Toda vez que um time tem um veterano “mais ou menos” e escolhe um quarterback na primeira rodada, a pergunta vem: quando o calouro será titular? Afinal, um time não gasta uma escolha assim ou não gasta capital de Draft para subir sem que haja um plano de trocar de quarterback num curto espaço de tempo.
Foi assim em 2017, quando Alex Smith era o quarterback do Kansas City Chiefs e a equipe subiu para pegar Patrick Mahomes II. Como Mahomes ficou no banco em todas as partidas menos uma na temporada regular e explodiu em 2018, o senso comum tomou para si que esse era o certo: um quarterback calouro ficar no banco na primeira temporada e que se dane, deixa ele amadurecer.
Paradigma agora é outro
A questão é que Mahomes e Josh Allen são exceção ao chegarem na NFL. Não regra. Antigamente, quando esse lema “calouro senta no banco no primeiro ano” estava em vigor, fazia sentido. Os times do college football tinham esquemas puramente terrestres e o volume de passes do cara no esporte universitário era bem menor do que é hoje. Logo, os quarterbacks chegavam na NFL com menos repetições.
Atualmente, os quarterbacks rodam sistemas muito parecidos em college e NFL. Claro que a velocidade do jogo no nível profissional é maior e as defesas são mais físicas e complexas. Mas é fato que os quarterbacks estão chegando cada vez mais prontos no Draft. Como dois bons exemplos recentes, Dak Prescott e Justin Herbert.
Sem dúvidas: haverá motivos para que o calouro fique no banco “aprendendo”. Para mim, são dois:
i) O titular é bom o suficiente e o time tem condições de playoffs com ele. Foi um dos motivos que fez Mahomes ficar no banco em 2017, com Alex Smith aquele time de Kansas City tinha condições de pós-temporada – coisa que de fato aconteceu. É para mim o mesmo caso de San Francisco com Jimmy Garoppolo neste ano.
ii) O calouro é tão cru em processamento de jogo e/ou mecânica que não há condições dele ser titular desde a primeira semana sem que isso afete seu desenvolvimento. São os casos de Josh Allen e Patrick Mahomes, dois diamantes crus chegando na NFL e que foram corretamente lapidados.
Esses não são os casos de Fields e dos Bears
Justin Fields precisa de “cancha” e de tempo de jogo para aprender a velocidade e complexidade das defesas da NFL. Fields tem, também, uma ética profissional elevada que não será abalada por erros ou interceptações.
Em resumo, ter um titular bom o suficiente e um time que deve buscar playoffs? Não imagino que seja o caso dos Bears. Fields não é tão cru como Mahomes quando chegou na liga – o sistema de Ohio State não pode ser considerado o mesmo de Texas Tech em 2016, nem de perto – e não é como se com Andy Dalton pudéssemos falar que Chicago tivesse chance real de pós-temporada em 2021.
Cada caso é um caso. Não existe uma regra automática de amadurecimento de quarterbacks. Especificamente no caso de Justin Fields, julgo ser bom que ele seja o titular desde a Semana 1. A primeira partida é dura, contra o Los Angeles Rams de Aaron Donald e Jalen Ramsey. Mas depois, fora o jogo contra Cleveland, temos defesas mais frágeis que podem dar confiança para o calouro: Cincinnati, Detroit e Las Vegas. Seria bom ele ganhar essa cancha nessa parte do calendário. Porque depois tem uma sequência de pauleira com Pittsburgh, Tampa Bay, Green Bay, Baltimore… Ficaria mais complicado.
Por todo o exposto, julgo que a melhor situação é dar o máximo de tempo para que Fields já tenha dores de crescimento neste ano. Em 2022, talvez com Aaron Rodgers fora da divisão e no final da Era Kirk Cousins em Minnesota, os Bears tenham uma chance mais real de brigar por algo. Com Fields já tendo 17 jogos como titular – em vez dos 5 ou 6 que deve acontecer na realidade – creio que seja uma situação melhor para o time no médio e longo prazo.
Se flopar e ele quebrar mentalmente? Bom, honestamente, aí é porque não serve para ser um dos 32 quarterbacks titulares da NFL. Quanto antes souberem disso, melhor – e acho que, por tudo o que conhecemos de Fields, não será o caso.
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