Defesas ainda ganham campeonatos? Os Playoffs deste ano são dos ataques

Linha defensiva forte, muito jogo terrestre e punir o adversário fisicamente. Esta foi a fórmula de sucesso durante muito tempo na NFL. Até mesmo os Cowboys dos anos 90, conhecidos por Troy Aikman e Michael Irvin, possuíam em sua fundação uma linha defensiva mais ágil (para aguentar o jogo físico das linhas da NFC East) e o Emmitt Smith carregando o piano.

Faz todo o sentido esta filosofia de vencer: cansando o adversário é mais fácil ganhar. E sejamos sinceros: é bem melhor cansar batendo do que apanhando.  Tom Brady não bateu o Greatest Show on Turf sozinho: apesar de seu MVP do Super Bowl merecido, foi sua defesa que fez um grande trabalho para parar Kurt Warner e seu jogo aéreo com Isaac Bruce, Torry Holt, Ricky Proehl, Marshall Faulk e tantas outras peças. Só que da metade dos anos 2000 para cá tudo mudou. Os wide receiversquarterbacks ficaram mais protegidos, o que incentivou o jogo aéreo e colocou mais pressão na secundária.

Isso não é nenhum demérito para as defesas, apenas que a relação de poder mudou na liga. Hoje em dia a máxima criada nos anos 80 e 90 que “ataques ganham jogos e defesas ganham campeonatos” vem falhando cada vez mais. É bem verdade que, recentemente, as defesas de Seattle Seahawks e Denver Broncos amassaram Peyton Manning e Cam Newton, respectivamente. Só que os próprios Seahawks caíram para uma defesa menos talentosa (a dos Patriots) e o resultado foi totalmente natural. San Francisco possuía uma defesa, pelo menos naquele ano, melhor estatisticamente que a dos Ravens – e mesmo assim acabou caindo antes. Aliás, aquela defesa dos Ravens estava longe de ser primorosa durante a temporada regular e mesmo assim fez o necessário para sair com o título.

Isso não quer dizer que qualquer defesa meia boca vai ganhar o Super Bowl, apenas que ataques excepcionais com boas defesas que roubam a bola dos adversários (não importando como, que é a característica das quatro equipes que estão nas finais de conferência) estão começando a dominar o cenário.

É um processo natural e nesta pós-temporada estamos vendo o efeito: o destaque dos quatro times que estão nas finais de conferência são os seus ataques, com os quarterbacks tendo papel fundamental – apenas os Steelers possuem um running back como o MVP. Mesmo assim, pelo menos dentro da AFC, duas boas unidades vão se enfrentar no domingo.

Os Patriots e a defesa número 1 em pontos cedidos

Note que em nenhum momento falei que as defesas presentes nesta fase fizeram feio até aqui. Os Patriots possuem a defesa #1 em pontos cedidos por jogo da temporada regular – e isto mostra um pouco o poderio deles.

A saída de Chandler Jones e Jamie Collins não fez cócegas no desempenho defensivo da equipe. O sistema de Bill Belichick é tão bem formado e pensado que ele sabe que, em algumas posições, a reposição ocorre naturalmente sem pesar – já um jogador como Devin McCourty tem muito mais valor, por isso a equipe foi mais agressiva em mantê-lo quando iria virar Free Agent. A secundária, surpreendentemente, vem jogando muito melhor do que se esperava no início do ano. A chegada de Eric Rowe via troca permitiu mais flexibilidade, principalmente para a franquia ir para a formação nickel – quando Rowe entra permite que Logan Ryan posicione-se tanto no slot como no outside.

Esta flexibilidade, aliada com um miolo defensivo forte (Alan Branch e Malcom Brown vem fazendo uma dupla formidável e Dont’a Hightower é o cara no meio do campo) foi o destaque da temporada. Após a derrota para Seattle saindo da bye week, com Bill Belichick dando bronca em geral, esta defesa cresceu demais em produção com a filosofia de ser altruísta, ou seja, ninguém ter que se destacar mais do que o resto do grupo. O resultado final foi liderar a liga em pontos cedidos por jogo (15,6 por partida) e ter uma diferença de turnovers de 12 ao seu favor.

Mesmo assim, os Patriots estão jogando muito bem na defesa, mas não possuem uma unidade de elite. Foram só 24 sacks no ano e a falta de pressão foi visível durante toda a temporada. Além disso, o ataque continua sendo a estrela, com Tom Brady se preparando e jogando em um nível extraordinário. Por fim, o maior desafio pela frente da temporada agora na final da conferência – Big Ben não jogou contra a franquia na temporada regular.

Pittsburgh e sua secundária de calouros

Outra defesa que cresceu muito de produção, surpreendentemente, foi a de Pittsburgh. A tática adotada aqui foi totalmente distinta daquela feita pelos Patriots quando derrotaram os Seahawks: em vez de apostar na Free Agency, a equipe apostou no Draft.

Com isso, Keith Butler viu Artie Burns e Sean Davis, escolhas de primeira e segunda rodadas neste ano, virando titulares absolutos e os resultado começando a aparecer: desde a nona semana, a equipe cedeu apenas 16,6 pontos por partida (terceira melhor marca da liga) e pouco mais de 287 jardas por jogo (terceira melhor).

Ao contrário de New England, o plano de jogo dos Steelers passa pela pressão no quarterback: desde a volta de Bud Dupree na semana 11, este time disparou em pressionar os lançadores adversários. Foram 31 sacks desde a nona semana, com Dupree e o interminável James Harrison liderando a equipe. Com o ataque controlando o relógio com o jogo terrestre, os adversários precisam lançar mais a bola e é aí que entra a criatividade de Butler e sua defesa 3-4. Para você ter uma ideia, são 15 jogadores com pelo menos um sack no ano.

Na NFC Green Bay e Atlanta, apesar de possuírem defesas menos prolíficas, possuem o mesmo objetivo: roubar a bola

Enquanto a AFC possui duas boas defesas que os ataques que brilham, na NFC as defesas possuem a maior dificuldade no momento que importa: a redzone. Steelers e Patriots são a quinta e a oitava melhores defesas, respectivamente, nas últimas 20 jardas do campo. Já Green Bay e Atlanta são a oitava e a segunda piores defesas no mesmo quesito.

Apesar disso, as quatro defesas se baseiam no mesmo conceito: roubar a bola dos adversários. Todas possuem, no mínimo, 22 turnovers forçados no ano e estão no top 10 da liga na diferença entre bolas cedidas e bolas tomadas dos adversários. Adotando táticas distintas, como Green Bay apostar nos blitzes, New England em sua secundária, Pittsburgh na pressão diversificada e Atlanta na pressão com Vic Beasley e uma secundária extremamente agressiva, o objetivo vem sendo o mesmo: apenas roubar a bola e impedir os pontos.

Hoje o objetivo mudou: não é mais não ceder jardas, e sim roubar a bola dos adversários. Agora o cansar não é batendo e sim fazendo ele marchar o campo todo para roubar a bola na hora de tirar o 10. É preciso se adaptar ao conceito de hoje do futebol americano, que se baseia na figura do quarterback e no jogo aéreo. Não dá para esperar segurar os adversários ao máximo em todos os drives: aqui o que se espera é cansá-lo e aproveitar os erros.

Para ser campeão neste ano, a defesa de qualquer uma dessas quatro franquias vai precisar aparecer forçando os erros dos adversários. Não adianta esperar apenas um quarterback mito, é preciso mais. Apesar disso, não será a unidade defensiva a dona da festa, e sim os ataques extremamente explosivos. Isso não quer dizer que não sejam grandes defesas, apenas que o objetivo mudou e ainda não estamos sabendo apreciá-las como deveriam.

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