As críticas de Sherman: como recuperar a audiência da NFL?

Não tem nenhuma novidade em dizer que a NFL é a maior liga dos Estados Unidos. Líder em audiência lá (e com uma audiência crescente no Brasil, que levou até a NFL a fazer postagens em português em redes sociais), mercado bilionário e faturamento nas alturas – recorde atrás de recorde em todos os anos.

Com mais dinheiro entrando (a especialidade de Roger Goodell e o motivo de ele ser mantido como comissário pelos donos de franquia), problemas como imagem, punições e falta de tratamento correto com os árbitros eram ignorados pela maioria da imprensa – e dos donos. Só que, surpreendentemente, a audiência neste ano vem caindo e Goodell voltou aos holofotes, principalmente após as críticas contundentes de Richard Sherman.

Que Sherman não é muito fã do comissário todos sabemos. São críticas atrás de críticas que até merecem respostas em alguns momentos. Inteligente (formado em Stanford e conhece regras que a maioria não tem ideia), com bons argumentos (tanto é que já escreveu alguns textos para o site do Peter King) e influente devido ao seu nível de jogo, Sherman é a principal voz contrária as ações de Goodell – e sem ser um hater qualquer, vale a pena ressaltar.

O cornerback do Seattle Seahawks, nesta semana, voltou a criticar seu desafeto quando perguntado sobre o motivo da audiência estar mais baixa em 2016. Sherman falou que a liga “não é mais divertida”, que a NFL quer “controlar o produto” tirando a individualidade dos esportistas por causa da possibilidade de influenciar as crianças (mesmo que isso seja “hipócrita”) e grande parte da culpa disso é de Roger Goodell. Para Sherman, Goodell “não vem fazendo um grande trabalho” e a busca por proteger os quarterbacks não tem nada a ver com a segurança dos jogadores, e sim com pagar 20 milhões para alguém e ele “sentar no banco ou ir para a Injury Reserve por toda a temporada”.

Claramente as críticas são de alguém que não é muito fã do trabalho do comissário. Em uma época que o comissário da NBA agradou a todos com suas ações, a NFL se vê em uma situação com alguém que sempre tenta conter os problemas – e nunca arrumar de vez. Apesar disso, Sherman está incorreto no momento que diz que ele não vem fazendo um grande trabalho no todo: o papel de Roger Goodell para quem lhe paga – os donos – era aumentar a NFL, torna a marca global e fazer os lucros aumentarem – e ele fez exatamente isso até aqui.

Mesmo assim, a crítica tem muito fundo de verdade e ações irritantes da liga vem afetando uma audiência que espera por ações mais enérgicas por parte da liga. No longo prazo, isso pode importar.

O caso da arbitragem

Mesmo não sendo citado por Richard Sherman, um motivo que desanima boa parte da base de fãs é a situação da arbitragem que a NFL insiste em não resolver. O principal problema é a resistência absurda para profissionalizar o quadro de árbitros. A justifica é óbvia: sem profissionaliza-los é mais fácil renovar o quadro sem grandes dores de cabeça. O problema é que em um jogo cada vez mais rápido, árbitros amadores não conseguem se dedicar tanto quanto deveriam – e o resultado são as chamadas horrorosas dentro de campo.

No Brasil estamos acostumados com uma arbitragem amadora (tanto em campo quanto no sentido de serem profissionais), porém nos Estados Unidos algumas ligas, como a NBA, possuem seus árbitros em tempo integral – coisa que não acontece na NFL, na qual os árbitros têm outros empregos durante a intertemporada. Não que isto diminua os erros, mas ajuda ao grupo em se dedicar 100% a profissão, com o intuito de diminuir os erros. Este é um belo exemplo de economia burra por parte da NFL: com medo de uma organização da arbitragem mais efetiva (como é a NFLPA para os jogadores), a liga não profissionaliza seus árbitros e desvaloriza demais o seu produto.

E também não basta continuar com o comportamento amador: também é proibido criticar. Josh Norman tomou uma multa de 25 mil dólares no domingo por ter criticado a atuação da arbitragem contra o Cincinnati Bengals – jogo em que ele fez cinco faltas. A falta de individualidade dos jogadores aliada com a tentativa de não chamar a atenção para um sério problema: uma característica desta gestão que está cobrando o preço agora.

Casos fora das quatro linhas

Se tem um ponto que Sherman tocou e não seguiu com a linha de pensamento foi na parte da hipocrisia – ele apenas deu o exemplo das crianças assistirem e ter a propaganda da cerveja oficial durante as partidas. A hipocrisia da liga está manchando cada vez mais a sua imagem, principalmente por causa da punição para casos para violência doméstica.

A NFL não consegue lidar com estas situações. O caso Ray Rice é o que mais marcou a NFL nos últimos anos, só que isso se repete cada vez mais e a NFL não toma grandes atitudes – se o caso não chega na imprensa. O caso de Josh Brown, kicker do New York Giants, demonstra como as franquias e a própria NFL possuem problemas em saber o que fazer. A tentativa de tornar a NFL uma No Fun League enquanto falta efetividade em resolver estes tipos de situações só reforça a teoria de Sherman da hipocrisia.

A culpa é só de Goodell?

Óbvio que a culpa não é só de Roger Goodell pela baixa audiência. Grandes mercados (como Chicago, New York, San Francisco e, agora, Los Angeles) não estão tendo grandes temporadas. Até mesmo o Green Bay Packers e o Indianapolis Colts (outros mercados fortes) não estão no topo de suas conferências. O Pittsburgh Steelers, que vinha bem, passa por um momento conturbado – e é outra franquia com bastante torcida nacional. A exceção nesse sentido talvez é apenas em Dallas.

Isto abre espaço para mercados menores (como Atlanta, Oakland e Minnesota) que não chamam a atenção tanto da maioria dos fãs – apesar de eu achar este período de transição um dos mais divertidos das últimas temporadas. É algo perfeitamente natural na NFL e com o seu sistema equilibrado (visando um lucro coletivo), um efeito colateral que muitos gostam – mas que não é bom para os negócios.

O que fazer?

A esperança é que este desempenho aquém do esperado na audiência se reflita nos lucros da liga e, finalmente, os donos da franquia vejam que há algo de errado – e que precisa ser consertado. Money talks.

O argumento da No Fun League é extremamente batido, só que não é a principal razão pelos índices baixos. A falta de tato no que tange as punições fora de campo para jogadores com problemas domésticos e a efetividade em arrumar o problema da arbitragem afetam muito mais os números – que são o que movem a NFL.

No fim das contas Roger Goodell ainda tem muito crédito com os donos ao redor da liga e vai ser comissário por muito tempo ainda. O que resta é que esta pequena queda liga o alarme em seu escritório e ele resolva tomar atitudes mais drásticas para problemas tão antigos. Afinal é o lucro que move a NFL e é a falta de dinheiro entrando que pode modificar o jogo – foi assim com o passe para frente, com o incentivo ao jogo aéreo e não seria diferente agora. Se pegarmos o precedente dos últimos 95 anos, existe uma certeza: se apertar no bolso, a NFL vai se mexer. Aguardemos.

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