Devido ao poder da TV, a prorrogação da NFL dificilmente deve mudar num futuro próximo

O primeiro jogo com prorrogação na história da NFL foi numa pós-temporada. Em realidade, não foi um jogo qualquer: foi na final da liga em 1958, naquela que ficaria conhecida como “Maior Partida já Jogada”. De lá para cá, a regra de prorrogação sempre foi alvo de dúvidas, questionamentos e, sobretudo críticas. O playoff divisional entre Arizona Cardinals e Green Bay Packers na temporada passada – com o empate via Hail Mary pelos Packers – terminou como anti-clímax para muitos. Afinal, os Packers sequer tiveram a “chance” de tentar algo após sua defesa, naquele momento exausta de fadiga, ceder touchdown para os Cardinals.

Até 2012, o primeiro time que pontuasse na prorrogação – como por exemplo chutando um field goal – venceria a partida sem que o outro sequer tivesse a chance de ter a bola para tentar fazer algo. Obviamente isso gera partidas que, na prática, seriam decididas por um cara ou coroa – entre dois times fortes no ataque, por exemplo. Tentando combater isso, a liga eliminou o final de jogo com field goal – agora seria necessário um touchdown na primeira posse da prorrogação para que o jogo terminasse. Caso o time não conseguisse fazer touchdown (ou mesmo safety), o outro time teria chance de pontuar – e aí qualquer pontuação acabaria com a partida, incluindo field goals.

ESPECIAL: Confira nossa cobertura sobre as propostas de mudança de regra para 2016 na NFL

Para muitos, não era suficiente. Ainda haveria a falha do “outro time não teve chance”. Mais do que isso, sempre houve a comparação com a regra do College Football. No nível universitário, os kickoffs são eliminados e cada time começa a posse na linha de 25 jardas do ataque – ou seja, imediatamente no alcance de field goal para um kicker minimamente competente (não que um chute de 38 jardas seja lá tão fácil de ser convertido no College… #CollegeKickers). Necessariamente, as duas equipes terão uma chance de pontuar. Se o empate permanecer após a primeira prorrogação, eternas prorrogações são jogadas até que o empate caia – e, lembrando, a partir da terceira prorrogação as equipes têm que tentar a conversão de dois pontos após o touchdown.

Com a Reunião de Donos de Franquias neste mês – na qual são discutidas eventuais mudanças de regras – algumas pessoas vislumbraram a possibilidade da prorrogação ter seu formato alterado. Mas não, não deve acontecer nos próximos anos. Porque iria atrapalhar a TV. Vamos explicar melhor.

Sabe por que isso não acontece na NFL? Porque a TV manda

Nunca podemos nos esquecer que a National Football League se tornou a liga mais poderosa dos Estados Unidos por conta do alcance que a televisão lhe deu nos anos 1960. É uma relação em simbiose entre as duas. Se por um lado as cotas de televisão são o que fazem as equipes poderem pagar salários milionários para os atletas, por outro a NFL garante anualmente a maior audiência de um programa em horário nobre – o Sunday Night Football – e maior audiência anual da TV (o Super Bowl).

Qualquer modificação de regra que altere essa dinâmica e que desagrade as televisões dificilmente seria aprovada. O fato do field goal não mais acabar com uma partida numa primeira posse de prorrogação, a bem da verdade, já foi um grande ganho. Qual seria o problema, afinal? Por que não adotar a fórmula mais “justa” do College?

Simples. Porque ela pode não ter fim.

Não são raros os casos nos quais uma prorrogação do College demora pelo menos 30 minutos. As equipes recebem a bola na linha de 25 jardas e não têm tempo no cronômetro além do play clock de 40 segundos para começar a jogada. O que determina o final da prorrogação é o empate terminar, não um cronômetro geral – a exemplo do que acontece com entradas extras no beisebol.

Nas relações do College com a televisão americana, isso não é problema. A maioria das partidas, coisa de 90%, são transmitidas na tv a cabo (ESPN e FOX Sports), com apenas um jogo por sábado na ABC (bem de noite), CBS (de tarde, com programação local após o jogo) ou em jogos nos quais Notre Dame é a equipe da casa (NBC, com mesmo caso da CBS). Uma prorrogação que dure muito tempo não irá atrapalhar essa grade, porque ou o programa seguinte acontece de madrugada ou esse programa é outro jogo de College dentre a dezena que acontece pulverizada nos Estados Unidos ou é programação local que “pode esperar”.

Não é o caso da NFL no domingo. Se o jogo que começa 13h na Costa Leste atrasar demais por conta dessa prorrogação ao estilo do College, o jogo das 16h não será transmitido em algumas áreas do país enquanto o primeiro não acabar. E a janela das 16h costuma ser a mais importante para a CBS e a FOX, dado que menos jogos estão alocados ali – e, portanto, a audiência caba sendo mais nacional. Não é por acaso que a CBS teve Patriots vs Broncos/Giants/Packers nesse horário nos últimos anos. Ou porque a FOX chama essa janela de America’s Game of The Week.

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Ok, mas e se a janela das 16h atrasar, qual o problema? Bom, primeiramente há um problema para a liga, porque uma prorrogação longa competirá com o pré-jogo do Sunday Night Football – Football Night in America, da NBC, que tem direito de passar os melhores momentos dos jogos da tarde antes que outras emissoras possam passar. Para a CBS e a FOX, os problemas seriam grandes também. Na sequência da janela das 16h a CBS transmite o 60 Minutes (mistura de Globo Repórter com Fantástico, se é que podemos fazer essa comparação tosca), o carro chefe do jornalismo da emissora há décadas. A FOX, por sua vez, tem seu “Mickey” no horário – Os Simpsons, animação que colocou a emissora no mapa na década de 1990. Um dos motivos para que a FOX comprasse os direitos da NFL em 1994, aliás, foi o de fazer o esporte anteceder Homer e alavancar ainda mais sua audiência – embora o motivo principal tenha sido “garantir” afiliadas ao redor do país e criar um caráter de rede nacional por ter direito ao principal esporte do país.

Uma prorrogação sem previsão de término, com os dois times tendo posse de bola, colocaria em xeque a programação das três emissoras de TV aberta que têm direito de jogos da NFL. Mais: afetaria alguns de seus principais programas. A relação simbiótica entre NFL e televisão, nos Estados Unidos, faz com que dificilmente esse cenário mude. É o mais justo? Não. Mas nas entrelinhas, é o cenário possível atualmente.

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