Josh Allen, Most Improved Player

Em 2020, não existe um jogador que teve um salto de produção mais notável do que Josh Allen, fruto de sua ética de trabalho e de um processo natural que teimamos em acelerar com quarterbacks saídos do College.

Este trecho é parte da coluna 4 descidas, escrita por Antony Curti. Você pode encontrar a coluna completa clicando aqui.

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Nos últimos anos, perdemos a paciência com quarterbacks. Até o incrível Draft de 2004 (Eli/Rivers/Roethlisberger) era natural esperar pelo menos três anos até descer a lenha nos passadores. Até então, eles chegavam um tanto quanto crus do college, sendo que a tendência do esporte universitário era correr como se não houvesse amanhã. Com a proliferação das spread offenses e um aumento no volume de passes dos quarterbacks, no melhor “quanto mais você faz, melhor fica”, os quarterbacks começaram a chegar mais prontos na NFL.

Josh Allen se tornou uma espécie de exceção dessa regra. Ainda em 2016, Allen era um prospecto da desconhecida Wyoming que dividia opiniões sobre seu potencial. Sua força no braço e seu porte físico impressionavam os scouts da NFL, mas sua produção – e, francamente, seu game film – assustavam outros que eram mais céticos ao seu real potencial. Seus 56,3% de passes completos no seu último ano de futebol americano universitário também não contribuíram para afastar seus críticos, o que não impediu o Buffalo Bills de subir no Draft de 2018 para selecioná-lo com a 7ª escolha geral.

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Quem dizia que Allen não justificava sua escolha tinha um ponto. Ele era, afinal de contas, um completo projeto – apesar do atleticismo invejável e do braço forte, existiam muitas falhas em seu jogo que provocavam dúvidas se ele poderia um dia ser um grande quarterback na NFL. Assumir a titularidade na semana 2 depois de uma offseason inteira como reserva não contribuiu com sua causa, porém, decisões ruins com a bola, falta de precisão e um trabalho de pés medíocre permearam suas duas primeiras temporadas na liga.

Agora, voltando à questão da paciência, Allen está no ‘ano decisivo’ de sua carreira, quando se espera que o jogo fique menos difícil para o quarterback e que ele consiga um salto de produção considerável depois de dois anos de adaptação da liga. Felizmente, é justamente o que vimos na temporada regular: um jogador muito mais inteligente, mais evoluído, mais decisivo. Em grande parte, podemos creditar essa evolução ao coordenador ofensivo Brian Daboll, o que lhe deve render um cargo de head coach em 2021.

Só que nada disso acontece se o jogador não estiver disposto, ou melhor, não quiser melhorar. Dois exemplos claros contrastam com Josh Allen nesse sentido: Dwayne Haskins, escolha de Washington na primeira rodada em 2019 e que foi dispensado do time por sua péssima ética de trabalho; na mesma divisão, Carson Wentz regrediu fortemente desde sua forte segunda temporada, e vários relatos vindos da Philadelphia fazem referência ao jogador não aceitar muito bem ser criticado.

Allen mostrou uma ética de trabalho ímpar nos seus três primeiros anos de liga. Todos aqueles que já treinaram o jogador sempre elogiaram sua dedicação e o quão bem ele lida com as críticas se isso lhe ajudar a ser um jogador melhor. O resultado disso foi possível ver em campo em 2020.

Não existe o prêmio de Most Improved Player (MIP) de maneira oficial na NFL e portanto não vamos citá-lo na semana de prêmios (ou vamos, sei lá, podemos inventar regras). Então vou aproveitar para falar sobre aqui. Josh Allen provavelmente seria o eleito para tal prêmio, uma consolação mais do que merecida caso ele não seja o MVP. Allen saiu de 58,8% de passes completos para 69,2% – um salto faraônico. Nos números de touchdowns/interceptações, saiu de 20-9 para 37-10 – ou seja, ele saiu de 2,22 touchdown para cada interceptação para 3,7, um aumento de 1,5 (aproximadamente). É um salto pra lá de relevante e fazia tempo que não víamos isso.

Por tabela, começou a ser comum que o quarterback fosse o Calouro Ofensivo do Ano, coisa mais rara anteriormente.

Como objeto de estudo, senão, vejamos: entre 1994 e 2003, nenhum quarterback foi eleito Calouro Ofensivo do Ano. Entre 2004 e 2013, foram seis. Então, por conta desse viés “eles estão chegando mais prontos”, por contraste, analistas e torcedores perderam a paciência mais cedo do que deveriam com Josh Allen. Eu, incluso, faço minha mea culpa aqui. Por tabela, estou esperando o terceiro ano de Daniel Jones e Drew Lock para tirar conclusões mais precisas – embora, sejamos francos, a tendência é mais negativa do que Allen em fins de 2019, visto que o elenco de apoio é pior do que Josh Allen tinha em Buffalo (e também porque Allen mostrou uma relevante evolução de 2018 para 2019, coisa que não vejo muito nos dois casos).

O ano de Josh Allen, portanto, é um paradigma muito importante para a análise de quarterbacks da NFL – a lição, creio, foi re-aprendida por todos nós.

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