Ao final da temporada 2017, era praticamente unânime que Jared Goff era um dos cinco piores quarterbacks da NFL. Falamos justamente isso em nosso podcast e, teimosia à parte, nada do que aconteceu depois apaga que Goff teve um ano terrível e mereceu o rótulo. Isso não quer dizer que podíamos ter desistido dele como o fizemos.
No ano seguinte a história é bem conhecida. A chegada de Sean McVay, com sua West Coast Offense adaptada ao século XXI, potencializou Goff e salvou sua carreira. Os Rams saíram de pior ataque da NFL em pontos por jogo para melhor – a diferença, na casa de 15 pontos, foi algo completamente sem precedentes na história da liga. A comparação mais próxima era justamente dos Rams, entre 1998 e o Greatest Show on Turf de 1999. Naquele caso, porém, houve mudança de quarterback: Kurt Warner, hall of famer, foi revelado ao mundo.
É bem verdade que o Super Bowl LIII revelou o que os olhos mais atentos já sabiam. Ao contrário de Pat Mahomes e Andy Reid, que andam de mãos dadas numa simbiose que potencializa um ao outro, Jared Goff é um produto do sistema de McVay – talvez o quarterback mais dependente do sistema tático que temos na NFL hoje. Mesmo Mitchell Trubisky, envolto em merecidas críticas nos seus dois primeiros anos, teve certa capacidade de improvisar ao longo da temporada – virtude essa que passou longe do camisa 16 de Los Angeles, sobretudo quando a casa caiu contra os Bears, Eagles e Patriots.
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Fiz essa introdução para puxar o assunto e mostrar que uma temporada é muito cedo para desistir de um quarterback – mesmo que Goff seja uma exceção nessa reviravolta. Há tantos outros que depois de uma temporada já davam indícios fortíssimos de que seriam desastres e não foram salvos por um McVay, como JaMarcus Russell, Ryan Leaf, Paxton Lynch e Johnny Manziel.
Não é o caso com Josh Rosen. Como batemos muito na tecla neste site, Rosen era o quarterback mais polido e com o piso mais alto da classe do ano passado – meio que em empate técnico com Sam Darnold. Contudo, o produto de UCLA acabou caindo na pior situação possível para um quarterback calouro.
Para começar, ele não teve repetições com os titulares durante o training camp. Na realidade, começou os camps como terceiro do elenco, passando a bola para jogadores que sequer estariam no elenco de temporada regular – Mike Glennon, a girafa ruiva, era o segundo. Num plano completamente aleatório, os Cardinals colocaram Sam Bradford como titular e logo se viu que a ideia não fazia sentido algum em 2018.
Rosen assume a titularidade na maior fogueira possível: o time não tinha vitórias na temporada e jogaria em casa contra o Chicago Bears – cuja unidade defensiva já mostrava forças. Rosen quase venceu a partida, mas a defesa dos Bears riu por último na campanha derradeira.
Os Cardinals terminaram o ano com apenas três vitórias. Todas elas com Josh Rosen titular. E todas elas sem que ele tivesse muita ajuda.
Como disse acima, Rosen teve a pior situação possível para um quarterback titular-calouro neste ano. Veja os outros casos. Sam Darnold tinha mais peças no ataque e na defesa; Josh Allen tinha uma defesa consideravelmente mais forte; Lamar Jackson idem, além de, como Allen, poder correr com a bola para se salvar; Baker Mayfield tinha um elenco melhor. Não que isso tire os méritos dos demais calouros. Nem que isso mude o fato de que Rosen tenha tido o pior ano entre os quarterbacks calouros de 2018. Mas contexto é necessário.
Rosen teve dois coordenadores ofensivos ao longo do ano. Mike McCoy parecia preso em 2010 e mostrou-se um tanto quanto desatualizado, negligenciando David Johnson. O substituto, Byron Leftwich, teve sua primeira experiência no cargo e obviamente não teria como montar um livro de jogadas à sua imagem e semelhança no meio do ano. Ter dois coordenadores ofensivos na mesma temporada sem ter tido repetições com os titulares no training camp é uma receita nuclear para um desastre quando falamos de quarterbacks calouros.
O elenco de apoio ajudou menos ainda. A defesa é péssima fora Patrick Peterson e Chandler Jones. O ataque não tinha muitas peças para ajudar. David Johnson teve 60% dos alvos do que na era Bruce Arians e, de qualquer forma, é running back. Larry Fitzgerald é gênio e interminável, mas vale lembrar que além dele não restavam muitos alvos: Christian Kirk, calouro como Rosen, mostrou boa sintonia com ele mas se machucou na Semana 13.
A linha ofensiva é porosa, sobretudo no lado direito. Foi a 5ª que cedeu mais sacks na temporada passada, com 52. Na partida contra o Denver Broncos, o pior jogo possível para Rosen: horário nobre é quando as pessoas assistem às partidas e quando as memórias são sedimentadas. Josh jogou mal, é verdade – mas foram seis sacks, ele não teve tempo para absolutamente nada. A culpa caiu em cima dele e, como o público em geral pouco assistiu aos Cardinals na temporada passada, aquela foi a imagem que ficou.
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13 jogos depois, há pessoas que já desistiram de Rosen. Algumas voltam atrás no que disseram antes do Draft 2018, falando que preferiram Mayfield, Darnold ou sei lá quem vai aparecer. Não nego que estou preocupado com o futuro dele, mas não retiro o que disse em abril do ano passado: ele era o melhor prospecto entre os quarterbacks calouros e se o Draft fosse hoje, ainda o escolheria como meu alvo caso meu time estivesse na busca por um quarterback.
[related_posts_by_tax format=”links” posts_per_page=”3″ title=”Leia também” taxonomies=”category”]13 jogos depois… Ainda é um espaço amostral minúsculo, para o bem ou para o mal. Baker Mayfield, embora o ame (sobretudo sua personalidade), ainda não se solidificou como o melhor da classe. Lamar Jackson e Josh Allen ainda podem melhorar a precisão. Josh Rosen ainda pode mostrar a que veio.
A grande questão é que o Arizona Cardinals pode desligar o PlayStation e começar tudo de novo. Com Kliff Kingsbury chegando, a tendência é que o time rode um sistema em spread com conceitos de Air Raid, tão familiar aos times da Big XII e… A Kyler Murray. Enquanto ainda estava no college como técnico de Texas Tech, Kliff chegou a dizer em 2018 que draftaria Murray com a primeira escolha geral do Draft. Bom, agora ele tem justamente essa escolha.
Não julgo os Cardinals: Murray faz muito mais sentido no esquema tático de Kingsbury e Rosen não o faz tanto. Ainda, poderiam escolher Kyler na primeira geral e ainda trocar Josh por uma escolha de primeira rodada. Interessados não faltariam.
Aliás, ele por padrão seria melhor prospecto que os restantes da classe, sendo mais polido que o meu QB#1, Dwayne Haskins (Ohio State). Então New York Giants, Jacksonville Jaguars, Washington Redskins e outros tantos times poderiam dar um telefonema para os Cardinals. Leftwich agora é coordenador ofensivo em Tampa Bay com Bruce Arians de head coach e o futuro com Jameis Winston por lá está longe de ser determinado por ora – então seria outra opção. Os Dolphins meio que já estão fora desse baralho segundo repórteres que cobrem o time. Mas ainda tem New England Patriots, Los Angeles Chargers e New Orleans Saints, todas equipes que precisam de sucessores para seus atuais quarterbacks (Brady, Rivers, Brees).
A história de Josh Rosen na NFL, por um lado ou por outro, em Arizona ou em outro lugar, ainda não acabou. Numa era tão imediatista, de mensagens instantâneas e de qualquer coisa sendo motivo para desistir de uma pessoa, não vale a pena levantar da mesa e desistir do primeiro encontro só porque ela não gosta das mesmas músicas que você.
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