Fora de Jogo: A carruagem dos Los Angeles Rams virou abóbora?

A mente ofensiva de Sean McVay começa a esbarrar no crescimento natural das defesas, resultando em três derrotas consecutivas

A carruagem do Los Angeles Rams entrou de forma deslumbrante na temporada. Vencendo sete dos seus primeiros oito confrontos, incluindo os atuais campeões do Super Bowl, a equipe mostrou um gigantesco arsenal ofensivo – como de praxe para o seu técnico Sean McVay. Com Matthew Stafford under center, abriu-se a possibilidade de lançamentos que simplesmente não eram possíveis na era Jared Goff – seja pela precisão, processamento mental ou até mesmo velocidade da bola entre quarterbackwide receiver. Como o analista Ben Solak colocou, Stafford permite que o time conquiste a primeira descida mesmo quando o look defensivo é o correto para a chamada ofensiva, algo que não ocorria com Goff.

Toda essa explosão encontrou percalços nas últimas três semanas. Derrotas para Tennessee Titans, San Francisco 49ers e Green Bay Packers, com uma média de 18 pontos nessa partida começam a mostrar os buracos dessa embarcação, ainda mais se observarmos que o time anotava cerca de 30 pontos por confronto antes dessa sequência de derrotas. A última vez que os Rams lideraram um jogo? Final do primeiro quarto contra Tennessee. Fica a pergunta: em que momento a carruagem de McVay se tornou abóbora?

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Há alguns anos, quando o New England Patriots venceu o Super Bowl LIII, justamente contra o Los Angeles Rams, lembro de ter exaltado a adaptabilidade de Bill Belichick como seu maior legado. A capacidade de absorver ideias e implementá-las conforme a situação faz do comandante dos Patriots o maior técnico da história, surfando as ondas de tendências ofensivas e defensivas, dançando conforme a música. Desde o Super Bowl LIII, essa característica de Sean McVay foi colocada em xeque. Naquela partida, o técnico mostrou os mesmos padrões ofensivos, as mesmas formações e ideias, e se tornou uma presa fácil para a brilhante defesa do time de Boston.

Da mesma forma, em algum grau, McVay repete sua própria história. Com seu 11 personnel em quase 90% dos snaps, variando praticamente apenas para o 12 personnel, um dos charmes do técnico de 35 anos é executar todos os conceitos ofensivos com o mesmo grupo em campo. Ao mesmo tempo, há uma superexposição das ideias para que coordenadores defensivos estudem, internalizem e combatam. Por mais criativa que possa ser uma combinação de rotas, em algum momento seu Van Jefferson não conseguirá realizar um bloqueio tão bom quanto um segundo (ou terceiro) tight end.

O ponto é: há uma série de ideias e conceitos que podem – e devem – ser incluídos ao longo de uma temporada para manter seu ataque “novo”. A repetição sobre o mesmo tema coloca um prazo na explosão ofensiva de setembro; eventualmente, lá por novembro, quando o frio começa a invadir os campos da NFL, o fogo vira brasa. É como se fosse uma meia-vida do futebol americano.

Na questão da insistência, vejamos um exemplo. Neste ano, graças à chegada de Matthew Stafford, McVay precisa mostrar que seu time funciona a partir do shotgun. Em 2021, é o décimo oitavo time que opera a partir dessa formação, sendo que era a franquia que menos o fez entre 2018 e 2020. Além disso, o time simplesmente abandonou o play action desde que Stafford tomou as rédeas do ataque: o time foi o líder em jogadas desse tipo entre 2018 e 2020 e hoje é o vigésimo sexto da NFL. Em tentativas corridas, é o vigésimo terceiro; nos anos Goff-McVay, o nono.

Falta equilíbrio. As play actions que eram tão bem desenhadas para dar looks simplificados para Jared Goff, podem fazer o mesmo por Matthew Stafford. Pode manter as defesas “honestas” contra a corrida – cujo volume sumiu. Nem toda jogada precisa ser um arco perfeito no meio das zonas para Cooper Kupp. Inclusive, considerando que Matthew Stafford está mostrando desgaste físico e jogando com uma lesão crônica no cotovelo, facilitar a vida do seu quarterback é um mérito.

De alguma forma, McVay é teimoso e parece querer provar um ponto. Sem sombra de dúvidas ele entrará para a história como uma das grandes mentes ofensivas da sua geração, mas quando veremos o técnico implementar conceitos novos em novembro? A lesão de Stafford já se mostrou um entrave para certos lançamentos que ele vinha acertando, mas, ao mesmo tempo, o técnico não aliviou a vida do camisa 9. Questionávamos se o ataque dos Rams era limitado por Jared Goff e agora, com Matthew Stafford, estamos novamente fazendo a mesma pergunta – nesse caso, pela lesão. Talvez tenhamos que vislumbrar que o problema também recai fora das quatro linhas, e, se há de fato essa dificuldade em inovar e se adaptar, a era McVay encontra um grande obstáculo.

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Acredito que esse texto tenha tomado uma direção muito crítica em relação à condução de Sean McVay durante a temporada regular. De certa maneira, essa crítica é merecida e, mais do que isso, antiga. Ainda assim, não é como se o Los Angeles Rams fosse sair da corrida pela pós-temporada do dia para a noite. A partida contra o Jacksonville Jaguars, no domingo, provavelmente não forçará muitas novidades deste ataque. Agora, na sequência Cardinals-Seahawks-Vikings-Ravens-49ers, o buraco é mais embaixo.

No fim das contas, o time do Los Angeles Rams é imensamente talentoso e Sean McVay é extremamente inteligente, não dá para atear fogo em tudo e ajustes podem ser feitos ainda. É frustrante, como apaixonado pelo esporte, ver que este ataque perde potência ao longo dos meses da temporada regular. Cabe ao técnico encontrar novas ideias ofensivas, sob pena de ser o “time sensação de setembro” por anos a fio.

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