O Miami Dolphins vem sendo o exemplo do que não fazer na Free Agency

Qual a fórmula do sucesso na construção de um time de futebol americano? Esta, com toda a certeza, é a pergunta de um bilhão de dólares. Até a década de 1990 não havia muito como fugir do básico: construir uma equipe pelo Draft e cuidar dos talentos dentro de casa. A Free Agency veio para mudar completamente a liga – e as certezas da vida.

Crescer um quarterback dentro de casa e cercá-lo de talentos pontuais de fora? Ter os pratas da casa felizes e achar um signal caller free agent? Fazer que nem o Green Bay Packers, que nos últimos anos quase que ignora a Free Agency e drafta todo mundo que entrará em campo? Ou adotar a fórmula de John Elway: free agents para todo o lado, porém preservando os principais talentos criados em casa, como Von Miller? É uma dúvida cruel e que 32 franquias da NFL tentam decidir qual seria a melhor. Sabe qual é a que vai na contra-mão total? O Miami Dolphins.

Note que todas as possíveis fórmulas têm um denominador em comum: manter os talentos dentro de casa e confiar no Draft. Seja só escolhendo por necessidade, por talento ou um misto, sem escolhas boas não há futuro. Isso já parece bem entendido para quase todos os front offices, menos para o do Miami Dolphins.

De 2009 para cá, a Era Stephen Ross

Desde que Stephen Ross comprou a franquia, Miami parece que apenas patina na lama. Aparenta que o desespero de jogar a primeira vez os Playoffs (ele virou o único dono em 2009) tomou todo o front office e ano após ano a atitude é a mesma: grandes contratos na Free Agency e draftar seguidamente por necessidade. A própria estrutura montada por Ross com seus dirigentes não parece funcionar de maneira adequada, vide que Mike Tannenbaum (uma contratação bem questionável) ainda continua lá – mesmo depois de bater cabeça seguidamente o ex-general manager Dennis Hickey, e o seu fiel escudeiro Chris Greier. São muitas pessoas querendo mandar e ficar em posição favorável com o dono. Quando Ross mandou todo mundo embora (de novo), Tannenbaum deveria estar na barca – e não foi o que aconteceu.

Mesmo com tantos erros, os Dolphins começaram o ano muito bem com a contratação de Adam Gase – que embora jovem, era um dos melhores nomes em um fraco mercado de técnicos. A disputa por poder incessante ganhou um novo componente, visto que Gase terá poder sobre os 53 atletas finais. O que isso significa? Que Gase, um técnico jovem que nunca foi head coach na NFL, terá voz ativa.

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Para que a crítica fique consistente, vamos resumir: a diretoria tem 2323 pessoas com poder de mando, com o dono atuando também no bolo e um técnico sem experiência anterior tendo algum tipo de bala na agulha. Não foi, nos últimos anos de NFL, uma receita de sucesso. Aliás, nunca foi.

Com esse front office desfuncional e um dono com quem os torcedores não são muito simpáticos, obviamente as decisões tomadas na intertemporada poderiam ser bem questionáveis. A cultura de investir pesado em grandes nomes (Vamos lá, lembrar de todos; Mike Wallace em 2013 com um contrato horrível para coroar uma intertemporada péssima; Brandon Albert em 2014, que embora venha sendo confiável, não consegue estar saudável a temporada inteira e ainda não entrou no top five dos offensive tackles da liga; Ndamukong Suh em 2015 com seus seis sacks e a destruição do salary cap) ainda está bem estabelecida, mesmo depois de tantas falhas. A combinação dinheiro + nomes fortes não resulta em vitórias.

O esporte não é uma ciência exata e a Free Agency é ainda mais uma incógnita.

A situação piora quando se observa que a franquia não apenas gosta dos nomes grandes, mas sim de trazer um monte de jogadores – foi a que mais contratou neste período nos últimos cinco anos. O grande problema é que os Dolphins começaram, ainda mais nessa intertemporada, a cometer o erro mais grave de todos: deixar seus talentos de casa irem embora e contratar veteranos em fim de carreira. Por que isso é ruim? Bom, porque quando você escolhe um jogador no Draft, pode moldá-lo ao seu sistema. Quando você contrata um veterano, terá que fazer ele perder vícios que não são bons em seu sistema. É uma matemática simples. Mas também costuma ter a idade – e em jogadores que necessitam de explosão muscular, esse é um problema. Como o exemplo a seguir.

A ideia de contratar Mario Williams já era ruim e ficou muito pior com a liberação de Olivier Vernon. Tudo bem que o defensive end oscila demais e virou uma incógnita, porém ele tem muito mais potencial para ajudar no futuro do que Williams (que já está do lado errado dos 30 anos). Vernon não vale tudo que o New York Giants pagou, é bem verdade, conquanto os Dolphins erraram demais em pensar na estratégia de liberar o seu jovem potencial – a decisão de não aplicar a franchise tag foi pensando no mercado. Vernon tinha compensado um pouco a escolha de Dion Jordan, que desde o primeiro dia já se falava o quão ruim era seu encaixe, porém todo o valor foi jogado pela janela. E este tipo de decisão equivocada também aconteceu com Lamar Miller: o running back assinou com o Houston Texans e agora os Dolphins tentam roubar C.J. Anderson do Denver Broncos. Mesmo que os contratos sejam diferentes em cifras (26 milhões em quatro anos para Miller e 18 milhões para Anderson no mesmo período), foi mais um talento perdido e que será trocado por um jogador com potencial menor.

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Se deixar o seu defensive end mais promissor sair pela porta dos fundos já era ruim, imagine descer cinco posições no Draft para pegar um cornerback com um contrato horrível (e que não consegue fazer um tackle, pergunte aos torcedores dos Eagles) mais um linebacker que rompeu duas vezes o ligamento anterior cruzado do joelho e quase rompeu a terceira no ano passado – Byron Maxwell e Kiko Alonso. Cinco posições parece pouco, porém, existe um consenso que este Draft aparenta possuir seis jogadores em um outro patamar: Myles Jack, Laremy Tunsil, Jalen Ramsey, Joey Bosa, DeForest Buckner e Ronnie Stanley e mais dois quarterbacks: Carson Wentz e Jared Goff. Tudo bem que a ideia era se livrar de Brent Grimes e sua esposa, mas sair da posição de ir atrás de um talento excepcional por dois free agents que poderiam ter similares no mercado é um tanto inacreditável. Novamente, priorizar o agora em vez do futuro é um baita tiro no pé que a franquia ainda não aprendeu – mesmo depois de tantos erros.

Os Dolphins querem ganhar agora, de qualquer jeito, e acabam jogando planejamentos pela janela.

O grande ponto é o efeito gerado pelo Super Bowl XLII. Aquela foi a primeira vez que Tom Brady se apresentou como um quarterback mortal – se pressionado pelo meio da linha. Não surpreende que Ndamukong Suh, defensive tackle, tenha ganhando um caminhão de dinheiro – tanto dinheiro que os Dolphins tiveram que reestruturar a bagunça.

O efeito Tom Brady associado com a falta de jogos em Janeiro está proporcionando decisões extremamente questionáveis. No meio disso tudo, Ryan Tannehill vai vendo seu desenvolvimento ficar aquém do esperado e o torcedor fica desesperado. A esperança é que Adam Gase e Vance Joseph conseguiam extrair algo deste elenco tão caro, com tantas experiências diferentes e… tão sem identidade.

Stephen Ross já devia ter mudado esses conceitos na intertemporada, quando perdeu a chance de parar com as disputas de poder entre seus dirigentes. Agora é difícil correr atrás do prejuízo, porém ainda tem salvação. A franquia precisa de um bom Draft para acalmar esta turbulência dos últimos meses e só se consegue isso confiando em seus olheiros. Garantir uma ordem de escolhas coerente, bem estudada e manter-se fiel à ela será difícil, ainda mais com tanta gente dando opiniões. Infelizmente a sina do Miami Dolphins parece longe de acabar. É preciso os dirigentes pararem de pensar em seus empregos e começarem a pensar no bem do time da Flórida.

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