O custo/benefício dos quarterbacks protagonistas da intertemporada

Muita gente fala que o Draft é uma loteria tremenda. Você não sabe o comportamento daquele jogador com um rio de dinheiro na mão, não sabe como ele vai se encaixar em um esquema nem como os seus companheiros de vestiário vão agir com ele – nada me convence do contrário que o Prince Amukamara não deu tão certo em New York pela sua relação com os veteranos.

Outro período da intertemporada, a Free Agency, também é uma baita loteria. Enquanto se tem ideia do comportamento do jogador em campo, novos sistemas, mais dinheiros, novos companheiros e torcida podem mudar completamente o desempenho de cada um. Investir muito dinheiro ou não em alguém na Free Agency é fazer uma aposta alta e quanto maior o contrato, maior o risco.

A estratégia com maior taxa de acerto, de longe, na Free Agency é renovar talentos de dentro de casa e contratar jovens jogadores de categoria média. Nada de grandes contratos para renomados que acabam falhando e dificultando o salary cap. O problema é que esta abordagem (quase) nunca dá certo com relação a posição de quarterback. Quem chega a ser free agent ou é um reserva de luxo (Brock Osweiler) ou é um jogador com sérios problemas de lesão (Robert Griffin). Nos dois casos a supervalorização da posição faz com que os salários oferecidos sejam altos e, consequentemente, seja difícil manter uma alta relação custo/benefício.

Neste ano foram oito principais signal callers que movimentaram a intertemporada. Confira quem está jogando mais do que o contrato dado ou quem está devendo na primeira parte da temporada.

Além do esperado

Case Keenum, Los Angeles Rams. U$ 3,6 milhões em um ano.

Quem acompanha os Rams (ou o nosso Power Ranking) sabe da qualidade de Keenum: ele é um dos piores titulares na liga até aqui. E por que ele aparece como além das expectativas?

Simples: ninguém paga um quarterback apenas 3,6 milhões de dólares e espera que ele tenha um recorde 3-4 após sete semanas. Keenum está, claramente, jogando melhor que o seu contrato o paga: são oito touchdowns contra 10 interceptações no ano. Isso significa que ele está jogando bem? Não. Apenas significa que ele está atuando melhor do que o contrato que tem.

Se Keenum não estivesse em Los Angeles, Jared Goff começaria desde o primeiro dia – e isso não seria nada bom, principalmente porque Goff fez um trabalho péssimo durante toda a intertemporada. No momento faria sentido o primeira escolha geral ganhar a posição de titular, mas mesmo assim não tira o fato que Keenum fez por merecer (e muito) o contrato que ganhou.

Brian Hoyer, Chicago Bears. U$ 2 milhões por um ano.

Todo ano que um time contrata o Brian Hoyer, as chances do titular se machucar aumentam exponencialmente. Ele sempre foi um reserva (apenas em Cleveland foi titular por um ano, o que é quase ser um reserva) e só não entrou em campo em 2012 – incrível a incidência de problemas com os titulares tendo Hoyer no banco.

Hoyer não aparece na lista apenas por ter jogado alguns jogos com a lesão de Cutler: ele está tendo o melhor momento da carreira. São mais de 1400 jardas aéreas no ano e ainda não lançou uma interceptação sequer – lembre o nível do ataque que Chicago apresentou até aqui. Este ano, assim como o ano passado, as virtudes de Brian Hoyer estão de novo fazendo a diferença: ele está longe de ser talentoso, porém trabalha muito e é um veterano respeitado por isso.

Apesar de Chicago ter cometido, até aqui, o erro crasso de achar que Jay Cutler era a solução de tudo (e nunca draftar um reserva para aprender no banco), a escolha de Brian Hoyer foi acertada. Não é por causa dele que Chicago está concorrendo ao top 5.

Bem pago até aqui

Kirk Cousins, Washington Redskins. U$ 19,9 milhões em um ano.

Cousins tomou uma decisão fácil na intertemporada em assinar a franchise tag. Ele confiou em si próprio e sabia que poderia lucrar muito mais que qualquer oferta disponível, afinal foi apenas um (final) de ano produzindo em alto nível.

Em 2016, até aqui, Cousins provou ser um quarterback de 20 milhões de dólares – longe dos mais bem pagos. Após um começo lento, o quarterback acordou na sequência de vitórias obtidas e deixou a equipe em posição de obter a quinta vitória contra os Lions – a defesa que entregou.

Esta é uma boa notícia, principalmente, para Washington: aparentemente eles acharam o seu quarterback do futuro em meio ao caos que foi o Draft de 2012. Vale ressaltar que Cousins está mostrando um potencial para merecer um contrato ainda maior. É o jogador, desta lista, que está mais evoluindo até o momento.

Tyrod Taylor, Buffalo Bills. U$ 90 milhões em seis anos.

Os Bills deveriam ganhar, ano passado, um prêmio pelo trabalho que fizeram com Tyrod Taylor. Achar um reserva, pagar 750 mil dólares e acabar com um titular de 20 touchdowns e só nove interceptações é extremamente raro – uma das melhores relações custo/benefício da história da posição.

Era óbvio que 2016 iria ser diferente. Taylor não iria se concentrar o suficiente mantendo o mesmo contrato após o ano de 2015. Além disso, ele sabe que o seu estilo de jogo é perfeito para o que os Bills tinham como proposta. Quando Greg Roman resolveu desenvolver mais o jogo aéreo e esqueceu de correr com a bola, Taylor sofreu – e ainda bem que Roman foi embora. Com este estilo mais terrestre, o time cresceu de produção, controlou o relógio e viu Taylor reencontrar o seu melhor momento.

Até agora o contrato dado a ele parece estar no patamar de seu nível de jogo. Ele vai ter um impacto no cap de apenas sete milhões em 2016 e vai pular para pouco menos de 16 milhões ano que vem – algo bem próximo da realidade mostrada em campo.

Péssimos contratos para grandes incógnitas

Robert Griffin III, Cleveland Browns. U$ 15 milhões em dois anos.

A carreira de Robert Griffin é uma coisa extremamente confusa e difícil de se entender. Em Washington, sob o comando dos Shanahans, ele jogou muito bem como calouro devido ao esquema mais próximo da sua realidade em Baylor. O rompimento do ligamento do joelho atrasou o seu desenvolvimento, mas foi muito mais por sua atitude do que pela recuperação em si.

O talento subiu a cabeça. Em vez de se preocupar com a recuperação, Griffin estava mais atento as propagandas e a ser uma estrela. Além disso ele se aproximou mais ainda de Dan Snyder e, através do dono, resolveu influenciar mais ainda a equipe pedindo por um playbook que explorasse mais o jogo aéreo – sendo que o seu desenvolvimento estava longe disso.

Note que Griffin nunca foi um desagregador de vestiário ou um bad boy. Seu erro foi se desconcentrar do seu desenvolvimento e dar um passo maior do que podia. O resultado? Faltou desenvolvimento de sua capacidade em leituras de defesas e senso de pressão.

Por isso eu nunca entendi o contrato dado a ele na intertemporada por Cleveland. Ele tem talento, mas está muito longe do nível de calouro – que já está defasado hoje em dia, diga-se de passagem. E era óbvio que ele sofreria com lesões por causa da dificuldade em soltar a bola rápido. Na primeira partida do ano, lesão no ombro e Injury Reserve. Um péssimo contrato até o momento.

Ryan Fitzpatrick, New York Jets. U$ 12 milhões de dólares em um ano.

Normalmente quarterbacks mais velhos não são imprevisíveis. Sua carreira inteira fala por si e pouco se espera uma grande alternância de qualidade apresentada. A mesma coisa não pode ser dita sobre Fitzpatrick.

Durante toda a sua carreira Fitzpatrick ia de Fitzmagic para Fitztragic na mesma partida, imagine entre temporadas. O salário de 12 milhões de dólares era o melhor que os Jets poderiam oferecer e a franquia não errou na contratação: ela apenas, até agora, não deu certo. Apesar de seu chilique digno de Bradford, ele voltou a ser uma máquina de turnover. Já são 11 interceptações no ano e ele estava caindo nível Matt Schaub no final da carreira em Houston. A vitória sobre os Ravens aliviou um pouco a pressão, só que ainda é muito pouco.

Fitzpatrick só será titular porque Geno Smith rompeu o ligamento em sua (possível) última chance como titular e Christian Hackenberg deveria estar aprendendo a ser um quarterback. Pelo menos terá a oportunidade de provar que vale estes 12 milhões – basta continuar jogando no mesmo nível que apresentou contra o Baltimore Ravens na semana passada.

Brock Osweiler, Houston Texans. U$ 72 milhões em quatro anos.

Os Texans são extremamente azarados no quesito quarterback desde David Carr em 2002. A equipe resolveu ignorar Derek Carr (e olha o que virou), Matt Schaub teve a transição mais rápida da história de competente para reserva de segundo escalão e, agora, Brock Osweiler está em um péssimo momento.

A diretoria sabia que Osweiler era uma aposta arriscada, por isso montou um ambiente de certa estabilidade ao seu redor. Lamar Miller foi contratado (e vem jogando bem), a linha ofensiva é acima da média (nada espetacular) e o grupo de playmakers foi reforçado com a escolha de Will Fuller no Draft. Além disso, a comissão técnica, liderada por Bill O’Brien (que extraiu o máximo de Hackenberg na universidade), conseguiu tirar o máximo de Brian Hoyer no ano passado para ir aos Playoffs.

Mesmo com todo este ambiente favorável, ele não decolou. Falta ritmo, fluidez no pocket, mecânica falha e, principalmente, confiança. Ele parece perdido em campo, com medo de errar e simplesmente não vai dar certo neste ritmo. Os Texans arriscaram, tentaram limitar o máximo a oportunidade de falha para continuarem competitivos e… até o momento não deu. Osweiler vai precisar evoluir muito para justificar a grana ganha.

Dois casos especiais: a troca e o reserva

Chase Daniel, Philadelphia Eagles. U$ 21 milhões em três anos.

O reserva mais bem pago até o momento. A diretoria do Philadelphia Eagles foi extremamente generosa com Chase Daniel, que foi muito mal em campo durante toda a intertemporada. Mesmo não jogando e ganhando tanto, Daniel, até aqui, parece ter sido um bom negócio – por causa de Carson Wentz.

A ideia da diretoria dos Eagles era rodear Wentz com quarterbacks que conhecessem o esquema. Doug Pederson (técnico principal), Frank Reich (coordenador ofensivo) e John DeFillippo (técnico dos quarterbacks): todos possuem ampla experiência na posição. E o papel de Daniel era de ser o veterano, que conhece o esquema por dentro e pode ajudar na transição do calouro. Muita grana paga por um “jogador-técnico”, mas que parece estar valendo a pena.

Sam Bradford, Minnesota Vikings. U$ 35 milhões em dois anos.

Dificilmente situações do tipo que todo mundo ganha acontecem. Uma que deve ficar para a história foi a troca que mandou Sam Bradford de Philadelphia para Minnesota.

Após draftar Wentz, era óbvio que o tempo como titular dos Eagles para Bradford era curto. E a troca, para ele, veio muito bem a calhar. De um candidato ao Wild Card para um candidato ao Super Bowl e com o titular sem tempo para voltar. Este era o melhor time possível para Bradford cair – ainda mais considerando o esquema tático adotado por Norv Turner.

As três partes do negócio se deram muito bem. Minnesota obteve um jogador que conseguiu manter este ataque funcional mesmo com tantas lesões – e jogando bem mais do que se esperava. Aliás, Bradford deveria estar na conversa para MVP, visto o valor que tem para esta equipe dos Vikings – que dificilmente estaria na liderança da divisão sem ele em campo.

E os Eagles também lucraram muito com a troca. Carson Wentz vem se desenvolvendo bem mais do que se esperava e a equipe ganhou uma escolha de primeira e outra de quarta (que pode virar até segunda) rodadas – um valor bem mais alto do esperado para se ganhar em uma possível troca no futuro. A relação custo/benefício desta troca, sem sombras de dúvidas, foi a melhor para o Minnesota Vikings, Sam Bradford e para o Philadelphia Eagles – um caso extremamente raro.

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