Crônica: A Insônia do Kickoff

São quatro da manhã e eu não consigo dormir de jeito nenhum. O que é horrível, porque tenho aquela teoria besta de que só é amanhã quando a gente acorda. E se eu não dormir e não acordar, não é o dia que ela volta.

Demora para ela voltar. Nenhum outro apaixonado por um dado esporte espera tanto tempo. Mesmo que não acreditem que existe amor à distância, ela nos testa com um beijo doce em fevereiro para só voltar seis meses depois. Testa e vence, inexplicavelmente. Até rola uma visita em abril, mas… Falta alguma coisa. Falta aquela coisa que só aparece em setembro – e por mais que digam que setembro sempre chega, mesmo quando calendário vira de agosto para ele, o tal do setembro ainda permanece distante.

Com todo respeito a quem tem o futebol, a o basquete profissional da NBA ou o beisebol da MLB como seus esportes preferidos: mas a vida de vocês é muito fácil.

Eles entram de férias por um tempo curto, quase não dá tempo para sentir falta. A gente? Bom, a gente sofre longos seis meses. Parece quando a gente tá namorando na faculdade e o amor da sua vida fala que vai fazer intercâmbio. Você deixa ela no aeroporto para só ver seu rosto novamente um semestre depois.

E aí, chega hoje, a madrugada da véspera de quando vamos buscá-la. Por ironia, ela estará do mesmo jeito que você a encontrou. Sua conversa principal continua sendo num estádio a noite, com Broncos e Panthers em campo. Desta vez não vale tanta coisa como quando você disse aquele “até breve”.

2016 marca a 15ª temporada da NFL que assisto desde o início, a quinta que acompanho escrevendo no site e a terceira na qual me faço presente com minha voz servindo ao esporte de alguma forma, na TV. Em todas elas, a antecipação e a insônia esteve presente. Sabe quando você era criança, que ficava sem dormir antes de uma excursão da escola? Quando você ficava girando na cama, imaginando como seriam as conversas, como seriam as risadas e as brincadeiras? É mais ou menos isso que sinto neste momento. É mais ou menos o que sinto em setembro.

Eu tentei dormir. Aí lembrei do Super Bowl, tentei pensar o que escreveria hoje (tá, amanhã, porque ainda não dormi). Tentei imaginar como seria a partida, se a secundária jovem dos Panthers venceria o duelo contra o também jovem Trevor Siemian. Não cheguei a muitas conclusões, isso tudo apenas me deixou agitado e com ânsia para que a temporada comece logo. A gente não sabe quais serão as risadas, quais serão as conversas, quais serão as zebras.

A gente só sabe que vai acontecer. Que quando acordarmos, ela não nos deixará mais neste ano. Que quando acordarmos, teremos o que fazer aos domingos, às segundas, às quintas. Que quando acordarmos a partir de amanhã, será com sono porque o horário de verão faz com que fiquemos como zumbis esperando o último apito após o último tackle. Simplesmente, que vamos acordar desta intertemporada tão longa que nos pune com saudade todos os anos.

Eu achava que não estava com saudade até te ver de novo. Não vai mais embora não, NFL.

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