No capítulo anterior de nossa novela preferida, “Quarterback da Paixão”, o Denver Broncos tinha praticamente acertado os detalhes com o San Francisco 49ers para trocar escolha de Draft pelo quarterback Colin Kaepernick. Só tinha um problema: Denver não é lá aquela equipe com toneladas de dinheiro para gastar no teto salarial. Assim, Colin precisaria “abdicar” de 4,9 milhões de dólares em seu contrato para que a negociação confirmasse.
Adivinha?
Ele não topou. Obviamente já choveram críticas na cabeça de Colin. Afinal de contas, a mudança seria melhor para todas – em tese. San Francisco poderia pensar num novo quarterback via Draft – convenhamos que Blaine Gabbert não passa perto de ser o futuro de um time que já teve Joe Montana e Steve Young. O Denver Broncos teria uma melhora em relação ao que já tem – Mark Sanchez. E Colin estaria num sistema bastante amigável, com bootlegs, play actions, jogadas em pistol e uma defesa monumental que não lhe fará forçar passes para correr atrás de viradas impossíveis.
O problema é o preço disso. A redução de salário importaria em praticamente um terço do salário dele – o qual já está garantido para 2016. Num mercado em que Sam Bradford e Kirk Cousins beiram os 20 milhões de dólares sem ter chegado ao Super Bowl como Colin. Tá, eu sei que a zone-read option não funciona mais como ataque base. Eu mesmo venho gritando isso dia sim e dia também. Mas o ponto é que ele fez por merecer esse contrato. Por mais que eu seja um dos críticos mais ferrenhos de seu estilo de jogo, tenho que ser coerente aqui.
Por isso que não dá para culpar tanto assim a decisão de Kaepernick. Sei que muitos vão argumentar que Brady e, mais recentemente, Peyton Manning, tiveram reduções no salário e toparam de bom grado. O ponto é que ambos já tinham ganho pelo menos uns 150 milhões de dólares na carreira, já tinham vencido o Super Bowl e na prática o fizeram para garantir o máximo de competitividade o possível em seus anos finais no gridiron.
Não é o caso de Colin. Este é o primeiro contrato dele após o contrato de calouro, e só Deus sabe se ele terá outro. Mais: Kaepernick vem de três cirurgias em 2015. Vai que dá tudo errado em Denver e ele é cortado. E não joga mais na NFL. Digamos que esses 4,9 milhões de dólares vão fazer falta.
O que a gente não pode esquecer é que não se trata de trabalhar na Microsoft e perder 30% do salário para trabalhar na Apple. Falamos aqui de uma redução salarial que pode literalmente fazer falta numa profissão que está a uma lesão de acabar repentinamente. Os jogadores de futebol americano sabem disso. Da mesma forma que os gladiadores em Roma tinham vida curta, eles têm carreira curta. É uma loteria, na prática e a maioria dos atletas não bate dez anos de carreira.
Mais: ficar em San Francisco não parece um cenário tão ruim para o produto de Nevada. Se você for parar para pensar, Kelly maximizou as habilidades de Mariota em Oregon. Era College, era diferente – eu sei disso também. Mas até existe perspectiva de que isso dê certo nos 49ers. O que eu faria no lugar dele?
Bom, eu iria para Denver e trabalharia o máximo possível, com o máximo de ética possível. Tentaria calar a todos que disseram que não daria mais certo e etc. Mas eu sou eu, você é você e Kaepernick é Kaepernick. Num cenário onde cada centavo importa com uma lesão se avizinhando e no qual quarterbacks que produziram menos estão ganhando rios de dinheiro, sinceramente não consigo culpar Colin Kaepernick por sua decisão. Você consegue?






