Há algumas semanas, trouxe a possibilidade da NFL estar nivelada por baixo – embora eu, particularmente, discorde. Essa sensação passa, definitivamente, pelas temporadas abaixo do esperado de Patrick Mahomes e Josh Allen. Os quarterbacks do Kansas City Chiefs e Buffalo Bills, respectivamente, encontram dificuldades em 2021 e mostram-se “mortais”. Caem do Olimpo, ainda que por um ano, e se tornam humanos.
De alguma forma, esperamos sempre uma melhora dos jogadores a cada ano no qual eles respiram o futebol americano profissional. Aprimoramentos mentais e físicos, uma compreensão maior do jogo em si e conceitos novos pela comissão técnica. Claro, nem todos os atletas são sortudos o suficiente para esse pacote de melhorias. Por vezes, uma lesão frustra uma temporada promissora. Outras, os vícios de leitura e erros de processamento tomam conta. Ou, ainda, uma comissão técnica comprometida com o retrocesso ceifa anos produtivos de talentos com grande potencial – um abraço para Urban Meyer.
A bem da verdade, nenhum desses males acometeu Patrick Mahomes ou Josh Allen. Na verdade, influências bem distintas trouxeram os titulares da final de conferência do ano passado para um patamar mortal. Do lado do Kansas City Chiefs, vimos Mahomes precisando compensar uma defesa frágil, e falhando diversas vezes. No afã de precisar ser o herói e colocar o time nas costas, lançamentos irresponsáveis e interceptações evitáveis caracterizaram a primeira metade da temporada do camisa 15. Com a melhoria defensiva, o time alcançou seis vitórias consecutivas, mas o velho Patrick Mahomes ainda não ateou fogo na torcida. Aquela certeza de marchar o campo com passes quilométricos e precisos ainda não voltou.
Pelo Buffalo Bills, Josh Allen está num ataque profundamente desequilibrado. O analista e scout Russell Brown trouxe uma estatística curiosa: durante seus 57 jogos como titular, apenas duas vezes Allen teve corredores para mais de 100 jardas (Frank Gore em 2019 contra os Patriots e Devin Singletary contra Denver também em 2019). É um peso enorme colocar o time nos ombros sem um auxílio de um jogo terrestre. As defesas não respeitarão a possibilidade de um tentativa de corrida, anularão suas melhores opções aéreas e você estará fadado a passes curtos para o seu checkdown. Russell Brown fez uma comparação dolorosa: lembra Matthew Stafford nos seus dias em Detroit.
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Sem lesões, sem problemas de processamento mental e com coordenadores e técnicos competentes, Mahomes e Allen voltam à normalidade da NFL. Os dois times mais badalados de 2020 não trazem mais a sensação de que são inevitáveis. Dois minutos no relógio, Mahomes com a bola precisando de um touchdown? O adversário sabia que estava prestes a testemunhar um passe milagroso. A escapada do pocket de Allen não garante mais uma primeira descida ou uma conversão gigante de third down. Os jogadores não perderam seus talentos; a competição ao redor cresceu, as defesas responderam taticamente com dois safeties no fundo do campo e menos blitzes. Forçaram os dois a serem mais conservadores e, por tabela, mais mortais.
O Buffalo Bills e Kansas City Chiefs, após 2020, pareciam destinados a se reencontrar na pós-temporada. E, para os dois times, de alguma forma, isso bastou para trazer as mesmas ideias em 2021. Não me entendam errado, são duas equipes de ponta. Só que a competição ao redor cresceu. Em agosto, dificilmente falaríamos que o Los Angeles Chargers poderia bater o Kansas City Chiefs, ou que os New England Patriots venceria os Bills em Buffalo com três tentativas de passe. Dito e feito. As divisões mostram maiores desafios do que nos anos anteriores – a tendência da NFL de se acostumar às coqueluches de cada temporada.
Para a Conferência Americana, essa “mortalidade” dos signal callers é uma oportunidade. Os dois times são dificílimos de vencer, mas não são imbatíveis. Os Kansas City Chiefs devem aproveitar a vantagem de jogar em casa na pós-temporada, os Bills não parecem estar nesse caminho. Alguém duvida que Joe Burrow possa superar Josh Allen num Wild Card da vida? Eu não. E, se eu não duvido, tenho certeza que os jogadores dos Bengals também.
Patrick Mahomes e Josh Allen são brilhantes. Eles apenas não cresceram da forma que o fizeram nos anos anteriores, e não há nada de errado nisso. Eles encontrarão novamente seu melhor jogo, sem sombra de dúvidas. Só que em 2021, está tudo aberto na AFC. Que temporada!
