Jogando em um time que não vence muitas partidas e nem briga por nada muito grandioso em 2019, Kyler Murray voou abaixo do radar por boa parte da temporada. Contudo, não há mais como ignorar o excelente ano de estreia do quarterback calouro, sobretudo levando em conta as suas cinco últimas partidas pelo Arizona Cardinals, as quais incluem dois grandes duelos contra o San Francisco 49ers, uma das equipes mais fortes da NFL – Arizona saiu derrotado em ambas as vezes, mas deu muito trabalho a um adversário que só perdeu uma vez em 2019.
Murray aos poucos vem superando toda a polêmica que cercou a sua escolha na 1ª posição geral do último Draft, crescendo de rendimento semana a semana e mostrando ser um ótimo encaixe no ataque de Kliff Kingsbury. Hoje, quase ninguém mais defende a ideia de que os Cardinals deveriam ter insistido com Josh Rosen, que acabou sendo trocado para o Miami Dolphins, ao invés de selecionar Murray, uma discussão que dominou os sites e programas dedicados ao futebol americano nas semanas antes e depois do Draft.
Murray, por sinal, vem se destacando tanto que já parece liderar a corrida pelo Prêmio de Calouro Ofensivo do Ano. Em uma temporada na qual existem poucos calouros tendo um grande impacto no ataque das franquias, apenas Josh Jacobs, running back do Oakland Raiders, ameaça a coroa de Kyler, sobretudo após Gardner Minshew perder a posição para Nick Foles no Jacksonville Jaguars.
Embora atlético e elusivo, Murray é acima de tudo um bom passador
É difícil não comparar Murray com Lamar Jackson depois do belo touchdown corrido de 22 jardas anotado pelo calouro diante dos 49ers no domingo. Kyler também é muito atlético, veloz e perigoso com a bola nas mãos, embora, até agora, não tenha se mostrado tão explosivo e produtivo pelo chão quanto Lamar. Ainda assim, ele é o segundo signal caller com mais jardas terrestres (418), além de já ter entrado três vezes na end zone.
Uma outra estatística que revela a mobilidade do quarterback de Arizona é, até antes do último duelo contra os 49ers, ele ter conseguido escapar da pressão dos pass rushers adversários 31% das vezes, 10% a mais do que Derek Carr, o segundo no ranking da NFL Next Gen Stats. Mesmo assim, Kyler já foi sackado em 35 oportunidades, 4ª pior marca da liga, o que revela como ele tem recebido pouca ajuda da sua linha ofensiva apesar de ser muito elusivo.
Por outro lado, continuando as comparações com Lamar, é digno de nota que Murray é um passador muito mais consistente em sua temporada de calouro do que Jackson foi em 2018, em termos de mecânica, precisão e tomada de decisões. Isso é importante porque o esquema ofensivo de Kingsbury é focado no jogo aéreo, ao contrário do ataque do Baltimore Ravens, logo ter um signal caller lançando a bola com qualidade é primordial.
Existem alguns números que provam a consistência de Murray. Por exemplo, ele quebrou o recorde da NFL de mais passes tentados por um quarterback calouro sem ser interceptado: foram 211 entre as semanas 4 e 10, superando os 176 conseguidos por Derek Carr (2014) e Dak Prescott (2016). É verdade que foram passes curtos em várias ocasiões, outra constante no ataque de Kingsbury, mas não é como se Kyler apenas lançasse bolas perto da linha de scrimmage o tempo todo: ele, por exemplo, já passou das 300 jardas aéreas em quatro partidas, além de ter lançando pelo menos 30 vezes em oito jogos, mostrando que costuma ser bastante exigido – ainda mais para um calouro.
Aliás, a qualidade de Murray cuidando da bola é o que mais chama a atenção. Enquanto Daniel Jones, outro quarterback calouro que lança bastante e é muito exigido pelo técnico, é uma máquina de turnovers (oito interceptações e nove fumbles), Kyler só foi interceptado cinco vezes e não perdeu nenhum fumble.
Do ponto de vista da sua evolução como quarterback, entre as semanas 6 e 11, Kyler soma 66% de passes completos, 1,379 jardas (média de 230 por jogo), 10 touchdowns e uma única interceptação – esse turnover, contudo, é importante dizer que foi determinante para a derrota contra o Tampa Bay Buccaneers. Durante esse intervalo, Kyler cruzou duas vezes com a poderosa defesa dos 49ers e uma vez com a do New Orleans Saints, mostrando que não foi uma sequência simples de oponentes.
Arizona soma quatro derrotas consecutivas, porém definitivamente não por culpa de Murray e do resto do ataque. A defesa, bastante carente de talento, é que no final acaba entregando os pontos e permite que os adversários virem o marcador. Em todo o caso, é evidente que a franquia aparenta estar no rumo certo com Kingsbury e Murray liderando a reformulação pós-era Bruce Arians – o curto período de Steve Wilks como head coach, por sua vez, foi um erro tão grande que não vale a pena nem ser lembrado.
Briga pelo Offensive Rookie of the Year está praticamente restrita a Kyler Murray e Josh Jacobs
Como dissemos antes, 2019 vem sendo uma temporada fraca para os calouros ofensivos. Além de Murray e Jacobs, os únicos outros que merecem algum destaque especial são os wide receivers D.K. Metcalf e Terry McLaurin, mas nada que, pelo menos até agora, justifique o prêmio.
Jacobs coleciona ótimas estatísticas com os Raiders e é o jogador mais talentoso no ataque da franquia. O problema é competir contra um quarterback, uma posição que inevitavelmente acaba sendo mais valorizada. Saquon Barkley conseguiu desbancar Baker Mayfield em 2018, mas ele teve uma temporada bem mais impressionante do que a de Jacobs, além de ser um jogador muito mais talentoso em comparação ao running back dos Raiders. Por tudo isso, acreditamos que Murray tenha assumido a liderança na disputa e, por ora, seja o favorito, principalmente se mantiver o alto nível das últimas apresentações.






