Avaliando a troca: Raiders aproveitam-se da novela Brown e Steelers colocam fim à sangria

Ex-Time
Pittsburgh Steelers
Para onde vai:
Oakland Raiders
Nota para os Raiders:
Ótima
Nota para os Steelers
Ruim (mas sangria estancada)

A melhor análise possível quanto à troca de Antonio Brown para o Oakland Raiders foi feita por Bill Barnwell, colega da ESPN americana, em texto publicado nesta madrugada. É um texto longo, mas para resumir, a troca sempre foi sobre dinheiro – mais do que chilique, “respeito” ou qualquer coisa do gênero.

Antonio Brown viu que as coisas estavam ficando desestabilizadas em Pittsburgh e resolveu capitalizar em cima disso.

Já há alguns anos a franquia tem o hábito de reestruturar contratos e “empurrar” dinheiro garantido para frente. Não é problema se você pretende ficar com o jogador: os Patriots fazem isso toda hora com Tom Brady. Mas praticamente só com ele.

No Heinz Field, é um expediente que a torto e direito é feito. Com Antonio Brown, não dá para julgar tanto: afinal, há seis meses atrás você receberia um tapa na cara se dissesse a qualquer torcedor dos Steelers que a equipe receberia apenas uma escolha de terceira e quinta rodada por um dos wide receivers mais talentosos da NFL. Como as coisas chegaram a esse ponto? Bom, expliquei no vídeo abaixo.

O estopim da novela foi na reta final da temporada passada. Com os Steelers caminhando para uma temporada sem , na quarta-feira antes da Semana 17, Antonio Brown deixou o treino e não apareceu até o domingo, no jogo contra os Bengals. Mike Tomlin, técnico dos Steelers, deixou Brown de fora da partida e daí para frente seguiram-se um festival de entrevistas e difamações por parte do recebedor. Em maioria, direcionadas a Tomlin e ao seu agora ex-quarterback, Ben Roethlisberger.



Por que o dinheiro é um problema?

De toda forma, fato é que isso tudo é sobre dinheiro. Quando eu disse que AB resolveu capitalizar em cima das rachaduras, é porque seu dinheiro vira garantido se os Steelers lhe trocarem – a situação fica muito mais cômoda. Expliquei aqui mais sobre, mas de toda forma basta saber que as garantias são “aceleradas” e “pingam” no momento da troca em vez de aparecerem na conta bancária de Brown.

A vontade dos Steelers em trocar Brown era tamanha que o time aceitou consequências absurdas para o teto salarial. Quando você troca um jogador, “acelera-se” as garantias. Então, 21.12 milhões do teto salarial de Pittsburgh viram dinheiro garantido para Antonio Brown. Na prática, os Steelers estão pagando isso para Antonio não jogar na Pensilvânia. 21 milhões. Algo sem precedentes.



“prmo"
Funciona assim: A + B = 21.12 milhões.
A= o que sobrou do bônus de dois anos atrás, 11,4 milhões.
B = o que sobrou do bônus do ano passado, 9,72 milhões.

Como Barnwell explicou: “Em parte por conta de preocupações com o cap, Pittsburgh esperou cinco anos, até o ano final do contrato, para dar uma extensão ao seu recebedor estelar. Muitos times esperam até o último ano do contrato para fazer isso, mas os Steelers deram uma extensão a Roethlisberger com dois anos faltando em seu contrato de calouro, em 2008.

Quando de fato eles deram Brown um novo acordo, eles montaram uma estrutura que é única aos Steelers. A maior parte dos times dão extensões para suas estrelas com bônus no início do contrato e garantem pelo menos dois anos de salário-base, o que faz com que seja extremamente provável que um dado jogador fique esses dois anos nesse dado time. Para um quarterback de franquia ou um jogador de talento transcendente como Brown, um time irá explicitamente garantir três temporadas ou estruturar o contrato de maneira que seja virtualmente impossível cortar esse jogador, por motivos de dinheiro preso no teto salarial. Em vez disso, os Steelers têm uma política de garantir apenas os bônus no primeiro ano de seus contratos“. (grifo meu).

Aí a equipe foi esticando esse bônus de acordo com a produção de Brown, mas o controle estava mais em suas mãos do que na do recebedor, por assim dizer. Os Patriots fizeram algo parecido com Rob Gronkowski. Mas a grande diferença é que o contrato de Gronk tem incentivos de produção. Bateu tal estatística? Dinheiro pinga na conta. No caso de Brown, não acontecia isso.

Ante essa situação e sabendo que estava ganhando menos dinheiro do que vale, somando-se a essa situação a personalidade de Diva que quase todo wide receiver tem na NFL, temos um barril de pólvora. Mas por que não explodiu antes? Simples. Enquanto há amor, tá tudo certo. Enquanto o time está indo aos playoffs, maravilha.

Com um Juju Smith-Schuster em ascensão, com James Washington draftado em 2018, com os 30 anos de idade chegando, com Roethlisberger tendo a “personalidade de dono do time” que tem, com o contrato estruturado da maneira que era e… Com o time sendo eliminado sem sequer ir aos playoffs, o barril explodiu.

A situação não deveria ter chegado ao ponto que chegou. Mike Tomlin, embora tenha um título de Super Bowl, não é o treinador adequado para administrar esse barril de pólvora. É o típico amigão da galera: enquanto as coisas estão bem, maravilha. Se estiverem ruins, não tem comando e tampouco legitimidade para dar bronca – porque é amigão demais. Aí a casa cai. Caiu.

Os Steelers conseguiram apenas uma escolha de terceira rodada e uma de quinta por um dos recebedores mais talentosos da liga. Nesse processo final, não têm culpa de conseguirem apenas isso. Brown vilipendiou toda e qualquer barganha que o time tivesse. O último ato da diva nessa novela foi bloquear uma troca para os Bills, como se tivesse uma cláusula para tal em seu contrato. Aí, os Steelers perderam o último poder que ainda tinham. Restava trocar para um dos poucos times ainda interessados, os Raiders. A preço de banana.

Estanca-se a sangria, ao menos. Mas não dá para dizer que, ante o cenário atual da AFC North, com Cleveland e Baltimore em crescente, os Steelers estão nas cortas. Não têm mais dois dos mais talentosos jogadores ofensivos da liga, um Ben Roethlisberger em reta final da carreira e inúmeros problemas na secundária e corpo de linebackers.

Raiders dizem obrigado

Não podemos analisar a troca de Antonio Brown à luz do que temos em relação às trocas de Amari Cooper e de Khalil Mack. Simplesmente porque Jon Gruden, Mike Mayock (o novo general manager) não poderiam imaginar que toda essa novela iria acontecer em Pittsburgh. Tampouco que poderiam trocar quase nada por um dos melhores recebedores da NFL.

Gruden consegue um ativo importante para o futuro, seja ele qual for. O Roberto já escreveu aqui sobre se os Raiders devem ou não trocar Derek Carr, mas fato é que a chegada de Brown é um termômetro para isso. São dois cenários possíveis e em ambos o recém-chegado é mais do que importante.

  1. Ou os Raiders mantém Carr para 2019 e ter um alvo como Antonio Brown é um excludente de “desculpas” para qualquer desempenho ruim do quarterback, ajudando na análise para sabermos que ele realmente é…
  2. Ou os Raiders trocam Derek Carr e Antonio Brown ajuda no desenvolvimento do quarterback calouro, seja Kyler Murray, Dwayne Haskins ou quem for.

Em qualquer um desses cenários, os Raiders se deram bem. Mas por que não avalio a troca como excelente para Oakland? Dois motivos me impedem de fazê-lo.

Primeiro porque AB tem 30 anos e essa idade costuma ser o “Cabo da Boa Esperança” para wide receivers e running backs. Depois dos 30, costumam entrar em declínio. Não há qualquer sinal de que isso vá acontecer com Brown, mas é sempre bom ter um pé atrás.

Mas, principalmente, porque Jon Gruden tem personalidade complicada. Ano passado pudemos ver como ele jogou Derek Carr embaixo do ônibus em diversas oportunidades. Chegou a discutir com ele na lateral do campo. Será que o mesmo não pode acontecer com Antonio Brown e sua personalidade igualmente forte?

Antonio Brown é como urânio. Se você souber administrá-lo, ele pode produzir coisas incríveis. Se não souber, explode tudo. Os Raiders têm urânio em seu vestiário. Cabe saber se Gruden será um gênio ou o equivalente ao Homer Simpson cuidando da segurança da Usina de Springfield.

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