Acredito que a maioria dos que estão lendo este texto puderam ver, pelo menos em parte, a partida entre New England Patriots e Houston Texans pelo Divisional Round da temporada de 2016. O resultado de 34 a 16 sugere que o jogo foi justamente o que havia sido projetado: um banho de bola de Tom Brady e companhia, com Houston Texans correndo atrás do resultado. A verdade é que a partida podia ter sido vencida pelo Houston Texans até o final do terceiro quarto, quando o James White anotou o segundo touchdowns dos Patriots numa wheel route pelo lado direito do campo, deixando a partida 24 a 13.
24 a 13. Uma diferença de duas posses de bola, e mesmo assim o jogo parecia inalcançável. A defesa do Houston Texans jogou com intensidade, botando pressão no quarterback, com marcações coladas nos recebedores do New England Patriots, forçando turnovers e limitando a atuação de Tom Brady e as outras peças ofensivas. Nada pode ser colocado na conta de Jadeveon Clowney, Whitney Mercilus, A.J. Bouye e companhia. Mesmo quando os donos da casa aumentaram o placar, a defesa já tinha feito muito mais do que sua parte por três dos quatro quartos.
Não adianta ter defesa quando o ataque não anda. Afinal, no futebol americano, ganha quem faz mais pontos. E como o ataque não anda, se temos DeAndre Hopkins, Lamar Miller deixando a equipe em situações de terceira descida curtas, e uma proteção boa contra o pass rush pela linha ofensiva? Pois bem, Brock Osweiler teve um papel crucial na derrota de sábado, numa partida que podia ter sido vencida não fosse a inépcia ofensiva.
O desfecho de uma temporada de erros
Falem do drop do Will Fuller na end zone, ou do drop de C.J. Fiedorowicz numa conversão importante dentro da própria linha de cinco jardas. Eles foram determinantes para que campanhas se tornassem punts, mas os erros dos recebedores não são a tônica da partida de ontem. A imprecisão de Brock Osweiler minou as pretensões do Houston Texans de serem as grandes zebras dessa pós-temporada.
As leituras do camisa 17 parecem incompletas. Se a primeira opção de recebedor na jogada não está livre, procura o checkdown. E em várias terceiras descidas, esses passes curtos iam no tornozelo do recebedor, sem chances de recepção. Um amigo meu, torcedor do New England Patriots, comentou durante o jogo que era só forçar Osweiler a passar a bola. Ele disse isso logo antes da interceptação no terceiro quarto, um passe longo interceptado pelo free safety Devin McCourty. Quando DeAndre Hopkins passa para além da casa das dez jardas, parece que o camisa 17 entende que ele estará livre de qualquer forma, e força o passe ignorando completamente a cobertura do safety. Quatro anos “aprendendo” como reserva de Peyton Manning e ele não leu a cobertura do safety. Particularmente, acho duro de engolir.
A segunda interceptação da noite, apesar de ter sido um passe desviado por DeAndre Hopkins, acontece após um passe muito alto, inalcançável quase, que o camisa 10 tenta segurar. Logan Ryan aproveita a bola pendurada e retorna a interceptação para dentro da linha de cinco jardas. No final do jogo, a interceptação mais grotesca, ao meu ver. Um passe forte, fundo, para o tight end que nem chega perto do alcance de Ryan Griffin. Devidamente interceptado, obrigado.
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O pior de tudo é que falar das interceptações em si é o menor dos problemas. O que castigou o Houston Texans neste sábado, e em toda a temporada, foi a imprecisão de Brock Osweiler. A dificuldade em acertar os espaços com um passe firme, de ler as coberturas e evitar as interceptações tolas. Se formos falar da mecânica, ela é horrível. Todo passe exige um esforço surreal, uma demora em levar o braço para trás, para cima e um release que sempre parece que Brock Osweiler está lançando o último passe da sua vida. Quando a mecânica faz essa volta toda, quando precisa de todo esse esforço, não há como se livrar rápido da bola. E isso faz toda a diferença entre um ganho de cinco jardas e um passe defletido, como foi o caso numa jogada no início do terceiro quarto.
A altura de Brock Osweiler sempre foi um atributo comentado. Dois metros e três de altura (6’8″) garantem que os passes estarão sempre altos, com menos chance de serem desviados na linha, e que ele enxergará sempre profundamente o campo. De nada adianta se você não consegue fazer as progressões, se movimentar no pocket ou ter qualquer precisão nos passes. Há duas semanas atrás, Bill O’Brien tinha declarado Tom Savage como um quarterback mais apto para conduzir o ataque do Houston Texans, e talvez ele devesse ter seguido as razões que o motivaram lá atrás na noite de ontem.
Brock Osweiler carrega o peso do mundo nas costas
Eu sei que parece uma perseguição ao quarterback do Houston Texans, mas não há como simplesmente deixar passar. Afinal, ele deixou o Denver Broncos depois de achar que poderia ser o titular na campanha vitoriosa do Super Bowl, querendo o contrato de um quarterback experiente, tarimbado. John Elway não ofereceu o que ele queria, mas o Houston Texans abriu os cofres e ele se tornou “o cara” da franquia. Ele buscou essa condição e, para bem ou para o mal, a encontrou. E ele precisa lidar com isso.
Eu tenho certeza que Brock Osweiler tenta nos treinos ser o melhor que ele pode. Ele tem consciência dos 72 milhões de dólares, do ódio dos torcedores, da pressão dos técnicos, do front office e das brincadeiras dos rivais. Deve ser difícil você saber disso tudo, se esforçar e simplesmente não ser bom o suficiente. É um peso e tanto para carregar, mas é um peso que os aspirantes a quarterback e quarterbacks precisam administrar.
A melancólica atuação contra o Houston Texans é um resumo de toda a temporada da equipe. Se Brock Osweiler veio como solução, ele é hoje mais um problema. Se ele será o titular em 2017, se trarão um veterano (Tony Romo?), se tentarão a sorte com Tom Savage ou selecionarão alguém no Draft, o front office da equipe descobrirá. A verdade é que Osweiler não era o que o time esperava, o que os torcedores imaginavam, ou, pior ainda, que ele mesmo achava. Após cinco anos de NFL, o camisa 17 precisa se redescobrir a tempo de se refinar e se tornar um signal caller capaz e bem sucedido.
