NFL não endereçará regra de recepção para 2016 – entenda por quê.

Curti, qual foi sua novela preferida no ano passado? Foi uma das 76 reprises que o SBT empregou em suas novelas mexicanas? Foi alguma novela de época da Globo que serviria como um sonífero potente? Nah, nenhuma delas. A minha novela preferida – na verdade a única que assisti intensamente – foi o dramalhão “Ninguém sabe o que é uma recepção”. Toda vez que um jogador recebia um passe e perdia o controle no processo, a timeline do Twitter virava um Muro das Lamentações.

O capítulo inicial, em realidade, foi na temporada de 2014 – especificamente na pós-temporada, em janeiro. Num jogo extremamente equilibrado, o Dallas Cowboys buscava a recuperação e a vitória contra o Green Bay Packers. Dez Bryant segurou a bola no ar e perdeu o controle dela enquanto estava em movimento no contato com o solo. A arbitragem, contrariando o senso comum da época – mas corretamente de acordo com o livro de regras – marcou passe incompleto. Bryant deveria ter o controle da bola durante todo o processo de recepção – do momento que toca a bola até voltar à inércia.

É difícil essa diferenciação. Quando um running back está correndo e é derrubado por um defensor, ocorre o down by contact e a jogada morre. Quando um wide receiver é derrubado por um defensor, o down by contact só se verifica se ele tiver o controle da bola até ficar parado no chão. A olho nu, ambos estão sendo derrubados com a bola na mão! Por que a diferenciação seria necessária? Vamos explicar e, por incrível que pareça, vai fazer sentido.

Imaginemos que a regra vire “segurar a bola e dois pés no chão”

Nesse cenário de aparente confusão, surpreendeu a algumas pessoas o fato de nenhuma franquia ter proposto mudança na regra de recepção. Tampouco o Comitê de Competitividade propôs qualquer revisão no que é e o que não é uma recepção de passe para frente.

Mas imaginemos que isso acontecesse. Qual seria o dano para o jogo? Tudo ficaria mais fácil, certo? Especialmente para o fã casual. Bom, não é assim. Poderia haver um efeito ruim no longo prazo. Caso a regra mudasse para “segurou e dois pés no chão – e tão somente isso”, a defesa teria que fazer alguma coisa para conter essa maior facilidade na estrutura ofensiva do jogo.

ESPECIAL: Confira nossa cobertura sobre as propostas de mudança de regra para 2016 na NFL

Adivinha como uma defesa iria conter tal colher de chá? Se você disse “arrebentando o recebedor no momento que ele colocar as mãos na bola”, acertou. A regra atual dá margem de manobra para que o defensor busque derrubar a bola no processo de recepção – tornando o passe incompleto. Uma nova regra faria com que o defensor tivesse que punir fisicamente o receptor para que o passe seja incompleto. Não precisamos ir muito longe no raciocínio para prever que essa regra ocasionaria ainda mais contato capacete-capacete e ainda mais concussões (palavra que deixa a NFL em pânico).

Qualquer regra que enseje mais lesões ou concussões propriamente dita será objeto de análise negativa por parte da liga. Foi assim que o kickoff mudou da linha de 30 jardas para a linha de 35 – mais touchbacks implicam em menos retornos, jogada na qual o índice de concussão é maior do que em jogadas ataque-defesa. O mesmo ocorreria aqui na questão da recepção.

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Mas não só. Imagine o festival de fumbles que ocorreriam com uma regra “dois pés e segurou”. Se o jogador estivesse estabelecido como corredor no momento em que pisasse no chão com controle mínimo, ficaria extremamente difícil saber se a aquela bola segurada por milésimos e depois ida ao chão foi fumble ou não. Por essa nova norma, outra polêmica surgiria no que tange aos fumbles – bastariam os dois pés e o controle mínimo ao invés do controle durante todo o processo e mais o estabelecimento como corredor. Mais: o elemento “tempo de controle” permite que a arbitragem tenha mais facilidade de definir se o jogador segurou a bola ou não – ao contrário do que aconteceria numa fração de segundo.

Em resumo, a simplificação da regra seria ruim para a defesa (que teria mais trabalho em gerar passes incompletos), para o ataque (mais fumbles) e para a imagem da liga (potencialmente mais lesões). É por isso que ninguém a propôs na reunião desta semana.

Certo, mas existe alguma fórmula para definir, pela regra atual, o que é uma recepção ou não? Existe final feliz nessa novela? Bom, o Vice-Presidente de Arbitragem da NFL, Dean Blandino, recentemente endereçou o assunto e veio com uma explicação bastante didática.

“Controle + dois pés dentro de campo + tempo de posse = posse de bola”. Se o jogador está indo de encontro ao chão, ele “tem que segurar a bola no contato com o solo”.

Veja, parece um final feliz – desde que seja aplicada de maneira mais uniforme pela arbitragem. E em comparação a 2014, 2015 foi um ano com menos polêmicas em relação ao assunto. Espera-se que 2016 também o seja. A regra não deve mudar e temos que nos acostumar com isso. Num contexto do Império da Segurança dos jogadores, eliminar o fator “tempo de posse” da equação de Blandino tornaria mais difícil definir o que é um recebedor indefeso ou não. Não havendo essa definição, mais concussões ocorreriam. E é exatamente isso que a NFL quer evitar para os próximos anos.

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