É viável a criação de uma franquia da NFL em Londres?

Os jogos da NFL em Londres são um sucesso. Sobre isso não há qualquer dúvida. Estádios lotados, repercussão na cidade e o fato sempre marcante de se ver uma partida de futebol americano em um templo do futebol da bola redonda como Wembley. Não é à toa que o que antes era um jogo isolado por ano agora é a NFL International Series, composta em 2016 por três jogos em Londres e um na Cidade do México. Com o sucesso desta empreitada europeia da NFL, acaba-se cogitando a criação de uma franquia da liga sediada na capital inglesa. Esta possibilidade já foi aventada pelo comissário da NFL, Roger Goodell, além de por outras figuras muito influentes, como Robert Kraft, proprietário do New England Patriots.

Com o ensejo da primeira partida da NFL International Series, a ser disputada neste próximo domingo às 10:30h da manhã (hora de Brasília), entre Jacksonville Jaguars e Indianapolis Colts, discutiremos aqui no Pro Football a viabilidade da criação de uma franquia da NFL em Londres. Sem grandes mistérios, já vem a resposta: é viável, mas não é exatamente uma boa ideia.

Quando dizemos que é viável a criação da franquia em Londres, é porque basta os dirigentes da NFL quererem. Com a pujança financeira da liga, é possível chegar-se a acordos com relação a estádios, locais de treinamento e infraestrutura em geral para esta hipotética equipe. Além disso, pelo mesmo motivo, a NFL é plenamente capaz de lidar com um eventual prejuízo (temporário) referente à franquia londrina. Entretanto, como veremos a seguir, os motivos que fazem deste possível plano da NFL uma má ideia superam (e muito) os eventuais benefícios.

A distância

Poxa, que legal, vai ter um time em Londres! Agora vai dizer isso pro Pete Carroll, técnico do Seattle Seahawks. Em uma semana, a equipe precisa pegar um avião pra um voo de mais de 12 horas, jogar uma partida fora de casa (mais fora de casa impossível) e voltar com outro voo muito longo, tendo que jogar de novo no domingo seguinte. Já seria difícil pra um time de curling, imagina então pra um de futebol americano. Do outro lado (ponto de vista da nova franquia londrina) o problema é ainda maior. Para cada jogo no campo do adversário é necessário cruzar um oceano. A alternativa de jogar vários jogos seguidos fora de casa, para “economizar” nas viagens, traz uma grande desvantagem esportiva. É difícil imaginar que o London Jaguars (ou Knights, ou Teabags…) possa ser competitivo nos moldes atuais da NFL.

Os torcedores

A novidade, além de ter vindo dar à praia, atrai muitos torcedores. Com três jogos por ano em Londres, é possível que o interesse se mantenha elevado e, consequentemente, que os estádios fiquem cheios. Afinal, as partidas da NFL International Series são eventos marcantes para o fã de futebol americano, não apenas na Inglaterra, mas também em todo o continente europeu. Vários torcedores se programam para ir à Londres para cada um daqueles jogos, fazendo deles muitas vezes eventos únicos, quase que, para este público, destacados do restante da temporada da NFL. Esperar que, em uma temporada inteira de jogos (oito na temporada regular, além de dois de pré-temporada), a mobilização dos torcedores se mantenha parece pouco provável. Afinal, o futebol americano encontra-se muito atrás de vários outros esportes (não apenas o futebol) na preferência do público inglês. Valeria a pena a NFL abrir uma franquia em Londres e se ver exposta por estádios vazios? Se bem que em Jacksonville já é mais ou menos assim…

Os jogadores

Março. Abriu o mercado de contratação de free agents e voam milhões e milhões de dólares em contratos para os jogadores mais cobiçados da liga. Os atletas têm a opção, muitas vezes, de escolher entre várias opções de lugares para jogar. Quantos vão preferir sair de seu país de origem para jogar na Inglaterra? Não apenas pela distância, ou mesmo por questões culturais. Além desses fatores, a Inglaterra tem uma carga tributária mais elevada que a dos EUA. Talvez, no caso da criação da franquia londrina, passássemos a ver inúmeros holdouts (recusa em assinar o contrato e se apresentar) da parte de escolhas no draft. Mais uma causa de desvantagem competitiva para a equipe inglesa, que talvez pudesse ser resolvida por mudanças nas regras contratuais da NFL. Para isso, contudo, a liga precisaria “comprar briga” com os jogadores, se expondo inclusive a uma eventual greve.

A audiência

Um outro fator contribui para complicar a ideia de criar uma franquia da NFL em Londres. Neste início de temporada 2016, pela primeira vez em vários anos, a NFL tem apresentado queda em seus níveis de audiência nos EUA. A liga ainda segue no topo da audiência com relação aos demais esportes, mas talvez o vetor de popularidade esteja começando a apontar para baixo. É cedo para afirmar com segurança se os números vão se manter desta forma, ou mesmo que motivos estariam levando a isto. Ainda assim, é de se imaginar que esta não seria a melhor hora para o algo tão incerto e dispendioso quanto a criação e manutenção de uma equipe em outro continente.

Deixa quieto, NFL

Ao pensarmos em todos os fatores aqui elencados, é fácil perceber que, ainda que possa ser viável a criação de uma franquia da NFL em Londres, não parece ser muito inteligente. Às vezes vale a penas correr alguns riscos mas, neste caso, o benefício não compensa. Ainda que venha apresentando redução nos números de audiência, a NFL segue como uma liga de altíssima popularidade, não apenas nos EUA, mas em todo o mundo. Afinal, estamos aqui. Mais do que isso, a NFL International Series é um grande sucesso, devendo permanecer assim pelo futuro próximo. No futuro mais distante, por exemplo quando o teletransporte se tornar uma realidade, talvez a ideia de uma franquia em outro continente seja realmente interessante. Por enquanto, deixa quieto.

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