Não basta só o técnico

Novos treinadores precisam do apoio dos general managers para ter sucesso

Miami Dolphins, Cincinnati Bengals, New York Jets, Arizona Cardinals, Cleveland Browns, Green Bay Packers, Denver Broncos e Tampa Bay Buccaneers: um quarto da NFL começou a correr atrás do futuro head coach logo após a temporada regular. Com quase todos os cargos ocupados – os eleitos por Bengals e Dolphins não podem ainda assinar os papéis por estarem envolvidos na pós-temporada -, vimos a tendência de buscar gurus ofensivos para guiar e moldar os próximos passos das suas respectivas franquias.

Quando vemos, por exemplo, as contratações de Matt LeFleur para guiar Aaron Rodgers, Kliff Kingsbury para moldar um Josh Rosen de 21 anos, Zac Taylor para renovar e revigorar a identidade dos Bengals ou, ainda, a efetivação de Freddie Kitchens para manter o ritmo de evolução de Baker Mayfield, estamos diante de uma clara reação aos acontecimentos recentes da NFL. É um reflexo do gritante sucesso recente de mentes ofensivas como head coaches, que elevam a capacidade dos seus comandados, em especial seus quarterbacks, e às capacidades de adaptações ofensivas que eles trazem ao chamar as jogadas nas sidelines. 

Sean McVay: um modelo a ser replicado

Dentre os sucessos recentes de Doug Pederson no Philadelphia Eagles, Frank Reich no Indianapolis Colts, Matt Nagy no Chicago Bears, isso sem sequer citar as já antigas capacidades ofensivas de Sean Payton e Andy Reid, o poster boy, isto é, o “rosto” dessa nova era na NFL é justamente Sean McVay.

Pouco mais de 30 anos, mente ofensiva moldada nos vestiários da própria liga e um perfil de liderança que une seu ataque, defesa e especialistas sob um mesmo propósito. Herdeiro de um time (bem) abaixo da crítica comandando por Jeff Fisher, McVay, já na sua primeira temporada, conseguiu dar uma nova identidade ao time: no seu segundo ano como head coach, deu um passo maior ainda e alcançou o NFC Championship Game, sempre impressionando com seu entendimento de como explorar as fragilidades das defesas adversárias e de como fazer ajustes finos no seu próprio esquema para dominar uma partida.

Jovem, brilhante e com perfil de liderança. Não é exatamente fácil encontrar um “próximo Sean McVay”, por assim dizer, mas as franquias estão mais dispostas do que nunca em colocar head coaches que chamam jogadas no comando; não à toa, temos Andy Reid, Sean Payton e Sean McVay como três dos quatro times nas finais de conferência. E, mais do que nunca, as franquias estão dispostas a receber técnicos com um histórico de experiências diverso.

Com um bom vínculo com seu quarterback, o técnico, teoricamente, tem amplas condições de manter uma estabilidade ofensiva por anos, afinal, uma vez em sintonia com seu signal caller, basta o seu próprio conhecimento dos pormenores de um ataque profissional na NFL para estar em constante evolução, seja no design ofensivo, seja na hora de chamar uma jogada em determinada situação.

Só que, por mais apto que seja o técnico, existem elementos de gestão de uma franquia que estão fora do seu alcance. Salvo exemplos extremos, como Bill Belichick, os head coaches precisam estar em plena harmonia com o front office, em especial o general manager. Pode ser que uma mente ofensiva seja de fato a solução para as questões dentro de campo, mas é essencial que o general manager dê todas as condições para construir um time vencedor

Roseman, Pace, Ballard, Snead: artífices por trás dos panos

Quando vemos os campeões da NFC North da última temporada, sabemos quase tudo: uma defesa completa, um ataque criativo e dinâmico sob o comando de Matt Nagy, recém-chegado. Só que o sucesso do Chicago Bears começa lá em 2015, com a contratação de Ryan Pace. A planta baixa para que o trabalho de 2018 pudesse aparecer passa diretamente pelas seleções, contratações e manobras do seu general manager nas últimas quatro temporadas.

Ao eleger John Fox técnico, por mais que saibamos as limitações e teimosias do head coach, Pace traz um nome tarimbado para organizar a bagunça deixada pelos anos de Marc Trestman. Seleciona Eddie Goldman e Adrian Amos, peças importantes que vimos em destaque em 2018, além de trazer o undrafted Bryce Callahan para a secundária.

Em 2016, traz Leonard Floyd, Cody Whitehair, Nick Kwiatkoski, Jordan Howard via Draft; Akiem Hicks e Danny Trevathan, outras duas peças cruciais para o sucesso em 2018, são contratadas. Em 2017, o time perde Alshon Jeffery, mas Pace sobe no board para buscar seu quarterback: Mitchell Trubisky é a segunda escolha geral. Em seguida, seleciona Eddie Jackson e Tarik Cohen na quarta rodada, outras duas peças cruciais para a campanha de 12 vitórias de 2018; traz, ainda, o free agent Prince Amukamara.

Depois de dois anos frustrantes sob Fox, Pace aposta em Matt Nagy e no pedigree de técnicos ofensivos vindos do esquema de Andy Reid – um reflexo também à vitória de Doug Pederson no Super Bowl LII. E, nesse ano, Pace é agressivo: supre a necessidade de wide receivers do elenco com Allen Robinson e Taylor Gabriel, além de assinar com Trey Burton e buscar Anthony Miller na terceira rodada do Draft 2018. Na primeira e segunda rodada, traz Roquan Smith e James Daniels. A cereja no bolo fica pela troca de Khalil Mack;  o coupe de grâce de uma defesa já bem engendrada, que, com um jogador geracional no camisa 52, se torna em todos os sentidos a melhor da NFL.

Nesse breve resumo dos anos de Ryan Pace como general manager do Chicago Bears, vemos que o trabalho excepcional de 2018 não está limitado às concepções ofensivas de Matt Nagy e o brilhante trabalho de Vic Fangio do lado defensivo da bola. Pace deu todas as condições de sucesso para seus técnicos, manobrando com destreza a free agency, os prospectos vindos do college e sendo agressivo nas trocas para moldar seu time.

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Pace é apenas um dos grandes exemplos de general managers que fizeram com que seus técnicos tivessem condições de desenvolver trabalhos de encher os olhos de fãs e analistas. O Indianapolis Colts, que está sob a batuta de Chris Ballard há apenas duas temporadas, mostrou ao mundo em 2018 o melhor de Andrew Luck, antes preso num purgatório de Chuck Pagano e Ryan Grigson.

Ballard traz no seu primeiro ano de general manager Malik Hooker, Quincy Wilson, Marlon Mack e Anthony Walker via draft. Ano passado, acerta um home run: Quenton Nelson, Darius Leonard, Braden Smith, Tyquan Lewis e Nyheim Hines, todos parte gigantesca do sucesso dos Colts em 2018.

Com essa infusão de jovens talentos (o time de Indiana seria o mais jovem da NFL caso Adam Vinatieri não estivesse no elenco), os técnicos Frank Reich e Matt Eberflus – outros dois baita acertos de Ballard, diga-se de passagem — conseguiram levar o Indianapolis Colts à pós-temporada após começar 1-5. Chris Ballard fez um brilhante trabalho avaliando prospectos, sem precisar de um choque na free agency para reforçar o time – os Colts tem mais de 122 milhões de dólares em cap para 2019.

Apenas para apresentar uma abordagem mais agressiva, Les Snead deu a Sean McVay um elenco de ponta sendo extremamente agressivo em trocas e free agency. Ele municiou Jared Goff trazendo Robert Woods e Brandin Cooks, fortaleceu sua proteção com Andrew Whitworth, além de buscar Marcus Peters e Aqib Talib, isso sem mencionar Ndamukong Suh. Foram investidas agressivas, depois de anos trazendo via Draft peças importantes como Rob Havenstein, Lamarcus Joyner, Tyler Highbee, Gerald Everett, Josh Reynolds – viram que eu sequer mencionei Aaron Donald, Todd Gurley e Cooper Kupp?

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Esse mesmo equilíbrio pode ser encontrado no trabalho de Howie Roseman, que desde que selecionou Carson Wentz como futuro da franquia, tem municiado seu franchise quarterback e permitido que Doug Pederson faça seu excelente trabalho. Em Philadelphia desde 2000 – não como general manager, naturalmente -, Roseman aos poucos moldou um time extremamente sólido. Jason Kelce, Brandon Graham, Fletcher Cox, Vinny Curry, Zach Ertz, Lane Johnson são alguns dos nomes cruciais para os dois últimos anos dos Eagles que vieram pelo draft antes de Carson Wentz.

O trabalho se manteve excelente em 2017, trazendo Alshon Jeffery na free agency, reforçando o front seven com Derek Barnett com a 14ª escolha geral, buscando Timmy Jernigan e Chris Long como agentes livres; ou, ainda, trazendo Michael Bennett e Haloti Ngata em 2018 para manter a identidade defensiva que os consagraram campeões do Super Bowl LII.

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Acredito não ser necessário me alongar mais na questão. O importante aqui é entender que, para que as contratações de técnico desabrochem em uma era mais gloriosa para seus respectivos times, é essencial que os bastidores dêem todo o suporte para tal.

Josh Rosen e Sam Darnold, por exemplo, estão agora com gurus ofensivos para chamarem de seus. Só que, tão importante quanto os esquemas e capacidade de desenvolver seus quarterbacks que Kliff Kingsbury e Adam Gase possam ter, é essencial que Steve Keim e Mike Maccagnan façam de tudo para municiá-los. Avaliação de prospectos, buscas pontuais na free agency e uma visão alinhada com o projeto dos seus head coaches é tão importante quanto os ajustes finos de uma corrida pelo gap B da linha ofensiva.

Ao vermos o sucesso de Sean McVay, Doug Pederson, Frank Reich e Matt Nagy, temos que lembrar que os head coaches contam com audazes general managers que, em harmonia com os técnicos, permitem que nós possamos nos maravilhar com as grandes atuações ofensivas e defensivas que vemos semanalmente na NFL.

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