Cada vez mais torna-se claro o quão difícil é manter um nível defensivo de elite na NFL. Basta lembrar das últimas melhores unidades da liga e por quanto tempo estiveram no topo. Está difícil? Eu te ajudo. Em 2018, foi o Chicago Bears, equipe que manteve um nível bom em 2019, mas ainda longe do auge. Em 2017, foi o Jacksonville Jaguars que viu sua unidade se desmanchar com as saídas de Jalen Ramsey, A. J. Bouye e Yannick Ngakoue, perdendo muita força na última temporada. O Denver Broncos foi uma das poucas equipes capazes de repetir o feito, em 2015 e 2016, mas viu o nível defensivo decair conjuntamente à queda de patamar da franquia e a unidade estagnou alguns níveis abaixo das atuações realizadas pela famosa No Fly Zone.
Ainda que a frase “ataques ganham jogos, mas defesas ganham campeonatos” possua um alto teor de farsa – como foi possível observar no Super Bowl LIV -, ela possui um fundo de verdade: saber enaltecer um ponto de um time que costuma ser menosprezado pelos olhos comuns. Basta pensar no futebol da bola redonda: no confronto de oitavas de final desta semana na Champions League, o Atlético de Madrid eliminou o Liverpool com Diego Simeone sabendo usufruir de um estilo defensivo de jogo, ainda que isso tenha rendido críticas por parte dos fãs do esporte. Assim, resta entender os motivos pelos quais não é possível manter uma defesa de elite por muito na NFL e qual as consequências nos objetivos anuais das franquias.
O salary cap e o novo CBA
Criado para ser uma ferramente para impedir dream teams, o salary cap é o que impede as franquias de manter defesas de alto nível por anos em sequência. Por que isso ocorre? Porque, para que uma defesa se mantenha entre as melhores da liga, é necessário que haja atletas de qualidade em todos os setores: na linha defensiva, no grupo de linebackers e na secundária. Diferentemente do ataque – em que um grande quarterback é capaz de elevar o nível de uma unidade mediana – a defesa precisa operar em conjunto, como um relógio suíço, pois, se uma engrenagem não estiver funcionando bem, o relógio sempre irá atrasar.
Com isso, manter uma defesa completa de elite é impossível e, para que a unidade não decaia rapidamente de nível, é sempre necessário buscar jogadores por meio do Draft, pois representam um baixíssimo custo/benefício. Uma eventual mudança que acontecerá nesta intertemporada da NFL, porém, alterará os rumos da folha salarial e pode facilitar a manutenção de boas defesas por uma quantidade maior de tempo.
Com a aprovação do novo Acordo Trabalhista (CBA), o aumento da folha salarial das franquias será exercido, pois o maior número de partidas exigiria aumento no número de atletas e, portanto, um espaço maior para acomodar os salários desses. Dessa forma, com um crescimento no salary cap disponível, a manutenção de estrelas defensivas tornaria-se mais fácil e a unidade não mais precisaria ser negligenciada em prol do ataque – como o Dallas Cowboys fez ao não renovar com Byron Jones em prol das renovações de Dak Prescott e Amari Cooper.
Os problemas de hoje e os reflexos no amanhã
Como já dito, hoje é impossível manter uma janela defensiva por muitos anos devido à relação de custo de oportunidade atual da NFL. Ainda que as defesas tenham importância, o que impera é o jogo aéreo e cada vez torna-se mais claro que o impacto de um bom quarterback no sistema como um todo é maior do que dois ou três jogadores de defesa somados. As defesas de Jaguars, Bears e Patriots foram fenomenais nos últimos anos, mas não foram capazes de carregar Blake Bortles, Mitchell Trubisky e Tom Brady em uma fase ruim, respectivamente.
Com isso, o custo de oportunidade de pagar vários jogadores defensivos é muito alto, pois deixarei de investir no entorno de meu quarterback, a peça que sempre fará a maior diferença dentro das 100 jardas, para investir em nomes defensivos que são bons, mas que precisam de mais auxílio para transformar o nível da defesa do que um signal caller necessita para mudar o ataque. Dessa forma, as franquias, atualmente, sempre preterirão os contratos defensivos em prol de evitar reflexos ofensivos negativos no amanhã, o que minaria eventuais chances de pós-temporada.
Portanto, não há solução? Se a proposta for: estender janelas defensivas por anos a vir sem prejudicar a franquia, a resposta é não. Mesmo com o aumento do salary cap, via novo CBA, os valores dos contratos aumentariam e pouco poderia ser adicionado às defesas. Há, contudo, uma possibilidade para evitar a manutenção de unidades fracas, as quais se tornariam o calcanhar de Aquiles de ataques poderosos – como a defesa dos Chiefs foi para a franquia na temporada de 2018.
Mantenha seus jogadores defensivos chaves e de posições primordiais – ou seja, excelentes pass rushers e bons defensive backs que sejam versáteis – para que um bom nível possa ser mantido na unidade. Foi o que o atual campeão realizou em 2019: pagou Frank Clark e Tyrann Mathieu na free agency e, contando com outros bons nomes na unidade, a defesa deixou de ser o ponto fraco de Kansas City. É impossível que a franquia mantenha Patrick Mahomes, Travis Kelce, Frank Clark, Tyrann Mathieu, Chris Jones e outros nomes, ao mesmo tempo e com salários altos. A franquia, contudo, pode realizar um planejamento no qual os principais nomes sempre permaneçam para manter o nível da unidade, o que não a deixará sempre na elite da liga, mas sempre evitará que essa se torne a fonte das derrotas.
Leia também:
POR QUE NICK FOLES NÃO DEU CERTO NOS JAGUARS? 🏈







