A decisão do Green Bay Packers de selecionar Jordan Love, quarterback de Utah State, na 26ª posição geral foi a grande bomba do Draft 2020. Em primeiro lugar, a escolha de certa forma coloca um prazo de validade na era Aaron Rodgers – é óbvio que este não seria eterno, mas agora, mais do que nunca, existe um horizonte para o seu fim em Green Bay. Em segundo, por mexer com a (grande) vaidade do camisa 12, pode ser o prenúncio de uma guerra civil entre Rodgers, Matt LaFleur e o resto da franquia.
Seja como for, a decisão já foi tomada e Love precisa ser preparado para um dia assumir o trono, mesmo que a sua escolha, em um primeiro momento, tenha por objetivo mostrar a Rodgers quem é que manda – mostrar que ele não é o dono do time.
Não por acaso, muita gente comparou a atual situação com o que aconteceu 15 anos atrás, quando Rodgers foi draftado, também no final da 1ª rodada, para um dia substituir Brett Favre. É uma comparação válida em vários aspectos e provavelmente é o que Packers querem em médio e longo prazo, contudo, é preciso termos em mente que não se trata de uma analogia perfeita.
Antes de mais nada, vale a pena voltar a 2005 e ver qual foi a reação geral à escolha de Rodgers. Curiosamente, houve questionamentos naquela época e por motivos parecidos com as atuais contestações a seleção de Love.
Rodgers não foi exatamente uma unanimidade em 2005
Green Bay não acreditava que Rodgers estaria disponível no final da 1ª rodada. Pelo menos é o que conta Reggie McKenzie, membro do front office da equipe naquela época: “Nós não tínhamos ideia de que Rodgers estaria lá na posição 24. Nós queríamos acreditar que ele estaria, mas definitivamente não o víamos como a 24ª escolha do Draft. Eles [os técnicos] pensavam que esse cara sairia no top 5”.
Mas eis que 22 franquias pensaram diferente do front office dos Packers (o Dallas Cowboys escolheu duas vezes nesse intervalo), fazendo com que Rodgers ainda estivesse disponível na 24ª posição geral. O general manager Ted Thompson, então, decidiu puxar o gatilho, selecionando o jovem quarterback de California.
Ainda assim, não foi uma decisão simples segundo Andrew Brandt, antigo vice-presidente de finanças: “Meu Deus, nós realmente vamos fazer isso? Nós vamos pegar um jogador que não nos ajudará neste ano, talvez nem no próximo, talvez nem no ano seguinte, talvez nunca”. O próprio Thompson admitiu que haveria questionamentos, porque Favre ainda estava jogando bem e o time tinha outras necessidades imediatas.
Em relação à imprensa, a postura foi cautelosa. Randy Mueller, ex-general manager e na época comentarista do site da ESPN norte-americana, ponderou que Green Bay tinha uma grande decisão pela frente, pois, ao mesmo tempo que Favre não duraria para sempre, eles tinham muitas carências na defesa. Mel Kiper Jr. por outro lado, argumentou que nenhum jogador defensivo naquela altura melhoraria a unidade significativamente, por isso a escolha deveria ser Aaron Rodgers.
Enfim, as opiniões não fugiram muito disto: Rodgers é um seguro para o futuro, um ótimo valor na 24ª posição, mas não ajudará em curto prazo e impediu que o time se reforçasse para vencer agora. “Coitado do Mike Sherman [o head coach em 2005]. Este Draft dos Packers pode trazer muitos dividendos lá na frente, mas provavelmente só o fará para outro técnico’, afirmou o jornal Milwaukee Journal Sentinel.
E nem vamos entrar no mérito dos olheiros e analistas que simplesmente não gostavam de Aaron Rodgers como jogador, seja por não o verem como dono de um talento acima da média, seja por considerarem-no um mero produto de Jeff Tedford e do sistema de Cal. Vamos focar apenas na repercussão de sua seleção.
Quais as semelhanças e diferenças em relação a Love?
Se Rodgers não foi unanimidade em 2005, Love é muito menos em 2020. Por um lado, a principal crítica se assemelha aos questionamentos de 15 anos atrás, já que, ao draftá-lo, Green Bay ignorou suas necessidades imediatas por alguém que talvez só contribua no futuro. No caso, os Packers preferiram escolher o sucessor de Aaron Rodgers ao invés de oferecer-lhe novas armas para vencer agora – como um wide receiver, por exemplo. A diferença é que a equipe de 2005 tinha carências na defesa e a de 2020 tem carências no ataque, mas a base do argumento é a mesma.
Contudo, existe um ponto bastante divergente na situação dos dois: enquanto um era um quarterback cotado para o top 5 que despencou inexplicavelmente para o fim da 1ª rodada, o outro é um projeto em todos os aspectos. Jordan Love é visto como o quarto ou quinto nome da classe de signal callers 2020, muito longe do potencial que Rodgers apresentava em 2005. É aqui que as comparações precisam acabar.
Faz total sentido os Packers pensarem na transição, afinal Rodgers é um quarterback de 36 anos em visível declínio técnico – entenda que estar em declínio NÃO é sinônimo de estar acabado. Favre, ironicamente, também tinha 36 anos de idade quando o seu sucessor foi draftado e foi titular por três temporadas antes de ser substituído. Rodgers terá mais uns dois ou três anos pela frente em Green Bay, pois as cifras de seu contrato inviabilizam que ele saia antes disso.
Tudo segue uma inegável lógica por parte do front office dos Packers, uma tentativa de recriar quase à risca o modelo que deu tão certo anos atrás. A grande questão é se Jordan Love foi o nome certo para o projeto. À primeira vista, a julgar pelo seu talento e potencial, talvez não tenha sido, embora ninguém tenha ideia de como será o seu desenvolvimento.
De qualquer jeito, para concluir, é importante ter em mente que não existe fórmula mágica de sucesso na NFL. Não há garantia nenhuma que o modelo de 15 anos atrás dará certo com Love ou com qualquer outro quarterback, assim como não há certeza de fracasso apenas porque Love não é o novo Aaron Rodgers. Green Bay fez uma grande aposta, assim como fizera em 2005, e agora terá que ir até o fim.
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