Joe Mixon, a polêmica do Draft deste ano

Atletas devem ser um modelo para a sociedade? Qual é o limite para a NFL intervir? Como agir com estrelas do esporte que são acusadas de fazer coisas horríveis como Ben Roethlisberger, Ray Lewis e tantos outros? Até que ponto deve ser dado uma segunda chance para alguém? Neste Draft, sem sombras de dúvidas, esta discussão voltou a acontecer com a possibilidade de Dalvin Cook, Dede Westbrook e Joe Mixon (o mais polêmico de todos) serem escolhidos.

Para quem não sabe quem é ele, um resumo breve de sua carreira. Mixon foi o vigésimo primeiro melhor jogador do país indo para a universidade e acabou em Oklahoma. Logo antes de seu ano de calouro, Mixon agrediu covardemente uma moça, um soco que quebrou quatro ossos de sua face, em um bar e a polícia alegou que tinha o vídeo, mas não iria liberar.

running back, instruído pela universidade, chegou a um acordo Alford, que significa que ele reforçava que era inocente mas se a investigação fosse a fundo poderiam existir provas que mudassem o cenário. Como punição ele teve que fazer 100 horas de trabalho comunitário, entrar em um grupo de tratamento e ficou sem jogar futebol americano por um ano – uma punição extremamente branda.

O problema da liga com imagens

O grande problema da NFL, hoje em dia, é o mesmo da nossa sociedade: só ficamos chocados quando existe um vídeo que comprove a agressão (seja de qualquer natureza). A polêmica ao redor de Mixon só estourou de vez quando a polícia cedeu a pressão e divulgou o vídeo de sua covardia (cuidado, imagens fortes da agressão).

Após a moça agredida tentar entrar novamente na justiça, Mixon soltou uma nota pedindo desculpas, mas que mais parece uma tentativa de explicar a agressão. Nenhuma palavra em público, nada de oferecer ajuda para a moça agredida ou pensar em pagar pelo seu erro. Ofensas raciais, tapa na cara, empurrão, não adianta: nada justifica uma agressão de um homem (especialmente um atleta forte e alto como Mixon) contra uma mulher. Qualquer pessoa com bom senso (e olhe que ele mesmo fala que não estava alterado) simplesmente sairia andando e ignoraria. Mixon foi covarde, deu um soco nela e colocou-se em uma situação complicada.

Ben Roethlisberger e Ray Lewis não foram condenados, você pode alegar, por isso não houve nenhum tipo de rejeição. Só que Josh Brown e Greg Hardy fizeram coisas tão terríveis quanto e ainda continuaram jogando por um bom tempo. Eu sei que, no momento da condenação, Mixon era jogador de Oklahoma, no entanto é a NFL que tem que saber lidar com um filtro para não manchar a sua imagem profissional. Apenas bloquear o atleta de ir ao Combine é muito pouco: o correto seria bloquear alguém com problemas na justiça até que se resolva. Isso mostra o quanto a liga não sabe administrar uma coisa tão fácil de se resolver.

Não é querer ser o paladino da moralidade, mas é preciso ser inteligente: jogadores assim mancham a imagem do futebol americano e criam uma rede de impunidade exemplar. Mixon ser draftado (e ele será, assim como Dalvin Cook) só reforça esta incapacidade da NFL em filtrar péssimos exemplos para a sociedade.

Em campo

Em campo  não há como descartar a qualidade de Joe Mixon. Ele tem agilidade, força, visão, capacidade de recepção e produtividade. Para quem gosta de estatísticas, na última temporada ele teve pouco menos de 1300 jardas, com uma média de 6,8 por tentativa e cinco touchdowns. Recebendo? 538 jardas e mais cinco touchdowns.

Não há como negar a sua capacidade de ser um running back completo. Mixon é o tipo de jogador que é procurado na NFL moderna: um back que pode jogar no slot, pode jogar com inside ou outside zone blocking e até mesmo em ataques que gostem de corridas pelo meio no melhor estilo smash mouth football. Um LeSean McCoy com mais velocidade final, ele é um talento de primeira rodada – olhando somente dentro de campo, vale ressaltar.

Com o seu atleticismo, Mixon talvez seja o segundo ou terceiro melhor da classe no quesito talento. Mais forte e veloz que Dalvin Cook e aguenta mais contato do que Christian McCaffrey – os três formam o bloco logo atrás de Leonard Fournette como os prospectos mais prolíficos da posição. Mixon ainda precisa melhorar muito o seu bloqueio e a sua capacidade de correr rotas – McCaffrey é muito melhor que ele nos dois pontos, por exemplo. Mesmo assim, ele poderia sair dentro do top 20 caso não fosse um ser humano tão questionável.

A óbvia comparação entre Michael Vick e Joe Mixon ou qualquer outro

Muita gente fala em segunda chance: “muita gente merece uma chance de se redimir após um grande erro”. Pode ser, mas é preciso pagar pelo seu erro (da maneira correta) antes de se redimir.

Para quem não sabe, Michael Vick foi a segunda escolha geral por parte de Atlanta e se envolveu em uma polêmica de organizar brigas de cachorro. Vick acabou ficando dois anos em uma cadeia federal, voltou para a liga e foi um sólido titular por algum tempo em Philadelphia. A grande diferença de Vick para Mixon, por exemplo, é que o quarterback assumiu a culpa no julgamento, aceitou cooperar com as investigações e pagou pelo seu crime horroroso. Depois de sair da cadeia, Vick nunca se negou a comentar o caso e admitir arrependimento. Além disso, ele virou um ativista dos direitos dos animais e apoia institutos que batalham por melhores condições para os animais.

Compare esta situação com Mixon: ele alegou inocência, mas aceitou um acordo. Durante as entrevistas para o Orange Bowl de 2015, Mixon se negou a comentar sobre o assunto, instruído pelos seus advogados. A sua punição foi extremamente branda e o seu único comentário sobre o assunto foi uma nota para a imprensa depois do vídeo divulgado.

Ele vai ser draftado?

Sim, sem sombras de dúvidas. As entrevistas com Mixon devem estar sendo tensas, mas ele deve sair no final da segunda/início da terceira rodada. Algumas franquias (faria o mesmo como general manager) não vão o ter em seu draft board, porém outras franquias não vão se importar em ter um pequeno problema no vestiário – afinal o que valerá será o talento de primeira rodada que eles estão escolhendo.

Visivelmente a NFL não está sabendo lidar com os tempos modernos, seja em questões das drogas ou da violência. Do outro lado, as franquias acabam deixando por isso mesmo, se fazendo de João-sem-braço por causa do talento do cara. Se Mixon estivesse realmente arrependido e tivesse pagado pelo seu crime, ele mereceria uma segunda chance por parte do futebol americano – que nem foi com Michael Vick. Desta maneira agora, eu só torço para que meu time nem pense em escolhê-lo em abril.

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