A evolução de Josh Allen foi fantástica e o Buffalo Bills chegou pela primeira vez em mais de 25 anos a uma final de Conferência. Desta vez, ao contrário das quatro anteriores, o time não triunfou e chegou ao Super Bowl. De toda forma, nem só de lamentações é feita a vida do torcedor de Buffalo – considerando tudo o que passou nas duas décadas anteriores, o saldo é extremamente positivo.
Quais eram as expectativas do torcedor para 2020: Com a saída de Tom Brady da AFC East e a melhora que os Bills tiveram na temporada passada, era um tanto quanto esperado que o time brigasse forte pela divisão – entrando potencialmente como favorito aos olhos do torcedor. Este, que sempre tivera um carinho enorme por Josh Allen, esperava que o quarterback seguisse sua evolução no terceiro ano de NFL.
Quais eram as nossas expectativas para 2020: Era uma expectativa semelhante, embora não considerássemos tão certa a evolução de Josh Allen – mais sobre abaixo. “Diante da qualidade ofensiva e defensiva, os Bills não podem mirar baixo em 2020. Conquistar a divisão é o mínimo, vencer uma partida de pós-temporada após 25 anos é essencial e o potencial para chegar à final da AFC existe, se – e aqui temos um gigantesco “se” – Josh Allen não comprometer”.
O que aconteceu: Não existe o prêmio de Most Improved Player (MIP) de maneira oficial na NFL e portanto não vamos citá-lo na semana de prêmios (ou vamos, sei lá, podemos inventar regras). Então vou aproveitar para falar sobre aqui. Josh Allen provavelmente seria o eleito para tal prêmio, uma consolação mais do que merecida caso ele não seja o MVP. Allen saiu de 58,8% de passes completos para 69,2% – um salto faraônico. Nos números de touchdowns/interceptações, saiu de 20-9 para 37-10 – ou seja, ele saiu de 2,22 touchdown para cada interceptação para 3,7, um aumento de 1,5 (aproximadamente). É um salto pra lá de relevante e fazia tempo que não víamos isso.
Nos últimos anos, perdemos a paciência com quarterbacks. Até o incrível Draft de 2004 (Eli/Rivers/Roethlisberger) era natural esperar pelo menos três anos até descer a lenha nos quarterbacks. Até então, os passadores chegavam um tanto quanto crus do college, sendo que a tendência do esporte universitário era correr como se não houvesse amanhã. Com a proliferação das spread offenses e um aumento no volume de passes dos quarterbacks, no melhor “quanto mais você faz, melhor fica”, os passadores começaram a chegar mais prontos na NFL.
Por tabela, começou a ser comum que o quarterback fosse o Calouro Ofensivo do Ano, coisa mais rara anteriormente. Como objeto de estudo, senão, vejamos: entre 1994 e 2003, nenhum quarterback foi eleito Calouro Ofensivo do Ano. Entre 2004 e 2013, seis. Então, por conta desse viés “eles estão chegando mais prontos”, por contraste, analistas e torcedores perderam a paciência mais cedo do que deveriam com Josh Allen. Eu, incluso, faço minha mea culpa aqui. O ano de Josh Allen, portanto, é um paradigma muito importante para a análise de quarterbacks da NFL – a lição, creio, foi re-aprendida por todos nós.
Da derrota contra Kansas City na Semana 6 até a derrota para o mesmo time na final da AFC, os Bills perderam apenas um jogo – a derrota para Arizona numa Hail Mary. Depois desse jogo, a defesa terrestre – grande calcanhar de Aquiles da equipe – deu um salto de produção e voltou a figurar entre as melhores da liga. Na final da AFC, descontada a corrida de 50 jardas de Mecole Hardman, a defesa terrestre não comprometeu. Mas a estrutura defensiva, predicada em geração da pressão por meio da blitz, foi problemática para enfrentar Patrick Mahomes. Ademais, os linebackers acabaram sofrendo contra Travis Kelce – como sofreram o ano inteiro contra tight ends, sendo a segunda defesa da liga que mais tomou jardas da posição. O jogo terrestre, tão essencial para tomar conta do cronômetro e tirar Mahomes de campo, também sumiu.
Há esperança para 2021? Certamente. Pelo clima de Libertadores que tivemos no Arrowhead ao final do jogo e a postura de Stefon Diggs, que foi anulado pelos Chiefs mas que liderou a liga em recepções e jardas recebidas, dá para perceber que a grande ameaça a Mahomes & Amigos na AFC é o Buffalo Bills. Não entendeu a referência? Diggs ficou no campo vendo os Chiefs levantarem o troféu de vencedor da Conferência Americana. Prepare-se para futuros duelos pra lá de interessantes entre os dois times na próxima temporada – já é garantido que eles se enfrentem na temporada regular de novo, dado que ambos foram campeões de divisão.
O que precisa mudar urgentemente no time: É necessário mais recursos no jogo terrestre – Zach Moss machucou e fez falta, ademais, precisamos lembrar que a linha ofensiva não fez um trabalho tão bom abrindo espaços para corridas e também em certos momentos na proteção a Allen. Do outro lado, fica mais do que urgente trazer um pass rusher de calibre para pressionar Mahomes sem blitz. O paradigma de chegar aos playoffs, vencer a divisão e voltar à final da AFC pela primeira vez desde 1993 já foi superado. Agora precisam fazer o que fizeram naquele ano: bater os Chiefs.
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