Crônica: Stay Classy, San Diego

Por inúmeros motivos que não cabem agora, me mudei várias vezes durante minha vida. Morei o início da minha infância no interior, depois fui para uma cidade maior – e minha adolescência em São Paulo. Na época do vestibular, acabei voltando para o interior – e por lá, durante a faculdade, me mudei três vezes. Se mudar é um saco, não vamos enrolar aqui. Mesmo quando é para um lugar mais legal – como foi meu caso algumas vezes – tem todo aquele trabalho de empacotar as coisas, fazer a vistoria na imobiliária e todo o mais.

Foi por isso que me identifiquei com a imagem de Eric Weddle. Mesmo que os Chargers não se mudem de San Diego para a próxima temporada – tudo deve começar ser definido em reunião dos Donos de Franquia da NFL, a qual ocorrerá em janeiro – é praticamente certo que Weddle irá para a Free Agency. Identifiquei-me porque sempre que me mudei, repousei em silêncio no chão. O ato não tem muito de racional; Tudo o que vivemos é uma construção de nossas cabeças. É uma pré-definição. Se você se muda de apartamento na mesma cidade, poderia considerar que não mudou de cidade. Ou se mudou de cidade, não mudou de país. Mas há um denominador em comum mesmo se você quiser atenuar as coisas: mudar.

O ser humano odeia mudanças. Término de namoro, mudança de carro, a maioria das pessoas se apega ao antigo por uma questão praticamente intrínseca à natureza de ser humano. Geneticamente falando, nossa essência é a mesma daquela que se apresentava milhares de anos atrás, quando era necessário fincar acampamento – caso contrário o desconhecido poderia literalmente significar a morte num animal predador ou num outro agrupamento humano que buscava a dominação do território. Em 2016 Chargers, Rams e Raiders podem mudar e simplesmente dizer adeus às suas comunidades atuais para um mercado que nem de longe apresentou a mesma lealdade quando teve a chance. É verdade: os Chargers começaram sua trajetória em Los Angeles – mas foram acolhidos em San Diego quando eram uma criança em termos de franquia. Por lá ficaram. Lá viram o Balboa Stadium ficar pequeno para suas aspirações. Se mudaram para o que hoje é o Qualcomm Stadium. Elaboraram com Sid Gillman o que viria ser a legitimidade da AFL como um jogo competitivo através de um circo aéreo. Consolidaram tal reputação com Dan Fouts. Sofreram com Ryan Leaf e viram luz após o fim do túnel com Antonio Gates, LaDainian Tomlinson e Philip Rivers após Eli e Archie Manning lhes fechar a cara.

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Infelizmente é da natureza de nossa vida que as coisas mudem. Não é de nossa natureza, contudo, esquecer os que nos é querido. Mesmo não torcendo para os Chargers – seja Los Angeles Chargers ou San Diego Chargers – compadeço da confusão mental que deve habitar a cabeça dos torcedores aqui do Brasil. Desde o início do boom da NFL por aqui – que não por acaso coincide com o início das transmissões em 2006 direto de São Paulo – não temos nenhuma realocação de franquia no futebol americano profissional – algo que nos seus primeiros 90 anos foi algo até que comum. Só na década de 1990, para se ter ideia, os Oilers foram para Tennessee e se tornaram Titans. Os Browns foram para Baltimore e se tornaram Ravens – após, a NFL concedeu a Cleveland um novo Browns que até hoje não engrenou. Isso, não obstante, as mudanças de Rams e Raiders – que saíram de Los Angeles no mesmo ano, 1995, para ir até suas cidades atuais – resta saber até quando ficarão por lá. Como o torcedor irá reagir por aqui? Muitos escolhem suas franquias por conta de times da mesma cidade – Padres, no caso de San Diego e da MLB, por exemplo. Ou então porque gostam da cidade como um todo – um dado seguidor me disse que torce para os Chargers porque é biólogo e o zoológico da cidade é um dos mais importantes dos Estados Unidos. Outro, o qual não revelarei o nome igualmente, gosta muito do filme Anchormancom Will Ferrell – e o filme foi rodado em San Diego.

Como ficam essas pessoas?

Elas tem uma identificação com o San Diego Chargers, nome e sobrenome. Não só com os raios ou aquele uniforme powder blue. É triste que a mudança, algo que acaba sendo intrínseco à natureza da NFL e de seus sistema de franquias, ocorra. Mas num mundo onde o dinheiro sempre fala mais alto, acaba sendo a realidade amarga com a qual poderemos nos confrontar ano que vem. A letra de San Diego Super Chargers, aquela música grudenta que já paguei mico cantando em transmissão, diz que os Chargers têm um plano e o farão para seus super fans. Que plano acabará sendo este?

Na NFL há lugares que o torcedor se lembrará por toda sua vida, apesar de terem mudado. Algumas para sempre, não para melhor. Esses lugares tiveram seus momentos, com amores, derrotas, vitórias e amigos. Mas para os fãs dos Chargers, não há nenhum que irá se comparar com San Diego, e nenhuma memória perderá o sentido. Porque a família Spanos pode lhes tirar o uniforme; Mas a tempestade sobre estará sobre San Diego. Stay Classy.

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