Mudança dos Raiders para Las Vegas mostra que a NFL (infelizmente) não é só esporte: são negócios

Todas as franquias da National Football League estão entre as 60 agremiações esportivas mais valiosas do mundo, segundo a revista Forbes. Cinco estão no Top 10 das mais valiosas – Dallas, New England, Washington, New York Giants e San Francisco 49ers – todas valendo pelo menos 2,7 bilhões de dólares. Nenhuma liga ou esporte tem o mesmo número entre os 10 mais valiosos, que é completado por Real Madrid, Barcelona, Manchester United, New York Yankees (MLB) e New York Knicks (NBA).

Isso, por si só, mostra o poder do dinheiro na NFL. As franquias não são associações civis como os times de futebol no Brasil. São empresas. Elas têm que dar lucro. E se, como no caso dos Raiders, elas não estiverem dando o lucro que tem potencial de dar, mudanças ocorrerão. No momento, a franquia é a 20ª mais valiosa da liga (1,8 bilhão). Só a perspectiva de sair de Oakland para Las Vegas fez com que os Raiders ganhassem quase 50% de valor de 2015 para 2016 na lista da Forbes. Com a mudança aprovada, a marca deve ganhar ainda mais valor e não duvidaria uma entrada no top 10.

A título de comparação, os 49ers – que jogam ao lado de Oakland – estão no top 5. Não só pelos cinco títulos conquistados entre 1981 e 1994, mas também porque recém-inaugurou o Levi’s Stadium. Pode parecer pouco, mas um estádio novo faz com que o valor e a renda de uma franquia cresçam mais do que poucas coisas são capazes de fazer.

No caso, os Raiders mudarão para um estádio com valor de 1,9 bilhões, 65 mil lugares e completamente climatizado (ainda bem, porque Las Vegas fica no meio do deserto). Com a nova arena, Mark Davis será ainda mais rico. Não só porque o estádio é bonito, mas porque ele terá mais camarotes e uma estrutura nos padrões da NFL.

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Os outros donos ganham por tabela também. O crescimento que disse acima no valor dos Raiders veio indiretamente – tal qual aconteceu com outras franquias  – por conta da mudança dos Rams para Los Angeles, o segundo maior mercado consumidor dos Estados Unidos e o maior da Costa Oeste. Com os Raiders ficando bandeira em Las Vegas – indiscutivelmente a capital do turismo de entretenimento no mundo – o valor de todas as franquias vai aumentar. Almighty Dollar.

Lado esportivo? Importa, claro…

Não porque os donos são bonzinhos, mas porque a NFL sabe que o fã de futebol americano é, acima de tudo, um consumidor. Sendo assim, tocar o dane-se completamente para os fãs – tal qual a CBF faz em inúmeras ocasiões – não é inteligente.

Contudo, se houver um conflito de “interesse público” vs “aumento no valor das franquias”, este deve ser o escolhido pela liga. A NFL passou seus primeiros 40 anos de existência testemunhando falências de franquias e dificuldade para se manter. Ela sabe que o dinheiro é importante, ainda mais quando só a folha de pagamento consome 100 milhões de dólares – o PIB de um país insular do Pacífico.


“RODAPE"

Torcida por torcida, mercado por mercado, os donos de franquia votariam para deixar os Raiders em Oakland. O problema é que o estádio atual, o Coliseu de Oakland, é a passos largos o pior da liga em termos de infraestrutura e todo mais. É o único dividido com um time da MLB, o que gera o anacronismo de haver um diamante de terra durante jogos dos Raiders em setembro. Tem vazamentos nos banheiros. É meio que bizarro pensar que os outros 31 times jogam em estádios “padrão FIFA” e os Raiders jogam no Monumental de Núñez (a arquitetura de cimento exposto digna dos anos 1970 é idêntica).

Eu não concordo com a mudança. Acho que, como Stephen Ross (dono dos Dolphins) fez em Miami, Mark Davis deveria ter tentado um investimento para uma opção em Oakland ser encontrada. A base de fãs dos Raiders na Bay Area é fantástica. Já sofreram ao início da década de 1980 com a mudança da franquia para Los Angeles. Depois aceitou o time de braços abertos em 1995. E agora é apunhalada nas costas novamente.

Para nós no Brasil é difícil entender – a menos que sejam pessoas que torcem para os Raiders efetivamente porque fizeram intercâmbio em Berkeley, sei lá. E provavelmente a maior parte dos torcedores brasileiros dos Raiders continuarão torcendo para a franquia. Para quem mora em Oakland, fica um sentimento esquisito na boca. O time volta aos playoffs pela primeira vez desde 2002 e vai mudar de cidade. É o equivalente nunca ter beijado a adolescência inteira, arranjar uma namorada linda e ela avisa que fará intercâmbio para a Europa daqui dois anos.

Como a torcida em Oakland vai se portar com essa bomba relógio? Aproveitarão a boa fase do time? Não irão mais ao estádio? Saberemos nos próximos dois anos. De toda forma, o que fica – também pela mudança dos Chargers para Los Angeles e em menor parte, dos Rams para lá também – é que o importante é o bolso. Não o coração do fã.

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