Na última quinta-feira, o Dallas Cowboys anotou o segundo menor número de pontos em uma partida de Thanksgiving da sua história. Os seis pontos ficam atrás apenas do shut out proporcionado pelo Philadelphia Eagles em 1989, na temporada de calouro de ninguém menos que Troy Aikman.
Desde que Ezekiel Elliott foi suspenso o Dallas Cowboys anotaram menos de 10 pontos em três partidas consecutivas pela primeira vez na sua história [note] Ian Rapoport’s Tweet. Acesso em 25/11/2017 – https://twitter.com/RapSheet/status/934078992147247104 [[/note]. Dak Prescott, nesse mesmo período, não lançou um touchdown, não bateu a marca de 200 jardas e foi interceptado cinco vezes [note] Dak Prescott Stats. ProFootball Reference. Acesso em 25/11/2017 – https://www.pro-football-reference.com/players/P/PresDa01.htm [/nnote].
Só que não é só a ausência de Ezekiel Elliott de um lado da bola que chama a atenção. Sem Sean Lee, o time de Dallas viu Philip Rivers terminar a sua primeira partida de Thanksgiving com 434 jardas, três touchdowns, 82% de passes completos e um rating de 149.1.
Essa sequência atroz chama a atenção. Como uma equipe tão bem quista na pré-temporada cai por terra em um espaço tão curto de tempo? Há um culpado, alguém que tenha caído tanto de produção? Pois bem, é muito fácil falar que Dak Prescott caiu de produção – o que não deixa de ser verdade -, mas a questão vai bem mais além do quarterback.
A incapacidade de adaptação
Uma analogia para lá de bem vinda para compreendermos a situação do Dallas Cowboys foi feita pelo Curti em nosso podcast: é o clássico jogo “Jenga”, ao lado. Os jogadores vão, em turnos alternados, removendo peças de uma estrutura até que ela desmorone – e quem retirou a derradeira peça é o perdedor. Bom, do lado defensivo, essa peça é ninguém menos que Sean Lee.
Com o linebacker em campo, os pentacampeões do Super Bowl cedem apenas 18 pontos por partida. Sem o camisa 50, são 32.4, além de um retrospecto de quatro derrotas e nenhuma vitória. Do lado ofensivo, a ausência de Ezekiel Elliott é bastante sentida – são 28.25 pontos por partida com o camisa 21 e 7.33 sem ele.
Essa estatística, ainda que breve, demonstra um problema fatal no futebol americano profissional: a incapacidade de adaptação às circunstâncias. Se uma peça sai, o time desmorona completamente. E isso não é nas costas de Dak Prescott, ou na falta de profundidade da linha ofensiva com Tyron Smith — isso entra na conta da comissão técnica.
Jason Garrett vem se mostrando um técnico incapaz de se adaptar às circunstâncias da sua própria equipe na ausência dos seus jogadores mais talentosos. Sean Lee é, discutivelmente, o melhor defensor do time. Do lado ofensivo, Ezekiel Elliott é um dos running backs que forçam a defesa a colocar oito homens no box para lidar com a ameaça do jogo terrestre. O left tackle Tyron Smith é um dos três melhores da liga, indubitavelmente. Só que isso não pode significar que, na ausência de qualquer um deles, um candidato à pós-temporada simplesmente se torne um grupo apático dentro de campo.
Nosso Podcast sobre o assunto:

Podemos, claro, falar que as chamadas ofensivas não são eficientes. Scott Linehan, coordenador ofensivo, é o responsável por escolher as jogadas. Do lado defensivo, Rod Marinelli é o responsável. Só que os dois coordenadores estão sob um guarda-chuva maior, de Jason Garrett. Pela linguagem corporal do head coach, vemos um motivador, um líder organizacional. Na hora que precisam de uma mente capaz de adaptação ao que acontece no gridiron, Garrett simplesmente não corresponde.
A necessidade de tirar o melhor dos seus jogadores
Entraremos num tópico que já tratei com bastante profundidade na temporada passada com um breve estudo de caso: Dez Bryant. O camisa 88, ainda tido por muitos como um dos mais talentosos em atividade na NFL, tem sido um qualquer no ataque aéreo do Dallas Cowboys. Como isso é possível?
Um dos grandes méritos de qualquer grande técnico é entender as qualidades dos seus jogadores e tirar o melhor deles. Dez Bryant é um wide receiver alto, extremamente técnico e polido, capaz de bater fisicamente qualquer defensive back. Ele não cria separação como um Tyreek Hill da vida, mas ele é excelente em passes lançados em janelas apertadas, fazendo recepções difíceis em situações cruciais. Não à toa, Dez Bryant é quem ele é pela capacidade de Tony Romo em encontrá-lo nos menores espaços possíveis.
Com Dak Prescott, que ainda é jovem e precisa, como todos os segundanistas da NFL, aprimorar sua capacidade de lançar passes em janelas menos favoráveis, Dez Bryant virtualmente desapareceu em comparação ao jogador que era. O camisa 4 vai muito bem lançando no espaço em rotas mais curtas para Jason Witten e Cole Beasley, especialmente a partir do play action. Só que quando as coisas apertam e não há tantos espaços para os recebedores, é a hora que acionar Dez Bryant seria essencial para o Dallas Cowboys – mas isso simplesmente não acontece.
Pode ser que Bryant não tenha mais a explosão de outrora, o que é uma colocação justa pelo histórico de lesões. Pode ser, ainda, que o papel que ele está desempenhando não favorece seus pontos fortes, ou que Dak Prescott (ainda) não tem o skill set para fazer do camisa 88 um dos cinco melhores recebedores da NFL que era na época de Tony Romo. O que não pode acontecer é um jogador como Dez Bryant simplesmente não conseguir produzir mais de 100 jardas em 2017 – é essencial extrair o melhor dos seus melhores jogadores, e esquematizar para que isso ocorra.

5-6… e agora?
Com o cenário da NFC disputado da forma que está, o Dallas Cowboys precisa se reestruturar mentalmente. As três últimas partidas foram um desastre em todos os aspectos, e Jason Garrett precisa mostrar algum tipo de liderança, de capacidade de adaptação caso o time do Texas queira ainda disputar uma vaga de wild card.
O que deve ser mencionado, e com muita ênfase, é que nenhuma equipe pode simplesmente desaparecer pela perda de um jogador. E não estamos sequer falamos do quarterback. Claro, falem que Dak Prescott sente falta de Ezekiel Elliott – quem não sentiria? -, mas os problemas vão muito além do jovem signal caller. Ele é, indubitavelmente, o franchise quarterback.
A grande questão é saber se o inconstante Jason Garrett – basta ver seu retrospecto como head coach – é capaz de se estabilizar e levar o Dallas Cowboys à grandeza que o time está tão acostumado desde a década de 1960.
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