Assumo: criei expectativas maiores do que deveria com Derek Carr. De toda forma, foi um erro honesto e era justo pensar em Carr como potencial candidato a MVP da NFL. O quarterback dos Raiders vinha de uma temporada de 12-3, 28 touchdowns e apenas 6 interceptações. No final daquele 2016, porém, veio uma lesão grave na perna – na véspera de natal contra os Colts, jogo que tive a oportunidade de comentar na ESPN.
É possível dizer que o camisa 4 ficou algum tempo com sequelas daquela lesão. Embora ele tenha voltado a campo já em 2017, o problema da “sapateada no pocket” quando pressão ficou agravado. No bom ano anterior, Carr teve três touchdowns e quatro interceptações quando pressionado. Voltando da lesão, dois touchdowns e cinco interceptações. Parece pouco a olho nu, mas as demais estatísticas caíram junto: rating, jardas por tentativa, porcentagem de passes completos.
Nítido que Carr estava desconfortável ao menor sinal de pressão. Trauma dos 72 sacks que testemunhou seu irmão sofrer em 2002 ou da própria lesão, seja como for, o quarterback afundou em contestações de torcedores, fãs de seu jogo e analistas. O estigma de não corresponder às expectativas ficou marcado.
Gruden pode ter problemas, mas também tem virtudes
Quando alguém comete erros colossais e tem personalidade forte, costuma ficar com um alvo nas costas. É o caso do treinador dos Raiders, Jon Gruden. Já batemos muito em Gruden aqui em ProFootball, mas justiça seja feita: foi com muita razão. Gruden, que na prática tem a chave no comando das decisões de quem vai e quem fica no elenco, desmantelou boas unidades do time. Sob sua administração, Amari Cooper e Khalil Mack foram trocados. Também sob seu comando o time desmantelou a boa linha ofensiva do ano passado.
Por outro lado, é certo dizer que o técnico arrumou bastante a parte mental do jogo de Carr. Ele sapateia menos no pocket e vem se livrando muito mais rápido da bola – até para não entrar em pane. É fato dizer que Carr vem sendo um quarterback consistente nas últimas temporadas. Não é candidato a MVP como se esperava, mas longe de ser o maior culpado pelas mazelas de Las Vegas.
Em 2020, Carr foi 11º em rating, 10º em porcentagem de passes completos e 11º em touchdowns. Por outro lado, a defesa dos Raiders com seus 29.88 pontos cedidos por jogo foi a terceira pior da NFL na temporada passada. É uma tendência aliás: em 2019 foi a nona pior, e em 2018 foi a pior. Tendo que buscar o resultado em quase toda partida e precisando fazer 30 pontos por jogo para ter uma chance, fica difícil. Até porque o sistema de passes mais rápidos não tem octanagem suficiente para em dados momentos buscar isso. Fica complicado colocar tudo na conta do quarterback.
A consequência do desmanche
Por mais que este texto se esforce em ser uma apologia a Derek Carr, é impossível reconhecer a realidade de que ele não é um bom quarterback sob pressão. Desde que ele entrou na NFL, os Raiders se esforçaram para remediar isso. Seja com fortes investimentos em linha ofensiva ou montando um sistema que faça ele passar a bola rápido, o máximo foi feito para camuflar isso… Até 2021.
Gruden, como dito acima, fez um desmanche total e completo da linha ofensiva do time em 2020. Três titulares saíram na última intertemporada: Trent Brown, Rodney Hudson e Gabe Jackson. A saída de Brown preocupa menos do que as demais, dado que ele perdeu jogos em 2020. Mas de Hudson e Jackson, bem, são saídas colossais em termos de perda. Ambos estiveram entre os melhores jogadores da NFL em proteção ao passe e jogam no meio da linha. Qual a pior pressão possível para um quarterback? A que bem pelo meio.
A melhor de Carr passou pela linha, por óbvio. Os Raiders estiveram constantemente entre os 10 times que menos cederam pressões nas últimas temporadas. Por simples adição e subtração de jogadores acima da média na proteção, como consequência temos mais pressões, certo? Com isso, lembremos como Carr desempenha mal quando enfrenta pressão defensiva. Para o leitor ter ideia, ele sai de 7º em razão TD/INT com pocket limpo para 20º com pocket sujo (pressionado). Contando apenas interceptações, ele tem cinco com pocket limpo (22º com menos interceptações nessa situação) e quatro com pressão (7º com mais). A linha ofensiva deve cair de produção e junto levar Derek Carr. Infelizmente, essa é a tendência para 2021.
Para saber mais:
🎙️ProFootball + | Carr, Garoppolo, Sherman: jogadores que entram contestados em 2021
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