Por que Colin Kaepernick ainda está sem time?

Robert Griffin III, Jay Cutler e Colin Kaepernick eram quarterbacks titulares em 2012. Os três eram considerados como signal callers capazes de levarem seus times aos playoffs. Num espaço de quatro anos, todos estão desempregados. O que aconteceu? Bom, esta série de textos desta segunda-feira tem exatamente como objetivo tentar desvendar este mistério. Para o fã que a acompanha de perto a NFL, a resposta não é tão difícil: em resumo, baixa produtividade para muito dinheiro.

Mas não é só isso: todos os três acabam vindo com uma bagagem. Em analogia, seria como você comprar uma empresa com dívidas trabalhistas. Não é como se o problema fosse o valor que você vai pagar. A questão é o ônus que vem com a “herança”. Deixando claro: não necessariamente eu concordo com esse ônus – principalmente no caso de Kaepernick. Mas é o que deve passar na cabeça de general managers. Tal como técnicos no Campeonato Brasileiro, a paciência com diretoria na NFL é curta. Como consequência, temos uma abordagem conservadora em muitos casos – a menos que você tenha lastro pra meter o louco como Bill Belichick ou esteja no clima “pior que tá, não fica” como em Cleveland.

Dito isso, vamos tentar identificar por que nomes como Mark Sanchez e Josh McCown têm emprego e outrora titulares, Cutler/Kaepernick/RGIII, não. Agora é a vez de Kaepernick.

Sim, os protestos estão fazendo com que ele tenha menos espaço, mas tem outra coisa…

Seja sincero: o que mudou de março de 2016 para março de 2017 em termos de produtividade de Colin Kaepernick? Praticamente nada, ele é o mesmo jogador em essência. Como explicar, fora o fato de que Denver draftou um quarterback, o fato de que no ano passado havia boato forte de que Kaepernick poderia ser trocado para os Broncos e agora ele está no mercado e John Elway não o quer?

O nada explica, em parte. Você que me lê sabe que eu sou um grande crítico do estilo de jogo de Colin. Sem um elenco forte ao redor e um guru – leia-se Jim Harbaugh – de quarterbacks chamando as jogadas (como acontecia em San Francisco até meados de 2013), Kaepernick é exposto e sua maquiagem cai.

Sim, eu sei que parece uma metáfora machista, mas não é. Passam maquiagem em mim nos programas de estúdio da ESPN, eu sou bem mais feio do que pareço. Colin é mais feio sem a maquiagem. Sem um elenco de peso – Frank Gore em alta produtividade, uma boa linha ofensiva, uma defesa que não lhe coloca em situação de passar muito a bola para correr atrás de viradas, enfim. A culpa do desempenho dos 49ers nos dois últimos anos não é só dele. Mas também é dele, porque ele é quarterback.

Russell Wilson e Cam Newton, cujas produtividades se davam muito por conta da read-option em 2012, evoluíram como passadores desde então. Colin, não. Há diversos dados e observações subjetivas que demonstram isso. No segundo caso, a mecânica cru de Colin como passador. Ainda no segundo, o fato de que quando se analisa a câmera all-22, o camisa 7 muitas vezes não faz a progressão de recebedores. Isto é: cada jogada aérea tem uma rota principal; Na NFL, é esperado que o QB rapidamente possa progredir para outros recebedores. Kaepernick progride para a corrida. Não para a terceira rota, a quarta e assim por diante.

Ainda neste aspecto, o dado que mais revela sobre a estagnação de Kaepernick como quarterback é sua porcentagem de passes completos em segundo tempo. É a pior da NFL. Isso demonstra, com clareza, que as defesas se adaptam e fazem ajustes a ele. E sua produtividade cai absurdos quando importa – ou seja, com seu time atrás no placar e com ele tendo que passar mais a bola.

Não sejamos hipócritas, os protestos fazem com que ele perca espaço sim

Sim, não nego. Embora ao meu ver não seja o principal motivo – vamos combinar que não foi com outros jogadores de extra-campo polêmico, como Adrian Peterson enchendo seu filho de golpes com um galho – acredito que os protestos durante o hino nacional sejam um fator que façam Colin menos desejado.

Como disse no texto de Robert Griffin III ainda estar desempregadogeneral managers que precisam de quarterbacks são conservadores, em sua maioria. Porque se chegou ao ponto deles precisarem de signal caller, muito disso é por conta de seus empregos já estarem na corda bamba – exemplo? Ryan Pace em Chicago.

Trazer Kaepernick, como trazer Tebow há alguns anos, importa em trazer um furacão de imprensa no training camp. E as diretorias simplesmente não querem isso a menos que valha a pena com um talento absurdo, um cara que vá mudar sua franquia. Colin não é esse cara. Em 2012 era. Mas até aí, um PlayStation 3 também era sensacional naquela época, hoje não é mais. Em termos de jogo, o camisa 7 está parado na read-option de 2013 como gatilho de produtividade em cima da média. O problema é que as defesas há muito aprenderam a neutralizar isso, tal qual costuma acontecer na NFL.

Isso não quer dizer que o protesto de Kaepernick não seja justo. Pelo contrário, aliás. Caso você tenha assistido OJ: Made in America – documentário vencedor do Oscar neste ano – dá para ter uma noção de como a violência policial ante negros é uma questão relevante na sociedade americana. Colin tem o direito de protestar, mas infelizmente tem que arcar com as consequências disso.

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Em resumo: ele não está desempregado porque protestou ajoelhando durante o Hino Nacional Americano, embora isso seja um motivo. Ele está porque não evoluiu como quarterback como seus pares Wilson e Newton, outrora mais dependentes da read option que hoje possuem um portfólio como passador. A única coisa que não é anulável por uma defesa em boa parte dos casos é o passe perfeito. E isso Colin está longe de poder oferecer.

Chance de estar empregado na Semana 1 de 2017: média: Colin ainda tem gasolina no tanque para ser contratado por um time que precise de um reserva móvel. Buffalo, Seattle (sim, acredite), Carolina e outros times com essa filosofia podem acabar sendo um destino provável. Como titular, porém, passada a primeira fase da Free Agency, é bastante difícil de acontecer.

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