Em meio a quarterbacks feridos, os reservas às vezes nos dão boas histórias. Foi assim em 2001, o exemplo maior, com Drew Bledsoe se machucando na Semana 2 e um certo segundanista de Michigan tornando-se titular pelo New England Patriots. A temporada de 2019 nos trouxe vários titulares lesionados justamente no início do ano: Nick Foles foi um deles.
Com Foles fora de combate, os Jaguars tiveram que colocar Gardner Minshew em campo. Calouro e escolha de sexta rodada, Minshew começou a carreira num junior college (equivalente a Escola Técnica, aqui no Brasil) e depois de passar por East Carolina, chamou a atenção de programas maiores. No final das contas, ele ficou em dúvida entre ser reserva em Alabama, onde poderia seguir carreira como treinador… Ou ser titular em Washington State após a saída de Luke Falk. Mike Leach, técnico dos Cougars, foi sincero e profético: você pode ser reserva com Nick Saban ou liderar o país em jardas aéreas por jogo aqui em Washington State.

Foi o que aconteceu
Com números inflados por conta do sistema de Leach, a Air Raid, Minshew liderou a primeira divisão (FBS) do College em passes completos (433), tentativas de passe (633), jardas passadas por jogo (367,6) e terminou no top 5 em touchdowns (38) e na votação do Heisman (que ficou com Kyler Murray). O destaque que dou aqui é para a quantidade de passes por jogo, quesito no qual ele foi o primeiro. O Air Raid pede isso. E, seguindo aquela teoria de “quanto mais você faz uma coisa, melhor fica”, era um ponto positivo.
O ponto negativo? Quarterbacks de Air Raid costumam sofrer com as janelas de passe mais estreitas que encontram na NFL – porque as defesas são mais inteligentes e atléticas do que aquelas enganadas pelo sistema no college. A antecipação no passe às vezes também não é uma virtude de passadores oriundos desse sistema, dado que em boa parte das vezes os alvos estão abertos por quilômetros.
Isso foi algo que estamos vendo nesses primeiros jogos de Minshew nos Jaguars. Se o alvo principal não está aberto, ele está indo no checkdown, a válvula de escape próxima da linha. De toda forma, nem tudo é ruim. Pelo contrário. Ele vem mostrando atitude em passes mais longos e corrobora a análise sobre sua força no braço que fizemos antes do Draft. Na área curta e intermediária do campo ele mostra passes limpos e calma no pocket. Ainda falta, como faltava em Washington State, dar mais torque na bola ao usar o quadril – nada que seja impossível de ser aprendido.
De toda forma, nossa nota para ele no Guia do Draft do On The Clock era de quarta rodada – ele saiu apenas na sexta. Indubitável que foi uma barganha. Por mais que os checkdowns ainda estejam presentes em uma jogada ou outra, Minshew está soltando o braço e com uma colocação de bola extraordinária em vários passes longos. No momento, ele é o quarto melhor quarterback em % de passes completos quando a bola viaja pelo menos 10 jardas – Brady, Brees e Dak Prescott completam a lista. Ainda, ninguém tem mais passes completos com bolas viajando pelo menos 40 jardas. Ele tem cinco passes desse tipo neste ano.
É difícil vislumbrar se ele vai manter partidas assim neste ano ou mesmo no futuro. Afinal, agora existe um contra-ataque de coordenadores defensivos que terão tape dele para estudar. Minshew deve seguir com a atitude que está lhe consagrando – o popular SWAG.
Vai dar certo? Só o tempo dirá. Dak Prescott deu, por exemplo, depois de começar bem em 2016. Gardner pode ser mais um exemplo e Nick Foles… Bem, te espero em Chicago.
