Como uma interceptação pode ter custado milhões de dólares à Kirk Cousins

A última semana da temporada regular registrou um fenômeno curioso: jogadores perdendo milhares de dólares por conta de apenas um lance. O caso mais dramático sem dúvida foi o de Adam Vinatieri. Ao errar um chute de 48 jardas diante dos Jaguars, o kicker viu seu aproveitamento no ano ficar abaixo dos 90% e por isso perdeu um bônus de 500 mil dólares. Outro exemplo triste foi o de Marcus Sherels, atleta dos Vikings. Se terminasse a temporada liderando a liga em média de jardas de retorno por punt, Sherels receberia uma bônus de 100 mil dólares. Isso estava acontecendo até o final da tarde de domingo, quando Tyreek Hill retornou um punt 95 jardas para touchdown no jogo entre Chiefs e Chargers, ultrapassando a média de Marcus.

Entretanto, por piores que estes dois casos de dinheiro escorrendo pelas mãos tenham sido, eles ainda assim não devem chegar perto do estrago feito pela interceptação lançada por Kirk Cousins no final do duelo contra os Giants. Além de definitivamente fechar o caixão de Washington em 2016, acabando com as chances de playoffs da equipe, o turnover também pode ter custado milhões (e não milhares) de dólares ao quarterback na forma de um novo contrato.

Veja bem, o problema em si não é exatamente a interceptação. A questão maior é que ela coloca em dúvida o status de franchise quarterback de Cousins, justamente no momento em que ele busca assinar seu primeiro vínculo de longa duração. Se tivesse vencido New York, Kirk seria o signal caller responsável por levar os Redskins duas vezes seguidas à pós-temporada. Hoje, ao invés disso, muitos o consideram um dos principais culpados pela eliminação, pois cometeu um turnover bobo quando, na pior das hipóteses, precisava apenas andar algumas jardas para chutar um field goal e empatar a partida.

A atual situação de Cousins e Washington

No último mês de março, Cousins recebeu a franchise tag, ou seja, um contrato especial de um ano com Washington, que na prática significava um período de “estágio probatório” no qual a franquia teria tempo para avaliar se ele era mesmo a solução em longo prazo. Lembremos que, em 2015, o quarterback tinha tido uma temporada excelente, porém mesmo assim os Redskins não sentiram segurança na hora de lhe dar um caminhão de dinheiro.

Terminado o ano de testes, a impressão é que Cousins passou, mas com algumas ressalvas. A principal delas já comentamos acima. Na partida de vida ou morte contra New York, um jogo de mata-mata, o signal caller falhou. Além disso, Kirk teve atuações abaixo da média em três das últimas cinco partidas da equipe em 2016 – por coincidência ou não, três derrotas de Washington (Cardinals, Panthers e Giants).

Por outro lado, não podemos simplesmente ignorar os números excelentes do quarterback. Cousins quebrou vários recordes aéreos da franquia, incluindo o de mais jardas passadas em uma mesma temporada (4,917). Também terminou com um ótimo rating geral de 97,2 pontos, 67% de passes completos e uma proporção de 25 touchdowns e 12 interceptações. Em suma, ele esteve longe de ser o maior culpado pelo fracasso do time.

Vamos então às opções de Washington. Em primeiro lugar, a equipe pode deixá-lo ir embora. Digamos que o general manager Scot McCloughan tenha ficado tão bravo com o colapso de Cousins na semana 17 que não queira mais vê-lo nem pintado de ouro. Neste caso, a franquia teria que começar tudo de novo com um calouro ou investir em algum veterano na Free Agency. Antes que alguém fale em Tony Romo, vamos analisar com calma. Mesmo que esteja disposto a trocá-lo com alguém, qual a chance de Dallas fechar negócio com um rival de divisão? E tirando Romo, que nem sabemos se será mesmo trocado, qual seria a outra alternativa confiável em um mercado de free agents com Mike Glennon, Brian Hoyer, Ryan Fitzpatrick etc.?

Certo, a primeira opção não parece ser muito vantajosa para um time que busca resultados imediatos. Já a segunda é fazer o simples: manter Cousins e confiar no seu desenvolvimento. Caso opte por isso, Washington poderá agir de duas maneiras: um contrato de longa duração ou uma segunda franchise tag. No último caso, o valor da tag pularia de 19,95 para 23,94 milhões de dólares, um acréscimo de 120% de um ano para o outro. A opção de trazer Kirk de volta, em nossa opinião, é a correta e a mais provável de acontecer.

Mas como então aquela infame interceptação atrapalhará Cousins?

Kirk Cousins mais cedo ou mais tarde acabará recebendo um contrato gigante, seja com os Redskins, seja com qualquer outro time em uma eventual ida à Free Agency. Vivemos em um mundo onde Brock Osweiler assinou um vínculo de 72 milhões, então podemos dizer que talvez quarterbacks as vezes sejam supervalorizados. Para tê-lo por perto por várias temporadas, Washington inevitavelmente terá que oferecer um acordo perto dos 100 milhões totais com uma média anual na casa dos 22, 23 milhões de dólares, pois esse é o preço atual de um franchise quarterback.

O possível problema para Cousins será definir o quanto do seu dinheiro será garantido, e aí volta à tona a questão da interceptação. As franquias fazem jogo duro nas negociações e só garantem grandes quantias para atletas que são “certezas”, afinal todo mundo sempre quer fazer o investimento mais seguro possível. Ao cometer um erro que custou a chance do seu time ir aos playoffs, Kirk colocou um inconveniente ponto de interrogação sobre sua cabeça.

Para explicar melhor nosso ponto, vamos usar como exemplo os contratos de dois outros quarterbacks. Em 2015, Ryan Tannehill fechou com os Dolphins uma extensão contratual de quatro anos, 77 milhões totais e 11 milhões de bônus de assinatura – as chamadas “luvas”, ou seja, uma quantia totalmente garantida que o atleta recebe por ter assinado o acordo. No ano passado, Andrew Luck renovou com os Colts por cinco anos, 122,9 milhões totais e 32 milhões de luvas. Fora o valor total, a principal diferença entre os vínculos reside nos montantes inicialmente garantidos: Tannehill tinha apenas 21,5 milhões, enquanto que Luck 44 milhões.

Ora, Luck é um quarterback bem mais confiável do que Tannehill, logo Indianapolis lhe ofereceu muito mais dinheiro certo. Miami, por sua vez, preferiu não se arriscar tanto, de modo que poderia mandar Ryan embora sem maiores prejuízos financeiros se as coisas dessem errados.

A interceptação lançada por Cousins, e tudo o que ela representa, deve tê-lo feito mudar de patamar, saindo da categoria de Andrew Luck e entrando na de Ryan Tannehill. Esse é o prejuízo. Essa é a diferença entre levar sua equipe à pós-temporada e cometer um turnover crucial. O efeito possivelmente não será tão sentido em valores absolutos, mas sim em termos de dinheiro garantido.

Quer dizer, toda essa projeção só vale se Washington estiver disposto a oferecer um acordo de longa duração. Talvez, visando ter mais um ano para pensar na vida, a franquia opte por uma nova franchise tag, embora o valor de quase 24 milhões represente uma quantia considerável. Seja como for, Cousins terminou 2016 com menos hype do que há um ano e ainda com várias dúvidas pairando ao seu redor.

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