De 4-12 para 13-3. De segunda escolha no Draft para segundo melhor time da liga. Por mais que o ano do San Francisco 49ers termine de forma totalmente desapontante, 2019 é uma temporada na qual o time pode olhar com orgulho para o processo de reconstrução que foi feito desde as chegadas de Kyle Shanahan e John Lynch e, mais ainda, pode dormir tranquilo sabendo que a fundação da equipe é bastante sólida – e tem tudo para ser duradoura.
Estamos falando aqui de um time que, com duas ou três decisões tomadas de forma diferente no Super Bowl, nem mesmo teria esse obituário: os 49ers estariam celebrando seu primeiro campeonato em 25 anos. A derrota dói bastante, principalmente pela forma que foi, mas o futuro de San Francisco é bastante animador.
Quais eram as expectativas do torcedor para 2019? Altas, porque a volta de Jimmy Garoppolo e as chegadas de Dee Ford e Nick Bosa eram bastante animadoras. Quando San Francisco teve Garoppolo saudável no final da temporada de 2017, o time terminou invicto, e a grave lesão no início do ano seguinte deixou um gosto amargo ao longo do restante do ano. 2019 era o ano em que o torcedor dos 49ers se permitiu sonhar.
Quais eram as nossas expectativas para 2019? Basicamente, Jimmy Garoppolo era pegar ou largar. Por mais que se pudesse ter uma ideia do quarterback que Garoppolo era, ele ainda não tinha uma temporada completa como titular – e isso adentrando seu sexto ano na liga. Se Shanahan pudesse fazer com que o ex-reserva de Tom Brady se tornasse de fato o franchise quarterback do San Francisco 49ers, 2019 teria que ser o ano pra isso. Do contrário, mais um processo de reconstrução teria início – sem Kyle Shanahan, sem John Lynch, sem Jimmy Garoppolo.
A defesa era um ponto de interrogação bastante interessante. O pass rush tinha promessa de ser bastante efetivo, especialmente com as chegadas de Dee Ford e Nick Bosa, mas a secundária não ia na mesma direção. Foram só 2 interceptações em 2018, e os outros nomes além de Sherman no grupo não impressionavam. San Francisco era um time passível de uma campanha positiva, contudo, esperar algo além de wild card era otimismo demais.
O que aconteceu: Se você somar as vitórias dos 49ers nas três campanhas anteriores, o número ainda é inferior aos triunfos de 2019. O time começou atropelando todo mundo que aparecia pela frente: algumas vezes mais dominante, outras nem tanto, mas a primeira metade da temporada foi inteiramente de vitórias.
A principal fortaleza da equipe estava na defesa comandada por Robert Saleh, que explodiu de produção em relação aos dois anos anteriores. As adições de Nick Bosa e Dee Ford tiveram o efeito esperado, só que, além disso, jogadores como Arik Armstead e D. J. Jones também tiveram um salto considerável. É um efeito cascata: com os coordenadores ofensivos tendo de focar sua preocupação em Bosa, Ford e o também excelente DeForest Buckner, outros jogadores tinham caminho facilitado pra dominar. Em seus 4 primeiros anos de NFL, Armstead teve 9 sacks somados; em 2019, foram 10.
Mais do que isso, o time estava pressionando todos os botões de forma correta. O ataque terrestre em outside zone foi extremamente eficiente o ano todo; para melhorar a produção pelo ar, o time trocou por Emmanuel Sanders, e ele se tornou o principal recebedor da equipe; George Kittle se tornou o melhor tight end da liga tanto recebendo quanto bloqueando para o jogo terrestre; Garoppolo executava o sistema de forma magistral; na defesa, Richard Sherman voltou ao nível de All-Pro que apresentava em Seattle, enquanto que as ascensões de Emmanuel Moseley e Dre Greenlaw também foram essenciais pro excelente nível defensivo; Fred Warner se tornou um dos melhores linebackers da liga – já há quem diga que ele é o melhor. Viu quanta coisa positiva foi possível citar em só um parágrafo?
A segunda metade da temporada regular não foi assim tão dominante quanto a primeira, o que podemos atribuir a algumas lesões de jogadores importantes. D. J. Jones, por exemplo, foi parar na Injured Reserve, e o time também não pôde contar com Dee Ford em alguns jogos. Kwon Alexander, linebacker importantíssimo, só voltou no fim da temporada. Houve uma queda de produção que quase impediu San Francisco de assegurar a primeira colocação geral na Conferência Nacional, e o time ficou a centímetros – literalmente! – de ter de disputar a rodada de Wild Card: se tivesse sido derrotado pelo Seattle Seahawks, apesar da campanha 12-4, os 49ers seriam apenas o cabeça-de-chave 5 na NFC, já que os Seahawks teriam campanha semelhante e a vantagem nos critérios de desempate por conta do confronto direto.
Quando a pós-temporada chegou, com o time descansado e recuperado de várias lesões, San Francisco voltou a ser a mesma força dominante da NFC. A vitória contra o Minnesota Vikings foi tranquila, com Garoppolo pouco precisando fazer; na final da conferência, a mesma coisa: apenas 8 passes do quarterback num jogo muito eficiente do ataque terrestre dos 49ers e uma vitória fácil; no Super Bowl, o time vencia por 10 pontos restando menos de 9 minutos, mas pagou o preço por algumas decisões questionáveis tanto de seu treinador quanto de seu principal jogador. Com Patrick Mahomes under center do outro lado, os Chiefs conseguiram a virada e conquistaram o título.
Há esperança para 2020? Muita, porque a fundação do time é fantástica. Me atrevo a dizer mais: os 49ers tem o melhor elenco da liga e com potencial para se fortalecer ainda mais, já que jogadores como Bosa, McGlinchey, Samuel e Warner ainda não atingiram seu teto de produção. O time tem espaço suficiente na folha salarial para ao menos manter Armstead, Sanders e Ward, todos free agents irrestritos e importantes na campanha de 2019. Se existe o mínimo de consolo na derrota de ontem, é que a próxima temporada se projeta para ser tão boa quanto.
O que precisa mudar urgentemente no time: Urgentemente, nada. Estamos falando de um time que teve 96.1% de probabilidade de vencer o Super Bowl, de acordo com o setor de estatísticas da ESPN. É impossível olhar pra essa situação e afirmar que algo precisa mudar com urgência.
O que pode evoluir, aí sim, existe. Os 49ers precisam decidir o que vão fazer na posição de cornerback oposto à Richard Sherman – tanto Emmanuel Moseley quanto Ahkello Whitherspoon decaíram de nível à medida em que o ano avançou. O time poderia aproveitar a falta de necessidades e buscar reforços na linha ofensiva, especialmente no interior da mesma. Mas não se engane: San Francisco é um time muito forte cujo futuro é animador.
