Matt LaFleur: a jovem aposta dos Packers

A sintonia com Aaron Rodgers será fundamental para o novo técnico

Depois de quase 13 temporadas sob o comando de Mike McCarthy, o Green Bay Packers decidiu seguir por um caminho diferente. Depois de uma procura ampla, mas rápida – foram entrevistados 10 candidatos em um período de poucos dias -, a direção da equipe optou pelo até então coordenador ofensivo do Tennessee Titans, Matt LaFleur.

LaFleur carrega consigo, além do sua atuação em Nashville, o “pedigree” de ter trabalhado junto a duas das principais mentes ofensivas da liga: Kyle Shanahan e Sean McVay.

Baseado em sua experiência prévia na NFL, o que podemos esperar de Matt LaFLeur no comando dos Packers? A ideia inicial parece clara: transformar o ataque de Green Bay, que vinha preso em conceitos ultrapassados, em uma unidade alinhada com o que há de mais moderno e eficiente em termos de sistema ofensivo.

Hoje discutiremos de que forma Matt LaFleur pode realizar essa transformação, lidando com as características e limitações do elenco ofensivo de seu novo time; isto sem contar a adaptação mútua entre o técnico e a principal estrela do time, Aaron Rodgers. Os relatos da relação complicada entre Rodgers e Mike McCarthy já indicam que este pode ser o primeiro grande desafio de LaFleur.

A “matriz ofensiva” de Matt LaFleur

Cada técnico carrega em si as marcas e o estilo dos sistemas ofensivos que trabalhou ao longo de sua trajetória, e com Matt LaFleur não é diferente. O novo técnico dos Packers, desde sua chegada à NFL, em 2008, vem trabalhando com nomes como Kyle Shanahan e Sean McVay, estrelas da estratégia ofensiva moderna.

Shanahan, atual técnico do San Francisco 49ers, utiliza um sistema de leitura pré-snap baseado em movimentação, associado a combinações variadas de rotas e jogo corrido por zona; já McVay, técnico do Los Angeles Rams, impressiona com a velocidade de seu ataque, que agride as defesas com variação e ritmo, abrindo espaços para ganhos explosivos de jardas.

LaFleur foi técnico de quarterbacks em Washington e Atlanta, e coordenador ofensivo em Los Angeles. Sob o comando direto ou indireto do novo técnico dos Packers, quarterbacks de estilos diversos como Robert Griffin III, Matt Ryan e Jared Goff tiveram suas melhores temporadas na NFL. Este desempenho levou LaFleur à posição de coordenador ofensivo dos Titans onde, ao contrário do que acontecia nos Rams, teria chance de chamar as jogadas ofensivas do time.

2018

Os maiores questionamentos sobre a escolha dos Packers por Matt LaFleur vêm justamente por conta da performance do ataque que ele comandou em 2018. Ao contrário dos ataques explosivos nas passagens anteriores de LaFleur, os Titans apresentaram dificuldades importantes em mover a bola e marcar pontos: a equipe terminou a temporada como apenas a vigésima segunda melhor com relação à produção ofensiva (em DVOA, medida analítica do site Football Outsiders). Daí vem a questão: Matt LaFleur traz de fato um grande potencial ofensivo ou estava apenas no lugar certo na hora certa, trabalhando junto a McVay e Shanahan?

Há alguns fatores que justificam o desempenho irregular do ataque dos Titans em 2018. Primeiramente, a performance do quarterback Marcus Mariota, que segue como um quarterback irregular, com dificuldade de trabalhar no pocket e com irregularidade de acurácia, principalmente em passes para as laterais, em que a velocidade da bola é fundamental. O quarterback compensa isso com boa mobilidade e boa precisão em passes rápidos e em profundidade pelo meio, principalmente quando usa mais toque do que força. Em 2018, no entanto, até seus pontos fortes foram prejudicados por uma contusão no cotovelo que o limitou ao longo do ano.

Além disso, o elenco ofensivo dos Titans – particularmente na linha ofensiva – foi montado de acordo com o regime anterior, voltado para o jogo corrido de força. Finalmente, o time perdeu sua principal arma ofensiva (o tight end Delanie Walker) logo na semana 1. Com isso, LaFleur teve que se adaptar, priorizando em muitos momentos o jogo corrido com Derrick Henry.

No entanto, foi possível observar algumas características positivas, que devem ser transportadas para Green Bay. O uso de running backs e tight ends como armas frequentes no jogo aéreo, além de movimentação antes do snap e combinações de rotas variadas são marcas do estilo ofensivo de LaFleur, que podem se encaixar bem com o elenco dos Packers. O uso de formações variadas, com receivers e tight ends alinhados juntos (bunch), sendo utilizados como bloqueadores ou recebedores, traz uma variabilidade não vista antes no ataque dos Packers.

Outro fator que pode se transferir do ataque dos Titans em 2018 para o dos Packers em 2019 é a busca pelo ganho explosivo, uma das chaves do sucesso de todo ataque na NFL dos dias de hoje. Tentando manufaturar aberturas em profundidade através da combinações de rotas, LaFleur busca os avanços de mais de 20 jardas, que por sua vez abrem os caminhos para o jogo corrido e os passes curtos.

Perspectivas para os Packers em 2019

Com a chegada de Matt LaFleur, podemos esperar que os Packers mostrem um ataque mais variado, com uso das formações bunch e das múltiplas combinações de rotas que caracterizam os mais modernos sistemas ofensivos da NFL. Em termos de elenco, LaFleur conta com uma linha ofensiva de qualidade na proteção ao passe (ainda que com necessidade de reforço na posição de right guard), e com recebedores jovens e de características complementares (Davante Adams, Marquez Valdes-Scantiling e Equanimeous St. Brown).

O que, a princípio, falta aos Packers para a instalação do sistema de LaFleur é um tight end que possa executar as funções de bloqueador e recebedor. Jimmy Graham, em sua condição física atual, não parece ter a versatilidade necessária para atuar neste sistema; por outro lado, quem tem tudo para florescer sob o comando de LaFleur é o running back Aaron Jones. Capaz de fazer ótimos cortes nas corridas com bloqueio por zona, Jones deve ser muito mais utilizado como recebedor, situação em que sua explosão pode fazer muita diferença.

Ao longo dos últimos dias, Matt LaFleur começou a montar a sua equipe de assistentes. Sob o ponto de vista defensivo, o coordenador defensivo dos Packers em 2018, Mike Pettine, permanecerá no time em 2019. A defesa do time mostrou progresso em 2018 com relação a anos anteriores, com bom desempenho particularmente da linha defensiva, mas tem déficits importantes nas posições de edge rusher e safety.

Com relação ao ataque, LaFleur trouxe para a posição de coordenador ofensivo Nathaniel Hackett, que ocupou a mesma posição no Jacksonville Jaguars até o mês de novembro deste último ano, quando foi demitido pelo técnico Doug Marrone. Aliás, toda a experiência de Hackett como coordenador ofensivo vem sob o comando de Marrone, o que pode dificultar a real avaliação do seu trabalho: Marrone é um técnico de origens ofensivas, mas que fez (e faz ainda) sua carreira seguindo a cartilha do “machão do jogo corrido”, que de maneira impressionante (mas nada surpreendente) ainda garante empregos na NFL.

Hackett carrega ainda sua história familiar. Seu pai, Paul, é um discípulo de Bill Walsh. Quando atuou como coordenador ofensivo na NFL, Paul Hackett executou versões muito estritas da West Coast Offense, com pouca variação. Claro que isso não significa que Nathaniel Hackett trará este tipo de conceito para os Packers, mas ainda assim, é sempre bom lembrar que a saída de Mike McCarthy mostra que os Packers queriam se livrar justamente de um sistema ofensivo estrito, com um misto da West Coast Offense com Air Coryell.

Claro que, mesmo com a chegada de Hackett, a expectativa é de que Matt LaFleur seja o principal arquiteto do sistema ofensivo, com o predomínio das características descritas mais acima. O ponto central de um eventual sucesso dos Packers na gestão de Matt LaFleur, no entanto, é o que discutiremos na seção a seguir: como vai funcionar o “casamento” entre o técnico e o quarterback Aaron Rodgers.

LaFleur + Rodgers

Aaron Rodgers é um grande quarterback. Entre os mais talentosos da liga. Isto não está muito sob discussão. O que também não se discute muito é que Rodgers é um cara difícil. Sua relação com Mike McCarthy veio se deteriorando ao longo desta última temporada, com críticas diretas ao plano de jogo do técnico em entrevistas e ao relato de companheiros de time sobre mudanças completas das chamadas do técnico no huddle.

Este tipo de acontecimento alimenta críticas ao quarterback e à direção da equipe, que estaria de alguma forma “subordinada” a Rodgers (lembrando que o quarterback assinou um novo contrato antes da temporada 2018, que o fez o jogador mais bem pago da liga). Rumores de que o quarterback foi informado da decisão de contratar Matt LaFleur antes mesmo do fechamento do contrato não deixam essas críticas irem embora.

De qualquer forma, a aparente insatisfação de Aaron Rodgers vinha, em teoria, do desejo por mudanças no sistema ofensivo. Essa mudança veio na forma de Matt LaFleur. O quarterback deve ficar satisfeito por atuar em um sistema mais moderno e, de certa forma, “mais amigável” ao passador, com leituras mais simples e aberturas manufaturadas pelas combinações de rotas.

Mas é aí que vem o outro lado. Pra dar certo sob o comando de LaFleur, Aaron Rodgers vai precisar ser mais disciplinado no pocket. O que temos visto, nas últimas temporadas, é que o quarterback tem preferido com frequência segurar a bola além das primeiras leituras, fugindo do pocket e tentando criar jogadas fora da estrutura do ataque. Ainda que isso muitas vezes resulte em jogadas espetaculares, também reduz a consistência geral do sistema ofensivo.

A grande pergunta que ronda o início da gestão de Matt LaFleur nos Packers é esta: o técnico será capaz de incutir na cabeça de Rodgers que ele precisa se ater mais aos limites do sistema ofensivo? LaFleur, de 39 anos, é apenas 4 anos mais velho que seu quarterback. Talvez essa proximidade facilite a comunicação, mas também pode dificultar na questão hierárquica. Particularmente em uma dinâmica em que Rodgers já possui tanto status.

Será muito interessante acompanhar este processo, que deve se estender por toda a intertemporada e training camp, se prolongando até mesmo pela temporada de 2019, primeira de Matt LaFleur como técnico principal.

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