Ao final da pré-temporada, nosso ranking de quarterbacks calouros

[dropcap size=big]Q[/dropcap]uando estudamos os quarterbacks ainda durante suas carreiras universitárias, trabalhamos com projeções. Como será que esses caras vão se encaixar em um jogo muito mais veloz, com defesas mais fortes e esquemas mais complexos? Muitas vezes é um exercício de previsão do futuro, em que tenta-se identificar os traços do jogador que podem se traduzir em desempenhos de qualidade na NFL.

Embora o desenvolvimento e adaptação de um quarterback ao jogo profissional possam levar algum tempo, é possível observar alguns detalhes já no primeiro contato do jogador com a NFL. E esse primeiro contato acabou de acabar. Após os quatro jogos de pré-temporada, já temos alguma coisa pra acrescentar às avaliações anteriores ao draft.

Entre os quarterbacks que foram selecionados na primeira rodada do draft, tivemos desempenhos bem variados. Desde o quarterback que ganhou a posição de titular até o que, nesse momento, parece muito distante de ter condição de jogar, a pré-temporada já mostrou bastante.

Vamos lá então. Na ordem de seleção no draft, veremos o que cada quarterback mostrou na pré-temporada, além da maneira com a qual esta performance altera (ou refina) a avaliação pré-draft de cada um.



“canecas"

Leia também:
Podcast, Ep 28: Quarterbacks calouros são grata surpresa da semana
Batalhas pela titularidade e os quarterbacks: algumas conclusões preliminares
Mesmo com Mahomes voando baixo, Chiefs negam disputa de titularidade

Mitchell Trubisky – Chicago Bears

Primeira Rodada – Segunda escolha

Avaliação pré-draft: Quarterback 3

O novo quarterback dos Bears, selecionado na segunda posição do draft 2017, entrou na pré-temporada, ao menos a princípio, sem a pressão de brigar pela titularidade. A equipe já havia anunciado que o quarterback titular em 2017 seria Mike Glennon, veterano que chegou como free agent.

Trubisky, no entanto, fez o suficiente na pré-temporada para, no mínimo, gerar dúvida na cabeça do conservador técnico de Chicago, John Fox. O quarterback, nestas quatro partidas, lançou para 3 touchdowns, sem nenhuma interceptação, alcançando uma porcentagem de passes completos de 67,9%. O único número aquém do ideal para Trubisky foi a média de jardas por passes lançados (6,9).

Mais do que números e estatísticas, na verdade, é relevante o que o vídeo nos diz. E, no caso de Mitchell Trubisky, o vídeo mostra um quarterback que já evoluiu desde o término de sua carreira universitária. Trubisky mantém as boas características que já apareciam em North Carolina, como boa movimentação no pocket e precisão nos passes intermediários.

A novidade, por assim dizer, é a melhora no trabalho de pés, particularmente nos passes mais longos. Para manter a precisão nos passes em profundidade, o quarterback precisa, diante da pressão, posicionar o pé da frente direcionado para seu alvo, mantendo os ombros alinhados durante o movimento de alavanca. Trubisky tinha dificuldade de combinar estes processos durante sua carreira universitária mas, nos jogos da pré-temporada, mostrou essa capacidade.

Mitchell ainda tem muito o que melhorar, particularmente na interpretação das defesas. O quarterback tem dificuldades de diagnosticar coberturas, particularmente quando a defesa marca por zona.  Seus passes para a lateral, particularmente para a sua esquerda, tendem a flutuar mais, indicando que ainda há problemas em sua mecânica de passe.

Juntando o todo do trabalho de Trubisky na pré-temporada, é possível afirmar que o Chicago Bears tem um quarterback para apostar no futuro. A dúvida é se esse futuro não deveria começar agora. A melhor maneira de um quarterback ganhar experiência e evoluir é jogando e, convenhamos, Mike Glennon não traz exatamente uma expectativa de grande desempenho. Mas, até o momento, Trubisky vai ficar “segurando a prancheta” na maior parte do tempo neste ano.

Avaliação após a pré-temporada: Quarterback 2

Patrick Mahomes – Kansas City Chiefs

Primeira rodada – décima escolha

Avaliação pré-draft: Quarterback 4

O Kansas City Chiefs investiu pesado para subir no draft e selecionar Patrick Mahomes. Esse salto foi surpreendente, principalmente se considerarmos que os Chiefs têm um titular estabelecido no veterano Alex Smith. Mesmo aparentemente não tendo perspectiva de assumir a posição de titular no momento, Mahomes vem mostrando bons traços. O quarterback, nesta pré-temporada, lançou para 4 touchdowns e nenhuma interceptação, completando 63% dos passes.

Quando analisamos as imagens de Patrick Mahomes, o que salta primeiro aos olhos é, sem dúvida, a potência do seu braço. Mahomes é capaz de, mesmo fora de posição e sem equilíbrio, acertar passes longos com grande precisão. O quarterback já mostrava todo seu “talento braçal” na universidade, em Texas Tech. Lá, no entanto, Mahomes atuava no sistema ofensivo conhecido como Air Raid, que emprega rotas verticais com leituras rápidas do quarterback, que frequentemente olha apenas para um lado do campo.

Muitas vezes, quarterbacks oriundos de equipes que utilizam o Air Raid têm dificuldades para se adaptar ao jogo profissional (como exemplos recentes, podemos citar Brandon Weeden, Johnny Manziel e Jared Goff). Isto se deve à complexidade das funções de um quarterback da NFL. Apesar disso, já é possível ver alguns elementos de adaptação de Patrick Mahomes à liga. O quarterback dos Chiefs tem se mostrado paciente no pocket, tentando executar as leituras das defesas adversárias. Apesar disso, ainda o vemos muitas vezes fugindo do pocket e improvisando, o que parece deixá-lo mais confortável.

Finalmente, é preciso dizer que Mahomes segue tendo o mesmo problema que já apresentava em Texas Tech: atuar como quem acha que só precisa do braço. Por ter tanta potência no braço, Mahomes acaba deixando de lado o trabalho de pés, particularmente diante da pressão. Frequentemente ele consegue acertar seus alvos mas, em termos gerais, esse vício faz com que sua acurácia oscile muito.

Apesar disso, a evolução mostrada por Patrick Mahomes em pouco tempo de contato com o jogo profissional, aliada ao seu grande potencial, faz do jovem quarterback dos Chiefs alguém para ser observado bem de perto durante seu início de carreira na NFL.

Avaliação após a pré-temporada: Quarterback 2


“RODAPE"

Deshaun Watson – Houston Texans

Primeira rodada – Décima segunda escolha

Avaliação pré-draft: Quarterback 2

Quando tentamos fazer avaliações de jogadores antes do draft, muito do que se faz é um exercício de projeção. Que características do quarterback, no caso, vão se traduzir bem para o jogo profissional? Certamente é uma ciência inexata, com acertos e erros.

Bem, todo esse blá-blá-blá é a minha desculpa esfarrapada. Claro que é cedo, mas parece que eu errei bem a mão na avaliação de Deshaun Watson. O quarterback dos Texans, oriundo de Clemson, não se mostrou, durante a pré-temporada, um quarterback capaz de liderar um time da NFL. Watson terminou a pré-temporada com apenas 51% de passes completos, lançando uma interceptação e nenhum touchdown. Correndo com a bola o quarterback anotou 2 touchdowns.

Como sempre, o que se vê no vídeo tem importância maior do que os números. Mas no caso de Watson, os dois andam bem próximos. Watson mostra alguns dos defeitos que já tinha no universitário, particularmente seus problemas de acurácia em passes intermediários. Isso, no entanto, já era esperado. O que surpreende é como Deshaun Watson tem dificuldades com as decisões. O jogo parece rápido demais para ele, que executa leituras equivocadas mesmo em lances simples.

O que o quarterback mostra de positivo é a capacidade de usar as pernas para fugir do pocket e criar alternativas quando o plano inicial não funciona. Ainda assim, é muito pouco em comparação com que se esperava dele. Vale lembrar que Watson nem sequer ameaçou a titularidade de Tom Savage nos Texans. E Savage não é exatamente um super quarterback. Nesse momento, parece difícil imaginar que Watson, mesmo com tempo para desenvolvimento, vá alcançar níveis muito mais elevados na NFL. Mas vamos dar tempo ao tempo.

Avaliação após a pré-temporada: Quarterback 6

DeShone Kizer – Cleveland Browns

Segunda rodada – escolha número 52

Avaliação pré-draftQuarterback 1

Se no exemplo anterior eu tive que dar desculpas pela avaliação errada, agora dá até pra tirar uma onda. Falando sério, já durante o processo que antecedeu o draft, eu considerava DeShone Kizer o melhor prospecto disponível na posição de quarterback. Apesar disso, Kizer caiu até a segunda rodada, onde foi selecionado pelos Browns. Durante uma ótima pré-temporada, o quarterback conquistou a titularidade, sendo o único da classe que começará o jogo da semana 1.

Nos três jogos da pré-temporada em que atuou, Kizer lançou para 1 touchdown e 1 interceptação. Pode parecer preocupante a baixa porcentagem de passes completos (52%), mas o vídeo mostra que o quarterback, no momento, está à frente de seus companheiros de classe.

Kizer mostra controle do pocket, mantendo o trabalho de pés mesmo sob pressão. O quarterback tem ótima precisão nas extremidades do campo, mesmo em leituras mais difíceis. Ele é capaz de usar a velocidade para sair do pocket, sempre buscando o passe mais longo. Algo que o quarterback precisa aprender é a usar mais os check downs quando necessário. A interceptação que Kizer lançou no jogo contra Tampa Bay, em um passe longo no meio do campo, é o exemplo de decisão ruim que não pode se repetir.

Ainda assim, o todo da performance de DeShone Kizer o credencia à possibilidade de ter uma boa carreira na NFL. No cemitério de quarterbacks que se tornou o Cleveland Browns, será que Kizer consegue mudar a história? Vai ser bem legal acompanhar isso.

Avaliação após a pré-temporada: Quarterback 1


“RODAPE"

O resto da turma

Dentre os demais quarterbacks calouros, o grande destaque nesta pré-temporada foi o quarterback do San Francisco 49ers, C.J. Beathard. O jogador proveniente de Iowa, foi selecionado na terceira rodada do draft. O que inicialmente foi considerado uma escolha alta pelo atleta, já parece agora ter sido uma pechincha. Beathard lançou para 4 touchdowns e 1 interceptação na pré-temporada, com uma ótima média de quase 9 jardas por tentativa. O quarterback pareceu muito à vontade no sistema de Kyle Shanahan e, considerando que o titular da posição é Brian Hoyer, não é difícil imaginar que o calouro tenha oportunidades de jogar ainda neste ano. Beathard, que nem estava em meus rankings pré-draft, ocupa no momento a posição número 4.

Nathan Peterman, de Buffalo, é outro que pode aparecer durante a temporada. O quarterback mostra bom potencial, principalmente em jogadas com leituras rápidas. Sua presença no pocket preocupa, particularmente diante da pressão, mas o jogo profissional não parece rápido demais para ele. Com os Bills aparentemente em modo de reconstrução, talvez valha ver o que o novato, número 6 no ranking, pode fazer.

Depois de Deshaun Watson, minha grande decepção nesta pré-temporada foi Joshua Dobbs. O quarterback dos Steelers esteve perdido em todo o tempo no campo durante as partidas, não conseguindo nem desafiar o reserva Landry Jones. Dobbs, que era o número 5 no meu ranking pré-draft, agora está lá para trás.

Agora começa o que vale mesmo. Como estará este ranking no final do ano? Certamente logo veremos.

Comentários? Feedback? Siga-nos no twitter em @profootballbr e curta-nos no Facebook.

“RODAPE"

“odds