Crônica: É fácil tacar pedra, mas talvez Odell seja só um jovem aprendendo com os erros

Odell Beckham Jr. é mais novo do que eu. Ainda me assusta essa proposição, porque eu comecei a acompanhar a NFL quando ainda era praticamente criança. Ver atletas mais novos e bem sucedidos é meio maluco para mim – mas é a lei da vida. Enfim, a crônica não é sobre mim, é sobre ele.

Conheci Odell quando ele ainda era um talentoso e pirotécnico recebedor de LSU. Melhor da classe enquanto prospecto? Difícil dizer naquela época, a classe de 2014 do Draft da NFL era um tanto quanto talentosa. Os Giants não pareciam precisar de recebedor naquele momento. Victor Cruz ainda não tinha problemas com lesão e era considerado um dos melhores na posição. Pareceu um “luxo” desnecessário para New York. Pareceu, ademais, que Odell demoraria para sair da sombra de Cruz – o que seria o processo natural.

De repente, veio aquela recepção contra os Cowboys. Eu transmiti esse jogo aqui para o Brasil, aliás. Na mesma hora que vi lances que ocorriam em LSU, mas potencializados, lembro que a primeira coisa que me veio à mente foi uma frase de James Hunt (campeão mundial de Fórmula 1 em 1976 e comentarista da BBC nos anos 80) quando da primeira grande atuação de Ayrton Senna, no Grande Prêmio de Mônaco. Tal qual Hunt disse “We’re watching the arrival of Ayrton Senna”, tomei de suas palavras para dizer naquele dia que estávamos testemunhando a chegada de Odell Beckham Jr.

Depois daquele dia, nada foi o mesmo na carreira dele. Beckham Jr foi capa do Madden no ano seguinte – e venceu a maldição – e continuou a  postar números impressionantes. Uma bela tarde de domingo, entrou na pilha de Josh Norman, cornerback ainda com o Carolina Panthers. Empurrou, foi empurrado, provocou, foi provocado. O foco, tão desnecessário, foi para o espaço.

Foco é essencial para o futebol americano bem jogado. No livro “Halas by Halas”, o lendário dono, técnico, fundador, membro pioneiro da brigada de incêndio e todo o mais do Chicago Bears, George Halas, compartilha conosco algumas palavras sobre isso.

“O jogador que tiver essa qualidade (concentração) saltará aos olhos no primeiro dia de treino. Sistemas modernos de futebol americano são complicados em seus métodos ofensivos e defensivos (…) É essencial que cada atleta saiba toda jogada precisamente, exatamente, imediatamente, e sem qualquer dúvida de como ela se executará”. Ainda, Halas comenta sobre o aspecto mental do jogo. “A força e o caráter do elenco determina a força e o sucesso do time. Este elenco de 1962 tem grandes possibilidades. Você pode ter velocidade, peso e habilidade, todas as qualidades físicas que fazem de um atleta alguém bom. Entretanto, homens não são máquinas, o mesmo se aplica para um time. Deve haver algo inerente ao homem que faça com que o time vá para frente”.

Manejar o ego não é fácil, vão por mim. Muitas pessoas que nem te conhecem criticam seu trabalho, outras te elogiam. Algumas vagamente, outras de maneira mais concreta. Outras, comparam seu trabalho com o de outros colegas de profissão. Em resumo: lidar com isso quando se é jovem está longe de ser fácil. Dado que o aprendizado de “vida” geralmente vem por conselho, reflexão ou tentativa-erro, natural que pessoas mais jovens quebrem mais a cara e façam mais besteira.

Parece o caso dele. Aprender com os erros pode ser a constante daqui para frente. Odell foi “catapultado” de maneira quase que nunca antes vista ao estrelato. Ele teve uma jogada que praticamente nunca foi vista antes. Ele se tornou uma estrela “física” antes que o aspecto mental estivesse pronto. Honestamente? Não lhe julgo.

É fácil tacar pedras, chamar ele de estrelinha, de “Neymar da NFL” e conexos. Isso é o que salta aos olhos, é o óbvio. Difícil, mesmo – como a maior parte das interações sociais da vida – é se colocar no lugar dele. Sabe qual o nome disso? Empatia. Cada vez menos pessoas tem essa qualidade – e em comentários na internet ela é completamente ausente, convenhamos.

Esta semana é crucial para ele.

Na semana que vem, o New York Giants joga no Sunday Night Football contra o Green Bay Packers naquela que é a “partida da Semana” nos EUA – um jogo a noite, sem nenhuma concorrência e com transmissão em TV aberta. O país todo estará de olho nele. Os cornerbacks adversários estarão de olho nele e sabem que o jeito mais fácil de anulá-lo não vem sendo “na bola”, mas “na cabeça”. Até pouco tempo atrás, ele era uma montanha russa de emoções – mas produzia. O grande ponto, que ele tem de entender, é que não são os adversários que estão lhe prejudicando. Nem a arbitragem. Muitas vezes nós mesmos nos auto-sabotamos.

Novamente, parece ser o caso dele.

Ao invés de tacar pedras ou criticá-lo, eu vejo um jovem numa espiral negativa e que não consegue se focar porque o emocional está atrapalhando. Espero do fundo do coração que ele consiga domar esses demônios – hoje, semana que vem ou alguns anos depois, tal qual foi o caso de Randy Moss. Ele é muito talentoso para perder tempo com isso. No final das contas, só uma pessoa pode ajudar Odell. E tal qual nós mesmos, mortais, em nossos problemas, essa pessoa é ele mesmo.

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