NFL voltando! Entenda como funciona a lógica na escolha de transmissões da pré-temporada no Brasil




[dropcap size=big]L[/dropcap]á em 2015, quando preparei a divulgação do texto que dizia quais partidas ocorreriam na abertura da pré-temporada da NFL, já sabia qual manchete “profilática” dar: “Sem transmissão na TV brasileira, Semana 1 da pré-temporada começa nesta quinta”. Já resolveria os problemas no que tange às infindáveis perguntas que pipocam em redes sociais nesta época do ano: “Onde vai passar tal jogo?”

Por um lado, resolveu essa dúvida. Por outro, criou uma certa indignação que, no final das contas, não faz muito sentido, porque as emissoras brasileiras não têm culpa. O “problema” – se é que dá para chamar assim, visto que são jogos amistosos – reside nos EUA. A princípio, cabe contextualizar um ponto importante: a logística das transmissões na pré-temporada é completamente diferente daquela que ocorre na temporada regular. Seja nos Estados Unidos, seja no Brasil.

Como funciona na temporada regular lá nos EUA

O contrato de transmissões para a temporada regular é vendido “em pacote” para as grandes emissoras americanas e suas divisões esportivas – CBS/CBS Sports, FOX/FOX Sports e assim por diante.

Normalmente, a FOX tem o direito de transmitir as partidas de domingo à tarde nas quais uma equipe da Conferência Nacional joga fora de casa, a CBS as partidas nas quais a Conferência Americana joga fora de casa nos domingos, a NBC tem o Sunday Night Football, o kickoff e o último jogo a noite no Thanksgiving e a ESPN tem o Monday Night Football – no caso do Thursday Night, há uma divisão maior entre NFL Network e FOX para 2018, mas não cabe entrarmos para não complicar mais as coisas.

Na semana 1 da temporada regular de 2018, portanto, 49ers @ Vikings sendo transmitido pela FOX nos Estados Unidos – porque os 49ers, da Conferência Nacional, estão jogando fora de casa. Texans @ Patriots vai na CBS, porque Houston está fora de casa e é da Conferência Americana. Todos esses jogos estão sob responsabilidade da matriz das emissoras e suas equipes esportivas. Sim, eles são transmitidos localmente a tarde no domingo pelas afiliadas – a FOX de San Francisco, por exemplo vai passar esse jogo e não Buccaneers @ Saints – também responsabilidade da FOX. Essa partida deve ir ao ar na FOX de Tampa e de New Orleans – que, por sua vez, não irá transmitir o jogo dos 49ers.

Como exceção, para equilibrar as coisas, às vezes um confronto AFC vs AFC é transmitido pela FOX – como Dolphins vs Titans na Semana 1 de 2018, mas via de regra o que você viu acima de aplica. Os jogos à noite – Sunday/Monday/Thursday – lembrando, têm transmissão em todo o país. São as transmissões nacionais.

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De maneira análoga, aqui no Brasil o Rio de Janeiro assiste aos jogos dos times cariocas na Globo e em São Paulo a mesma Globo transmite partidas dos times paulistas. A Globo “matriz” tem como responsabilidade exibir o jogo da maneira tecnicamente mais perfeita o possível – e não as afiliadas. Da mesma maneira ocorre nos Estados Unidos com a temporada regularMas não na pré-temporada.

Como funciona na pré-temporada nos EUA – e por que isso afeta aqui

A questão das transmissões de pré-temporada é completamente bagunçada. Embora a norma “NFC-FOX/CBS-AFC” seja respeitada na maior parte das vezes, raras são as oportunidades nas quais as equipes principais – não só de narrador/comentarista, mas de produtores e todo mais – das emissoras estão envolvidas nas partidas. Em realidade, a geração das partidas de pré-temporada ocorre pelas próprias afiliadas da FOX e da CBS. Como você imagina, o nível técnico das transmissões é consideravelmente menor.

toyotaEm 2014, por exemplo, aconteceu esse absurdo que você pode ver acima. As partidas de pré-temporada dos 49ers estavam sendo geradas pela afiliada local da CBS. E eles resolveram que seria lindo veicular um anúncio gigantesco da rede de concessionárias da Toyota do norte da Califórnia. Até aí tudo bem, a questão é que toda vez que uma equipe chegava na red zone, esse gráfico imenso ficava no campo durante todo o tempo. Era grotesco, absurdo e mostra o quão várzea são essas transmissões de pré-temporada quando geradas por afiliadas.

Dito tudo isso, vamos ao que interessa: por que as emissoras brasileiras transmitem “poucos” jogos da pré-temporada da NFL para o Brasil?

Justamente por essa várzea nas transmissões da afiliadas. Para que você tenha o jogo com narração em português, é necessário que a geração da emissora local consiga produzir um sinal para um satélite apenas com o som ambiente, limpo, sem a narração em inglês. E isso é mais difícil do que parece. Para uma partida de menor importância, como amistosos de pré-temporada, o custo dessa transmissão internacional não compensa.

Mais: pelo próprio fato de haver uma descentralização na geração de imagens, com quem a ESPN iria negociar para arranjar esse bendito sinal limpo do satélite? Será que uma afiliada teria capacidade e dinheiro para gerá-lo?

De modo análogo, seria o mesmo caso da EA Sports e do FIFA com os times brasileiros. Pelo fato de não haver no Brasil uma entidade “centralizadora” dos direitos de propriedade intelectual dos clubes e dos direitos de imagem dos jogadores, a EA tem que negociar individualmente com as equipes do Campeonato Brasileiro.




Feita a analogia, fazer isso para transmitir partidas de pré-temporada da NFL no Brasil… Não compensaria. Porque sequer haveria a certeza de que padrões técnicos mínimos seriam respeitados. Ademais, outros problemas poderiam surgir. No caso dos Bears, por exemplo, uma equipe de TV do próprio Chicago Bears transmite a partida para Chicago na pré-temporada. Imagina a bagunça que seria ter que negociar direitos diretamente com uma própria equipe da liga enquanto as outras teriam, em hipótese, transmissão internacional pela afiliada da CBS.

Por que não temos transmissões da Semana 1 e da Semana 4?

Isso é mais do que natural se pensarmos em quem vai para campo nessas duas semanas. Na Semana 1 da pré-temporada, os titulares ainda estão ganhando ritmo de jogo. Assim, natural que sejam poupados ou que joguem menos. Como a Semana 3 é o grande “ensaio geral” para a temporada regular, os titulares jogam mais tempo nessa partida – e, como consequência, só a “turma do terrão” na Semana 4. Raramente ela conta com um titular.

Como as transmissões são definidas nos EUA?

As partidas com transmissão nacional na FOX, ESPN americana, CBS e NBC costumam ter narrativas ligadas à intertemporada – trocas, free agency e Draft. É por isso que você não vê tantas partidas de Green Bay, New England e Seattle, por exemplo. Nesses times, não há um quarterback novo – o que costuma ser o grande atrativo de partidas de pré-temporada, dado que os reservas jogam muito mais tempo.

E ainda tem o GamePass

Se no Brasil a saída para assistir a todas as partidas da pré-temporada acaba sendo o GamePass – Pay Per View da NFL – nos Estados Unidos também acontece isso. Raros são os jogos de pré-temporada que possuem transmissão em todo o território americano. Em realidade. são oito: o MESMO número de transmissões no Brasil. Como são jogos de transmissão nacional e gerados pela equipe principal das emissoras, a logística de sinal e etc permite que haja a transmissão internacional.

De maneira a fazer com que haja um lucro desse status quo, à própria NFL se interessa que os jogos, mesmo nos Estados Unidos, não tenham muitas transmissões nacionais. Porque aí estimula o fã mais ávido a assinar o GamePass.

No Brasil, um mercado no qual o GamePass é ainda mais interessante de se vender (por conta das transmissões aqui não acontecerem em TV aberta como nos EUA), a liga também acaba usando essa falta de transmissões de modo a promover seu Pay Per View.

Assim, a ESPN brasileira transmite, até 2016,  as partidas que também são transmitidas pela ESPN americana. Desde o ano passado, são oito – as transmissões nacionais dos EUA. Por contrato, oito por pré-temporada. São essas que você vê acima.

LEIA TAMBÉM: CALENDÁRIO DE TRANSMISSÕES NA PRÉ-TEMPORADA 2018; ESPN

“Porque sim”, “porque eles não ligam pra pré-temporada” e conexos ou o clássico “o Brasil é uma bagunça” não são respostas para essa questão. A problemática passa, portanto, pela dinâmica de transmissões dos próprios Estados Unidos – as quais são descentralizadas na pré-temporada, dificultando, assim, cobertura internacional desses jogos. Não só aqui, mas em outros países também.

E se você gostou deste texto, me ajude: divulgue. Quando alguém perguntar ou reclamar sobre, as explicações estão acima. Não pelo site ou por mim mesmo, mas para reduzir a desinformação a respeito desse tema. Certo? E agora vamos juntos rumo à temporada 2018.

Para saber mais:
Link para comprar o Manual do Futebol Americano, livro no qual falo mais sobre a lógica de transmissões dentre outros assuntos.




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