Depois de mais um fracasso na pós-temporada graças ao sistema ofensivo arcaico – e das reclamações de Russell Wilson, Brian Schottenheimer finalmente parece inclinado a mudar seu plano de jogo. Não estamos mais em 1990: a NFL é uma liga voltada ao jogo aéreo e, quando você possui um dos melhores quarterbacks da década, passar a bola na maioria das situações é uma obrigação.
Nesta temporada, o coordenador ofensivo e Pete Carroll estão em uma zona desconfortável e isso obriga as mudanças no ataque. A hora de deixar o conservadorismo ofensivo de lado chegou em Seattle e, com ela, vem a oportunidade para Wilson tomar completamente as rédeas da unidade e passar mais a bola.
Usando a velocidade com sabedoria
O corpo de recebedores do Seattle Seahawks possui muita velocidade em seu trio principal: D. K. Metcalf, Tyler Lockett e Philip Dorsett, porém, essa caraterística não foi bem utilizada pelo coordenador ofensivo na última temporada. Não havia combinação de rotas pelos wide receivers, e, na maior parte das vezes, era visto uma preguiçosa execução de seguidas rotas verticais. O resultado? Wilson era obrigado a comprar tempo no pocket e, por consequência, acabou sendo sackado 48 vezes – maior marca da liga -, já que sua linha ofensiva não é confiável.
Observe as rotas corridas por Metcalf e Lockett na derrota frente ao Green Bay Packers, nas quais eles foram alvejados pelo quarterback, como exemplo.

Notou algo errado? Todas as rotas miram o fundo do campo – e essas são apenas aquelas em que Wilson tentou o passe para os recebedores – e elas quase não se cruzam, tampouco possuem maiores variações. Evidentemente, um ataque rápido permite que o fundo de campo seja mais bem explorado, ainda mais quando seu quarterback possui uma precisão excepcional, mas há maneiras mais eficientes de se utilizar a velocidade.
As duas franquias que chegaram ao último Super Bowl são ótimos exemplos disso: Kansas City Chiefs e San Francisco 49ers. Kyle Shanahan prefere utilizar a velocidade em prol das jardas após a recepção enquanto Andy Reid consegue explorar todas as faixas do campo em virtude do talento de Patrick Mahomes, combinando bem as rotas de seus jogadores. O fator comum? Ambos sabem utilizar a maior característica de seus recebedores com maestria.
Schottenheimer precisa dar o braço a torcer ao invés de tentar exaurir ao máximo uma prática que visivelmente não funciona. Busque as rotas em profundidade, mas explore Lockett também como uma arma de produção após a recepção com os passes curtos. Abuse da fisicalidade de Metcalf, contudo, entenda que ele também pode produzir em rotas mais complexas.
Esse é o primeiro e mais importante passo.
Olhe para os Ravens, mas com cautela
Lamar Jackson e Russell Wilson são quarterbacks igualmente eficientes no jogo aéreo e no terrestre, o que por si só é uma complicação defensiva, já que há mais de uma força a ser neutralizada. Não acho que Schottenheimer deva se basear em Greg Roman para formular seu plano ofensivo, pois a fórmula do Baltimore Ravens se deu por circunstâncias muito específicas, como uma linha ofensiva de excelência e uma tríade de tight ends versátil.
Só que olhar para o ataque da franquia de Maryland pode ser útil para a formulação do jogo aéreo de Seattle em 2020. Como o comitê de running backs ainda deve ser amplamente utilizado pela equipe, as defesas adversárias colocarão seus linebackers e safeties mais próximos do box. Na última temporada, quando isso ocorria, Lamar castigava as defesas com os passes no meio do campo e essa também deve ser a estratégia buscada por Seattle neste ano.
O grupo de wide receivers, somado a Greg Olsen e Will Dissly, pode explorar bem essa faixa do campo, evitando avanços de 2 jardas e forçando as defesas adversárias a retirar homens do box, o que auxiliará por tabela o amado jogo terrestre de Schottenheimer. É necessário cautela, pois isso não é um indício para emular o alto número de tentativas de corrida de Baltimore.
Ademais, Wilson foi o sexto melhor quarterback atacando o meio do campo em DVOA, métrica do Football Outsiders, enquanto foi apenas o 14º em passes nas zonas profundas. Mais um indício de que a melhor formulação das rotas combinada ao maior uso do jogo aéreo – principalmente contra boxes lotados – permitirá que o ataque de Seattle seja mais efetivo, mesmo que algumas das velhas manias do técnico e do coordenador ofensivo se mantenham.
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