O que faz da NFL uma liga tão boa e divertida de assistir? Bem, podemos citar vários fatores, mas, normalmente, o que costuma ser mais lembrado na hora de elogiá-la é o seu equilíbrio e competitividade.
Ter sucesso e acumular várias vitórias em uma temporada não é garantia de que o sucesso se repetirá no ano seguinte. Graças a mecanismos criados especialmente para nivelar as franquias, como o salary cap, Draft e etc., a rotatividade de equipes brigando por playoffs ou títulos – seja de divisão, conferência ou Super Bowl – é bem grande na NFL.
Claro, hoje existe uma grande exceção a esta regra: o New England Patriots, que vem se mantendo no topo basicamente nos últimos 17 anos. Contudo, é um caso especial. O mais comum é vermos exemplos como o de Panthers, Cardinals e Broncos. Em 2015, os três times terminaram a temporada regular com os três melhores campanhas da liga e chegaram às Finais de Conferência – aliás, Denver e Carolina disputaram o Super Bowl 50. Já em 2016, nenhum dos três atingiu a casa das 10 vitórias e todos ficaram fora dos playoffs.
Além do equilíbrio da liga e a ascensão dos rivais, há vários motivos que explicam a queda no rendimento de Panthers, Cardinals e Broncos. Alguns são específicos para cada caso, enquanto outros são mais gerais – como, por exemplo, o enfraquecimento na linha ofensiva das três equipes. Neste texto, vamos mostrar o que deu errado.
Broncos: Trevor Siemian nem de longe foi o único culpado pelas desventuras do time
Muitas pessoas podem cair na tentação de responsabilizar unicamente Trevor Siemian pelos infortúnios de Denver em 2016, mas isso seria injusto. O jovem quarterback foi, usando a palavra mais apropriada possível, decente. Ele, por exemplo, não atuou pior do que Peyton Manning e Brock Osweiler em 2015. Ou seja, Siemian não merece ser crucificado, embora também tenha empolgado pouco – como no jogo contra os Bengals – ao longo da temporada. O buraco dos Broncos em 2016 foi bem mais fundo.
Em primeiro lugar, podemos falar da linha ofensiva. Ela já foi um problema na campanha de título no Super Bowl e continuou comprometendo no ano passado. Com exceção do center Matt Paradis, visto pelo site Pro Football Focus como um dos melhores de sua posição, a unidade deixou a desejar na hora de proteger o quarterback ou abrir espaços para corrida – inclusive, o right tackle Donald Stephenson recebeu a pior nota (28.0) do PFF entre todos os offensive linemen da liga.
Na semana 5, contra Atlanta, a unidade viveu seu pior momento protegendo para o passe, permitindo que os adversários derrubassem Paxton Lynch seis vezes. Além disso, Denver foi o sexto pior time da liga correndo com a bola (média de 92,8 jardas terrestres por partida), em partes por culpa da sua linha ofensiva – e também pela lesão que fez C.J. Anderson perder os últimos nove jogos do ano.
A inconsistência nas trincheiras foi uma das principais razões para as dificuldades ofensivas da equipe, tanto colocando pontos no placar quanto movendo a bola pelo campo. Repetindo, Siemian teve sua parcela de culpa, afinal ele não aparenta ser um quarterback acima da média, porém não estragou tudo sozinho.
Do outro lado da bola, o problema ironicamente também foi nas trincheiras. A defesa quase impenetrável de 2015 começou a ruir e ser devastada pelo chão. Após perderem o defensive tackle Malik Jackson e o linebacker Danny Trevathan na última Free Agency, os Broncos passaram a sofrer demais para conter os ataques terrestres. Há duas temporadas, foram o terceiro melhor time contra o jogo corrido (média de 83,6 jardas terrestres permitidas por partida). Já em 2016, foram o quinto pior (média de 130,3 jardas).
Contra o passe, Denver continua com uma unidade de elite, mas sem parar os adversários pelo chão fica mais difícil para a defesa segurar resultados quando o ataque não funciona, a marca da franquia durante a arrancada rumo ao título do Super Bowl 50. Este talvez seja o principal motivo para os Broncos terem terminado com três vitórias a menos em relação a 2015 (nove contra 12).

Panthers: falta de proteção para Newton e regressão defensiva
Há cerca de três meses, mais ou menos na metade da temporada regular, falamos sobre as dificuldades enfrentadas por Carolina. Desde então, pouca coisa mudou. Os Panthers continuaram cedendo um caminhão de jardas aéreas para os adversários e a linha ofensiva seguiu inconstante.
As lesões do left tackle Michael Oher e do center Ryan Kalil, o primeiro perdeu 13 partidas e o segundo oito, forçaram o time a rearrumar completamente sua linha ofensiva, mudando atletas de posição e fazendo com que a eficiente unidade de 2015 despencasse de rendimento. Por exemplo: Mike Remmers, right tackle de origem movido de lugar para substituir Oher, cedeu nove sacks, 49 pressões e cometeu 15 faltas. Em contrapartida, Daryl Williams assumiu a posição de Remmers e não fez um grande trabalho.
Sem poder contar com a proteção adequada, Cam Newton esteve longe de repetir a performance que lhe rendeu o prêmio de MVP da liga há duas temporadas. O quarterback sofreu demais, sobretudo quando era obrigado a lidar com blitzes, um recurso que os adversários utilizaram bastante em 2016, tendo seu pior desempenho da carreira em termos de rating (75,8) e percentual de passes completos (52,9).
Ademais, a fragilidade defensiva de Carolina, oitava equipe que mais cedeu pontos por partida (25,1), fez com que o ataque constantemente precisasse abandonar o jogo terrestre para ir atrás do resultado. Como sabemos, a vocação ofensiva dos Panthers é correr com a bola e Newton não é o passador mais prolífico da liga, principalmente se o ataque estiver unidimensional. Somada com a falta de proteção da linha, está aí uma das razões que explicam a média de pontos ter caído de 31,2 para 23,1 de um ano para o outro.
Já os problemas defensivos do time ocorreram pela falta de eficiência da secundária marcando o passe, embora o front seven também tenha caído de produção em relação a 2015, especialmente na primeira metade da temporada. O cornerback James Bradberry surpreendeu e foi um dos melhores calouros do ano (ele permitiu um rating de 69,9 aos quarterbacks que lançaram em sua direção), mas, sem muito talento ao redor para lhe ajudar, não conseguiu impedir que os Panthers fossem o quarto pior time da NFL cedendo jardas aéreas por jogo (268,2).
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Cardinals: problemas no lado direito da linha ofensiva e no corpo de wide receivers
Arizona, assim como Denver e Carolina, também pode colocar parte da culpa pelo seu fracasso na linha ofensiva. A unidade, a qual havia cedido 27 sacks em 2015 (7ª menor marca da liga), permitiu que os adversários derrubassem Carson Palmer 41 vezes em 2016 (8ª maior marca). O ponto mais fraco da linha foi o lado direito, responsável por ceder 22 sacks e 145 pressões. Os Cardinals não conseguiram se estabilizar nas posições de right guard e right tackle, trocando de jogadores inúmeras vezes ao longo do ano por conta de lesões e performances ruins.
Para piorar, o grupo de wide receivers da equipe, antes visto como um dos mais completos da NFL, mostrou que não era tão confiável assim. Michael Floyd teve uma temporada bem discreta antes de ser cortado do time em dezembro, após ser preso por dirigir alcoolizado. John Brown, apontado como uma possível estrela desse ataque, ficou limitado grande parte do ano devido a problemas de saúde. Apenas Larry Fitzgerald manteve sua regularidade de sempre e atuou no nível que todos esperavam.
Palmer, por consequência, viu sua produtividade despencar, inclusive talvez já sentindo o peso dos 37 anos de idade. Além disso, Arizona enfraqueceu em uma de suas principais virtudes ofensivas de 2015: o passe em profundidade. Há dois anos, Palmer conectou 65 passes maiores de 20 jardas e 15 maiores de 40. Em 2016, foram respectivamente 48 e 6. Ou seja, a franquia perdeu um pouco do que fazia seu ataque tão empolgante e perigoso. Por outro lado, para sermos justos, vale a pena destacarmos que a temporada sensacional vivida pelo running back David Johnson manteve os Cardinals competitivos ofensivamente, mesmo com estes problemas – se o time tivesse ido aos playoffs, Johnson seria um dos favoritos a MVP.
Arizona acabou sendo uma das maiores decepções do ano, pois em agosto muita gente apostava que a equipe estaria nos playoffs ou mesmo no Super Bowl. Ao invés disso, terminou 2016 com o record de 7-8-1. A defesa manteve basicamente o mesmo nível apresentado há duas temporadas, talvez ficando até mais completa com a adição de Chandler Jones no pass rush, porém a queda de rendimento do ataque comprometeu as pretensões do time.








