Crônica: Estamos juntos de novo

Fazia nove anos que eu estava longe de você.

Muita coisa aconteceu até este momento. Sinto dor. E não sinto a ponta dos meus dedos. Preciso operar meu quadril, meu pé mal consegue se plantar no chão. Tudo dói. O coração, não. O coração, se sente aliviado.

Não que ele bombeie sangue do mesmo jeito que nove anos atrás, quando nos encontramos pela última vez. Não que meu corpo esteja da mesma forma. Mas o frio na barriga, a preparação, a determinação, essas são as mesmas. A ética, idem.

Não preciso que digam que eu sou o melhor da história ou qualquer outra coisa do gênero. Podem dizer que sou velho, que lanço patos mortos. Que fui carregado pela defesa mesmo se esquecendo que muitas e muitas vezes fui eu quem carregou as defesas de meu time.

Não preciso de mais um snap, não preciso de mais um omaha, não preciso de nenhuma afirmação. Porque agora ninguém, absolutamente ninguém, vai me tirar de perto de você. Foi difícil a espera. Meu corpo foi punido. Meu nome foi punido. Mas tudo vale a pena no final. Se a vida está fácil é porque alguma coisa está errada. Agora eu tenho você novamente.

Em 2007 perdi para San Diego; Em 2008 também. Em 2009 cheguei perto de estar com você mais uma vez – tudo foi por água abaixo. A derrota, o retorno para a história, construiu meu caráter ainda mais. Em 2010 perdi para Rex Ryan. Em 2011 meu pescoço não aguentou e preferiram a juventude – tudo bem, são negócios, eu entendo. Voltei com sangue laranja, mas sem esquecer do meu coração pulsando azul quando te vi pela última vez, de quando senti cada contorno do seu sorriso prata pela última vez. 2012, 2013, 2014…. Cheguei tão perto.

De repente, quando ninguém mais acreditava que iríamos nos encontrar, o destino fez com que você voltasse para meus braços. Joguei bem? Não. Isso também pouco importa. Tantas e tantas guerras são vencidas sem que o general imponha um ferimento sequer no campo de batalha. Mas eu tenho certeza que os soldados que lutaram ao meu lado o fizeram com união e vontade como poucas vezes se viu em encontros com você. Não importa que não impus ferimento ao adversário, importa o sentimento que coloquei no coração de meus companheiros de time.

Agora tudo pode acabar, agora as luzes podem se apagar. Eu ainda não sei se vou tentar te encontrar novamente, porque tudo dói e a idade pesa. Talvez seja melhor que minha última foto com minha armadura seja te olhando nos olhos. Sentindo seu peso, sentindo a alma de todos que já batalharam para estar aqui.

O caminho não foi fácil. Mas nos encontramos no final das contas. Estamos juntos de novo, Vince Lombardi Trophy.

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