3; sem titubear, ele lança em Thomas numa rota out para first down.

Um dos segredos dos Chargers e o potente ataque de 2018

A situação é utilizada de maneira inversa no touchdown dos Chargers contra os Chiefs na semana 1. Quando o cornerback Orlando Scandrick acompanha a movimentação de Keenan Allen da esquerda para direita, está evidente a cover 1, com o safety no meio e marcação individual. Rivers então se aproveita que Allen bate o defensor dos Chiefs logo na scrimmage e tem um fácil touchdown.

A orbit motion – por trás do backfield

Outro motion que vem sendo bastante utilizado na NFL é orbit motion. Muito usado no college football, consiste em um jogador (geralmente um wide receiver) vindo em velocidade e passando por trás do backfield.

É bastante utilizado em jogadas de end around, onde o quarterback finge entregar para o running back, mas na verdade dá a bola para o jogador em movimento. O touchdown de Emmanuel Sanders contra os Ravens é prova disso.

É simples notar como a defesa toda se move em direção ao running back Royce Freeman e quando percebe que a bola está com Sanders, já é tarde. Com campo livre, ele apenas segue os bloqueios e consegue um touchdown tranquilo.

O uso desse tipo de jogada com o orbit motion, abre espaço para outra não tão comum: o wide receiver pass.

Como os Broncos já haviam utilizado Sanders correndo na jogada acima e mais uma vez contra os Chiefs, a defesa dos Cardinals não pensou duas vezes antes em avançar logo ao notar a bola na sua mão. O problema é que a jogada era um passe de Sanders para Courtland Sutton, que virou touchdown. Notem como safety e cornerback deixam Sutton passar limpo, sem um toque, totalmente focados em Sanders.

Por criar uma situação de stress defensivo, o orbit motion é muito utilizado para conter edges muito agressivos (que passam a ter que se preocupar com sua lateral) como também para aproximar defensores indisciplinados taticamente para perto do box, os punindo seja com uma trick play ou com o play action pass.

Conclusão: ataques que usam movimentação têm vantagem antes do snap

Com o jogo de passe sendo cada vez mais a tônica na NFL, surge uma nova geração de running backs capazes de produzirem recebendo passes e com isso também tendo participação aumentada nos motions, coisa antes não tão rotineira.

Uma das maiores vantagens do motion do running back para posição de wide receiver é a criação de mismatches: duelos nos quais a defesa tende a perder.

Caso a defesa esteja alinhada em cobertura man é normal vermos um linebacker se deslocando para cobrir na scrimmage. São poucos que conseguem ter velocidade e qualidade nessa cobertura, gerando normalmente vantagem para o ataque. Os Falcons tem sido mestres nisso nas últimas temporadas.

No exemplo a seguir, Devonta Freeman se move do backfield para o slot e é acompanhado pelo linebacker LJ Fort. Sem dificuldade, ele o bate numa rota slant para um ganho de nove jardas. James White, Saquon Barkley, Alvim Kamara e Christian McCaffrey são alguns nomes que executam a função com excelência.

Existem ainda uma infinidade de motions não tão utilizados na NFL, mas que em alguns momentos aparecem como o return, rocket e swing motion.

A verdade é que hoje os motions são partes fundamentais de qualquer ataque na liga, criando situações de constante dúvida e stress defensivo, falhas de comunicação e ajustes (os famosos mismatches) e limitando a agressividade defensiva. Com a nova geração de mentes ofensivas que vem despontando na NFL sua utilização terá cada vez mais importância e você verá com mais frequência variedades de movimentações antes do snap, complicando ainda mais a vida dos coordenadores defensivos.

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