Aristóteles, Platão, retórica e tópicos para determinar o melhor quarterback

É possível afirmar que um computador é melhor do que uma máquina de escrever? Em minha opinião, sim. São muitas as vertentes retóricas que sustentariam tal assertiva. A princípio, a demanda da população por computadores é maior. Por outro, um computador tem mais recursos que uma máquina de escrever. Mas, em essência, um computador faz a mesma coisa que uma máquina de escrever – só que melhor melhor.

De modo último e determinante, o melhor é um conceito intimamente ligado ao bem. Até porque melhor nada mais é do que “mais bem”. Se o bem último de uma competição é vencer o título, por tabela, o bem é o título em si. Por tabela, será mais preferível aquela coisa com maior potencial de produzir mais bens ou um bem maior. Preferível, será, a que em essência possuir mais títulos, por essa retórica. Ninguém comemora estatísticas ao torcer por um time. Todos comemoram títulos.

Da capacidade de produzir o bem por si mesmo

A discussão de “melhor quarterback de todos os tempos”, desde o momento em que comecei a assistir NFL ao início da década passada, era dominada e terminada efetivamente por um argumento: Joe Montana ganhou quatro Super Bowls tendo maior protagonismo que Terry Bradshaw, que também havia ganho quatro – mas com uma defesa superior que lhe potencializava vitórias. Hoje, misteriosamente, esse argumento não conta mais.

De toda sorte, aquilo que produz um bem por si mesmo é preferível ao que se produz por acidente, conforme Aristóteles em Tópicos pontua. Na sequência, aliás, me usarei de vários argumentos dele para pontuar e definir mais objetivamente, por meio da retórica aristotélica, o porquê de Tom Brady ser o melhor quarterback de todos os tempos e o porquê de “não dá para comparar eras” é um desvio retórico não aceitável sob a mesma ótica.

De dois meios de alcançar um fim é preferível aquele cujo fim for superior. Quando se põe a questão de escolher entre um meio e um fim há que raciocinar a partir de uma proporção: ou seja, quando um fim é tão superior a outro fim, como este é superior ao meio que lhe permite ser atingido; por exemplo conforme Aristóteles, se a felicidade é muito mais superior à saúde do que a saúde é superior ao meio de produzir saúde, então o meio de produzir felicidade é preferível à saúde. Títulos de Super Bowl são superiores, como argumento, a meras estatísticas de temporada regular. Porque esta é meio de produzir um fim último, aquele (o título).

Da essência de um quarterback

Ainda em Aristóteles, o conceito de essência é bastante utilizado e bastante útil para a arte da retórica. Em resumo, é o propósito de buscar identificar as coisas como elas são. Aristóteles tinha um confronto intelectual com Platão na medida em que a matéria acabava sendo mais determinante para aquele do que a forma, necessariamente, tinha para seu professor, Platão. Para Aristóteles, as coisas são por si mesmas: elas não estão dependentes do conjunto de regras que beneficia o passador, não estão dependentes da forma da bola ou das coisas ao seu redor. Se você ainda preferir a comparação platônica, em referência ao meio (regras, sistemas e etc), também escrevi sobre aqui.

Por Aristóteles, a essência de um quarterback não são as estatísticas, o toque que ele dá na bola – mas, sim, o desejável como qualidade determinante quando se procura um jogador da posição. Quando o Houston Texans foi ao mercado buscar um quarterback, a franquia queria um jogador capaz de guiá-los ao bem-último. Isto é: o Vince Lombardi Trophy. Não conseguiu em Brock Osweiler, nem remotamente.




Qual seria a essência de um quarterback, então? É possível comparar quarterbacks de Eras Diferentes? Qual seria aquele é que o define e permite que possamos compará-los entre eles sem nostalgias e apelo às formas – regras, contexto temporal e etc? Independente da Era que for, a partir do momento que o passe para frente foi legalizado em qualquer lugar atrás da linha de scrimmage (do início da década de 1930 até como é hoje), aquele que opera esse ofício de maneira mais eficiente e desejável rumo ao bem último, produzindo ao máximo o caminho ao bem-último sem ajuda de outros entes, poderia ser considerado melhor do que os demais.

Se uma coisa é mais valiosa, filosoficamente falando, ela é mais desejável e melhor do que as menos valiosas. Se uma coisa é mais útil, idem. Se uma coisa (quarterback) tem maior capacidade de produzir o bem último (maior virada na história do Super Bowl, maior quantidade de títulos de Super Bowls, maior quantidade de jardas, touchdownset al num Super Bowl), esta coisa é preferível àquela que tem menor capacidade de fazê-lo.

Um computador é mais desejável do que uma máquina de escrever – não é a toa que você está utilizando o primeiro ou um smartphone para me ler – porque ele faz o mesmo que uma máquina de escrever, só que melhor, e de maneira mais eficiente rumo ao seu bem (escrever com tipografia pré-estabelecida). Claro: há os que vão preferir a máquina de escrever, mas não por conta do bem. Estes preferirão a máquina de escrever por serem nostálgicos. É um sentimento plausível de sentirmos. Seu cérebro é o mesmo daquele de 10 mil anos atrás, quando não sabíamos como seria o dia de amanhã e buscávamos usar as sensações boas do passado como motivação. Acabou ficando uma emoção enraizada no homem hodierno como uma cicatriz de momentos mais difíceis para nossa espécie. Racionalmente, porém, não faz sentido.

Partindo como base todos esses tópicos – objetivos, desde o momento que foram concebidos na obra de Aristóteles há mais de dois mil anos – o jogador que mais se identifica com tal definição é Tom Brady. Porque ele é aquele ente mais virtuoso na essência máxima de um jogador da posição. Isto é: o mais eficiente, com 5 Super Bowls, na busca pelo bem que dá alegria a quem o deseja. O Vince Lombardi Trophy.

Comentários? Feedback? Siga-me no twitter em @CurtiAntony, ou nosso site em @profootballbr e curta-nos no Facebook.

Quer uma oportunidade para assinar nosso site? Aproveita, R$ 9,90/mês no plano mensal, cancele quando quiser! Clique aqui para assinar!
“odds