Defensores Híbridos: Tendência em crescimento ou solução pontual?

Se você lê os nomes Deone Bucannon e Mark Barron e não vê relação, aqui vai um breve histórico antes de continuarmos. Na última temporada a NFL foi surpreendida por uma novidade interessante, e que funcionou muito bem para dois times que tiveram destinos diferentes na temporada.

Os St. Louis Rams e o Arizona Cardinals encontraram soluções semelhantes para suprir uma necessidade e “de brinde” tiraram o melhor de dois de seus mais promissores jogadores. Os Cardinals – devido à uma lesão do linebacker Sean Weatherspoon – alteraram a posição do safety Deone Bucannon para linebacker. Os Rams, motivados pela lesão de Alec Ogletree, fizeram o mesmo com o safety Mark Barron – até então um jogador abaixo do que se esperava dele na época do Draft. Ambos tiveram a melhor temporada de suas carreiras e suas defesas se beneficiaram muito da fácil adaptação dos jogadores à nova posição.

Apesar de essa mudança parecer uma novidade, não é totalmente nova. Se falarmos apenas de temporadas recentes, Kam Chancellor, Kenny Vaccaro, Roman Harper e Troy Polamalu são exemplos de jogadores que desempenharam funções variadas, diferentes das tradicionais executadas por um safety. Isso sem falarmos de linebackers multifuncionais como Jammie Collins, Von Miller e outros, capazes de executar mais de uma função na defesa (pressionar o quarterback, enfrentar o jogo corrido, marcar zona e individual) com boa qualidade.

Porém, a mudança foi feita oficialmente. No papel. Na lista de elenco. No banco de dados da liga. E isso é de certa forma, uma novidade.

E que mudanças essa novidade traz na prática?

A defesa sai ganhando contra o jogo aéreo, pois os safeties são mais acostumados a enfrentar situações de passe e tem mais habilidade com as mãos do que linebackers de origem, o que aumenta a probabilidade de uma interceptação acontecer.

A defesa também ganha versatilidade, sendo possível que esse jogador alinhe em diversos lugares sem dificuldades de adaptação, o que facilita até mesmo enfrentar ataques que não utilizam conferência no campo para combinar as jogadas – os chamados “ataques no-huddle”.

Vamos falar das diferenças na área física do jogo.

O site Rotoviz, apresenta uma pesquisa de dados com a média dos resultados do combine (teste físico e de habilidades da NFL) para todas as posições. A tabela abaixo apresenta, respectivamente, os valores de: peso, tempo no Tiro de 40jardas, repetições com 102kg no Supino, Salto em Altura, Salto em Distância, Tempo no “Suicídio” de 20 jardas e Tempo no Teste dos 3 Cones. Caso não conheça ou queira saber mais a respeito dos testes, leia mais aqui.

POSIÇÃO Peso

(kg)

Tiro de 40 jardas (seg) Supino 102kg Salto em

Altura (pol)

Salto em Distância (pol) Suicídio de 20 jardas (seg) Teste dos 3 cones (seg)
Inside Linebacker 109,72 4.75 22,8 33,3 114,4 4.32 7.15
Outside Linebacker 109,7 4.69 34,4 34,4 116,9 4.32 7.11
Safety 94,66 4.56 35,4 35,4 120,2 4.23 6.99
Tight End 114,84 4.74 33,2 33,2 115,4 4.41 7.16
Wide Receiver 91,35 4.50 35,3 35,3 120,3 4.25 6.92

Notem que, na comparação entre safeties e linebackers, existe uma diferença de aproximadamente um ou dois décimos de segundo para os testes de velocidade e agilidade. As distâncias alcançadas nos saltos vertical e horizontal também são muito significativas.

O que isso quer dizer na prática? Que a média dos safeties chegaria um ou dois décimos de segundo antes dos linebackers em um passe ou em um jogador, e saltaria no mínimo uma polegada (2,5cm) mais alto e quase 9 cm (!) mais distante. A diferença pode parecer pouca, mas um passe de um quarterback com força boa viaja a aproximadamente 27 jardas por segundo. Logo, esses dois décimos podem ser a diferença entre um passe completo e um passe defendido, ou interceptado.

Além disso, note que o peso dos recebedores (WR) e os valores de velocidade, salto em altura, salto em distância e testes de agilidade dos safeties se equivalem, enquanto a comparação dos recebedores com os linebackers é totalmente desfavorável para os defensores – em números.

Então tudo certo? Todos os problemas da defesa estão resolvidos e o time só tem a ganhar com essa alteração de posição?

Não é bem assim.

Sabemos que na NFL, um ataque não funciona utilizando somente um tipo de jogada. Sabemos que, principalmente durante o inverno americano (final da temporada\pós-temporada) quem não corre com a bola normalmente não vence.

O jogo terrestre na NFL exige, além de jogadas bem elaboradas, muita força física. O sucesso de um jogo terrestre começa quando ele move a linha de defesa ou impede seu avanço. E quando a linha de defesa é atacada, os linebackers são os responsáveis por dar suporte.

Observem que, não somente a média de peso dos safeties é inferior à dos linebackers – em mais de dez quilos – mas a quantidade de repetições realizadas no supino é significativamente menor. Concordo que nem sempre a força demonstrada na academia se traduz em força dentro do campo, mas os números sugerem uma desvantagem dos safeties.

Além do fator “força física”, outro ponto merece ser lembrado: o Tackle.

Os linebackers “nascem”… São “criados” para fazer tackles. É pra isso que eles existem. Da mesma forma que a atividade básica de um boxeador é dar socos, de um goleiro é defender e de um ciclista é pedalar; a do linebacker é dar tackles.

Os linebackers costumam ter esse fundamento mais desenvolvido do que os outros defensores. Não é coincidência que eles sejam a maioria absoluta dos líderes em tackles dos times.

Os safeties, por estarem extremamente envolvidos na defesa do jogo aéreo, dividem a atenção e dedicação de seus treinamentos com técnicas de marcação, leituras variadas, e atenção em vários jogadores diferentes do time de ataque, entre outras coisas.

Por consequência, espera-se um jogador mais preparado para desempenhar várias funções adequadamente, e menos especialista em alguma coisa. Assim, os números e as características de ambos os tipos de jogadores nos indicam um possível, prejuízo ao enfrentar o jogo terrestre com um linebacker a menos e um safety a mais. Há vantagens e desvantagens, como toda e qualquer estratégia utilizada nos esportes. Há entusiastas e duvidosos sempre que surge uma novidade, e com essa não seria diferente.

Mas o futuro nos faz olhar para essa direção, pois vários jogadores inscritos no draft do próximo mês tem seus nomes ligados a este assunto. São comuns as análises de candidatos como Deion Jones, Darron Lee, Karl Joseph e Tevin Carter dizerem “se um time souber como utilizá-lo na melhor posição…”, “com potencial mudança para linebacker“, “compensa sua falta de força com grande habilidade na cobertura” e coisas semelhantes. Um deles, Miles Killebrew, tem até mesmo seu nome comparado, com analistas dizendo que “com o sucesso do defensor híbrido Deone Bucannon, é razoável dizer que algum time olhara para Killebrew com a mesma intenção”.

Não é possível – ainda – dizer que há uma tendência definitiva de inclusão de jogadores híbridos nas defesas pela liga. Mas é um fato que os times, os olheiros, os analistas e a liga em geral estão prestando mais atenção a isso do que se pode imaginar.

E certamente o fã mais apaixonado e curioso do esporte gostará de acompanhar de perto também.

Observação: O texto acima foi escrito como parte da 3ª fase do XI Processo Seletivo para novos Redatores do ProFootball. NÃO REPRESENTA A OPINIÃO EDITORIAL DO SITE. Aproveitando, nos ajude dizendo o que achou! Seu autor é Leandro dos Santos de Carvalho

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