Crônica: Andrew Luck é humano, assim como nós

O quarterback dos Colts tinha todo o direito de se aposentar e fazer o que era o melhor pra ele, gostem os fãs ou não

Na forma de uma sociedade, tendemos a pensar que toda a forma de entretenimento é uma espécie de posse. De certa forma é algo irracional, mas costumeiramente acontece – e não só no entretenimento: você já se sentiu incomodado porque um funcionário de algum serviço público que você necessitou não te atendeu com toda a simpatia do mundo naquele específico dia? Pois é.

Ao mesmo tempo, somos todos indivíduos. Cada um de nós carrega uma história, uma dor, uma alegria, algo de que se orgulha. É o que nos faz seres humanos: a capacidade de racionalizar. É por isso que somos responsáveis por nossas próprias ações, nossos próprios modos de viver e tudo que representa nossa matéria.

Todos nós temos nossas lutas. Andrew Luck é um de nós.

Sinceramente, não importa se você é um fã do Indianapolis Colts ou não: Andrew Luck tomou a decisão correta de anunciar a aposentadoria. Ele decidiu que, depois de quatro anos de seguidas lesões, de seu time negligenciar ao longo de quase toda a década sua proteção, que era demais. Ele tinha uma lesão na intertemporada e decidiu que não queria submeter novamente o corpo dele a todo o processo de reabilitação que enfrentou por conta de sua antiga lesão no ombro. Era demais pra ele. Quem poderia julgar?

Eu sei, você sabe, Andrew Luck era um grande quarterback. Simplesmente fantástico jogando e sem dúvida alguma fez parte da elite da liga em seu auge. Fora do campo, não é segredo pra ninguém que Andrew realmente ama arquitetura; ele já declarou publicamente que quer viajar e conhecer o mundo. Graduado em Stanford, não é nenhuma surpresa ele ser tão inteligente.

Acontece que, com a jersey ou não, Luck ainda é um ser humano. Como ele mesmo declarou, da forma que ele está enfrentando as lesões hoje, ele não consegue se ver levando a vida que deseja no futuro. E quem poderia julgar se ele prefere qualidade de vida? Andrew não é um boneco criado para levar entretenimento aos fãs: ele é um ser humano.

E nós, como seres humanos, precisamos ser mais empáticos uns com os outros – e isso significa não vaiar (ou xingar nas redes sociais) um jogador que tanto deu para sua franquia e que sucumbiu mentalmente às lesões. Luck decidiu que o mais importante para ele era seu bem-estar. Dinheiro? Nah, ele veio de uma família de boa condição, estudou em Stanford e acumulou perto de 100 milhões de dólares enquanto quarterback do Indianapolis Colts. Como falou Jim Irsay, dono da franquia, Luck está deixando praticamente meio bilhão de dólares; se o jogador decidiu que não vale a pena, quem somos nós pra julgar?

As vaias para Andrew Luck no Lucas Oil Stadium ao fim do confronto de pré-temporada, quando a notícia que o jogador se aposentaria já havia sido reportada por Adam Schefter, foram patéticas. Xingar o jogador por essa decisão por ele estar “prejudicando seu time” também não é nada legal. Luck ouviu as vaias. E, como ele bem disse em sua coletiva na noite de sábado, elas machucaram.

O exemplo besta no início do texto? Bem, antes de qualquer julgamento interpessoal, ninguém sabe o que acontece na vida do outro. No caso de Luck, ninguém além dele mesmo sabe como ele se sentiu mentalmente a ponto de não sentir mais amor pelo futebol americano e anunciar a aposentadoria. E ninguém pode julgar a escolha dele: somos humanos, temos acertos e falhas. Se o jogador quer priorizar sua saúde, ele está mais do que certo de se aposentar mesmo tão jovem.

Você foi um jogador fantástico, Andrew. Aproveite a aposentadoria.

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