Elementar: Sem ajuda, nem Watson salva

Após inúmeras decisões erradas foras de campo, Watson foi largado sozinho em meio ao caos. Seu nível em 2020 foi altíssimo, mas nem isso serviu para os Texans vencerem jogos neste ano.

As decisões de Bill O’Brien ainda sangram em Houston.

A derrota para o Chicago Bears, que resultou na eliminação matemática do Houston Texans da briga pelos playoffs, culminou a obra desastrosa de O’Brien como técnico e general manager da franquia. Deshaun Watson não possuía recebedores para lançar, a linha ofensiva não o protegeu, a defesa parecia um queijo suíço e jogadores promissores eram postos de lado em virtude de atletas ruins que precisam ser titulares por conta de contratos mal feitos.

Com Deshaun no comando, Houston sempre poderá sonhar grande, porém, o desafio para a próxima temporada é enorme, já que a franquia precisa reformular os inúmeros buracos do elenco, encontrar um general manager para gerir a equipe e um novo comandante para colocar tudo em ordem dentro de campo, afinal, todo Watson precisa do seu Sherlock Holmes.

Quais eram as expectativas do torcedor para 2020: Apesar de todos os problemas extracampo, havia esperança de um 2020 positivo em Houston, passando pelas mãos do quarterback. Com a ascensão de Tim Kelly como coordenador ofensivo e um ataque voltado para a velocidade, como o do Kansas City Chiefs, esperava-se que a unidade explodisse, ao mesmo tempo que a defesa fosse mediana, também sob o novo comando de Anthony Weaver.

Quais eram as nossas expectativas para 2020: Um pouco mais pessimista. Era possível enxergar alguns pontos positivos no ataque e na defesa, mas desde antes da temporada era nítido que Watson teria de subir ainda mais de patamar para que Houston fosse longe. Um cenário racional seria o 8-8.

O que aconteceu: Watson jogou em nível de MVP, só que nem isso serviu para os Texans serem produtivos em 2020. Após um início 0-4, O’Brien foi (finalmente) demitido, mas suas dccisões continuam atrapalhando toda a equipe. No começo, as derrotas vieram por conta do técnico, que teimou em usar muito o ataque terrestre: uma pena que David Johnson não está em 2016 e vem sendo um dos piores running backs da liga, levando o jogo corrido de Houston a ser o pior da NFL.

Além disso, a falta de talento pesou e a defesa foi a pior defendendo o jogo terrestre, principalmente pelo mal uso de seus jogadores. Nomes promissores como os calouros Jonathan Greenard e John Reid, além do bom Jacob Martin, mal viram o campo, pois têm de dar lugar à atletas em fase pior, mas com contratos caros – casos de Whitney Mercilus e Eric Murray.

Para piorar, a tabela de Houston foi brutal e a equipe pereceu em inúmeros confrontos por uma posse de bola, como contra Minnesota Vikings e Tennessee Titans. Watson fez o que pôde: chegou a ficar seis semanas sem cometer um turnover, teve partidas excepcionais mesmos nas derrotas e quase venceu o Indianapolis Colts mesmo com um ataque sem Will Fuller – seu principal alvo em 2020 -, Brandin Cooks e Randall Cobb. O resultado dessa partida, todavia, também teve o reflexo de O’Brien: na linha de 2 jardas do campo adversário, depois de um drive perfeito do quarterback, Nick Martin, um center mediano que foi transformado em um dos mais bem pagos da liga pelo ex-técnico, soltou um snap baixo que sacramentou a derrota.

Mesmo quando Watson fez todo o trabalho, algo estava lá para atrapalhar: este foi o 2020 dos Texans.

Há esperança para 2021? Com Watson, sempre há esperança, ainda mais com as mudanças oriundas da chegada de um novo treinador, amplificadas se ele possuir mentalidade ofensiva. Se ele conseguiu vencer 4 partidas com um elenco recheado de buracos e uma comissão técnica inerte, com a casa um pouco mais arrumada esse número pode subir facilmente.

O problema é que a situação dos Texans está longe de ser simples. Houston é um dos times com o salary cap mais apertado para 2021 e possuirá inúmeras decisões importantes a serem tomadas nesta intertemporada: renovar ou não com Will Fuller? Cortar veteranos como Brandin Cooks? Além disso, a equipe tampouco possui escolhas de primeira e segunda rodada, pois elas serão do Miami Dolphins em virtude da troca por Laremy Tunsil. Dessa forma, muito da esperança para o próximo ano também passa pelos movimentos fora do campo, os quais estão nas mãos do futuro general manager da franquia.

O que precisa mudar urgentemente no time: Tudo, com exceção de Deshaun Watson.

A linha ofensiva é sólida nas pontas, mas tenebrosa no interior. O corpo de recebedores possui profundidade e Fuller, saudável, é uma estrela, mas ele terá seu contrato renovado após a suspensão? O grupo pode precisar de novos nomes em 2021. Do outro lado da bola, a linha defensiva possui jogadores sólidos, mas precisa deixar veteranos para trás e encontrar um parceiro para J. J. Watt, ou seus últimos anos na liga serão desperdiçados. Por outro lado, a secundária precisa de uma reformulação completa, já que quase ninguém se salva.

Por fim, as mudanças fora de campo são igualmente necessárias. O experimento de Tim Kelly e Anthony Weaver como coordenadores pouco funcionou e o ideal seria que o novo treinador renovasse esses cargos. A principal mudança, todavia, seria a demissão de Jack Easterby da instituição, pois sua influência dentro do clube pode botar tudo a perder (não me estenderei aqui, a matéria da Sports Illustrated faz o devido papel).

Com Watson o sol está sempre à vista, mas, em 2021, há uma grande montanha o cobrindo – e os Texans deverão encontrar um jeito de escalar.

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