Primeira Leitura: O Curioso Caso de Cardale Jones

Uma das histórias mais interessantes quanto ao Draft de 2016 é a de Cardale Jones. O nome lhe é familiar? Se você acompanha o College Football – especialmente na primeira edição do College Football Playoff em 2014-2015 – com certeza esse nome lhe será familiar.

Lembro de olhar, na época, as colunas do tweetdeck com a falecida hashtag “#ESPNtemBowl” e testemunhar o apelo de múltiplos fãs de futebol americano cujos times estavam desesperados por quarterbacks. Ao ver Cardale Jones em ação nos playoffs do College – e vencê-los de forma magnífica – esses mesmos queriam Jones desesperadamente em seus times. Praticamente um ano e meio depois, ninguém mais menciona o nome do camisa 12 de Ohio State no Twitter ou em qualquer lugar que tenha visto recentemente.

A ascensão de Cardale Jones ocorreu de maneira quase tão meteórica como a de Tim Tebow. Mas como a NFL é bem mais popular do que o College aqui no Brasil, não houve o mesmo efeito “messiânico” nas páginas de memes. Assim, Jones foi um sucesso do verão de 2015 a là “Lepo Lepo” e de repente ninguém mais lembra dele.

Antes de qualquer coisa, é interessante lembrar como essa ascensão meteórica começou. Cardale era o terceiro quarterback no time de Ohio State em 2014 – uma equipe que poucos indicariam que chegaria entre os quatro melhores no ranking do Comitê, ganhando o direito de disputar uma das semi-finais. Braxton Miller, ainda um quarterback, se machucou antes mesmo da temporada começar. Jones, então segundanista redshirt, se tornou reserva imediato – mas praticamente sem chance de encostar na bola, salvo quando Ohio State já estava massacrando a Big Ten nos últimos quartos.

Antes da grande final de conferência em 2014, tudo mudou. J.T. Barrett, o titular daquele instante, se machucou na última semana da temporada regular contra a rival Michigan. Ohio State teria que jogar pelo título da Big Ten, contra Wisconsin, com seu terceiro quarterback. A desconfiança era enorme, como não poderia deixar de ser; Jones nunca havia sido titular no College e tinha poucos passes dados até então. Mesmo com a campanha que fez na temporada regular, Ohio State era zebra no jogo se considerarmos as casas de apostas de Las Vegas. Aí, aconteceu isto.

Cardale Jones comandou os Buckeyes a uma vitória por 59 a 0 e foi eleito o MVP da partida. Naquele momento, Ohio State estava em sexto nos rankings do Comitê. Após um feito como esse, subiu para quarto e enfrentaria a defesa de Alabama na semi-final em janeiro. A coisa só melhorava: se você acompanha o College Football com atenção há algum tempo, sabe que a kriptonita dos times da Crimson Tide e de Nick Saban são quarterbacks ameaça-dupla, que podem correr e passar eficientemente a bola na medida que os recebedores espalhados no campo tiram poder de fogo do front six de Alabama. Foi exatamente o que aconteceu.

Em tese, aquilo tudo acabaria contra a poderosa Oregon na final, disputada no AT&T Stadium. Jones mais uma vez se mostrou imparável, com 280 jardas passadas e corridas – 242 delas aéreas. Ele não estava simplesmente passando a bola: ele estava disparando lasers. Ohio State, rankeada como sexta equipe do país antes da final de conferência e com seu terceiro quarterback dali para frente, era a grande campeã nacional.

Com o Draft se avizinhando, restava a Cardale decidir se iria para a NFL ou se permaneceria no College Football. Para ele, só haveria uma compensação lógica se fosse escolha de primeira rodada – até porque a demanda por quarterbacks depois de Jameis Winston e Marcus Mariota só viria novamente no final da segunda rodada (o que de fato se confirmou). Se ele permanecesse no College – novamente, em tese – poderia ser escolhido em 2016 como um prospecto de primeira rodada (dada a concorrência mais fraca, conforme já falamos diversas vezes sobre esta classe de 2016 na posição).

Ao invés das coisas melhorarem, só pioraram. Jones disputou intensamente a titularidade em Columbus com o agora saudável J.T Barrett. Na intetemporada, ganhou – mas não levou. Urban Meyer, o treinador, fez um rodízio dos dois quarterbacks ao início da temporada. Braxton Miller decidiu se tornar wide receiver, vale ressaltar.

[the_ad id=”1532″]

No final das contas, o “rodízio” foi vencido por Barrett. Ele foi o titular contra Michigan State na penúltima semana da temporada regular – na prática, final de divisão – e depois nos dois jogos seguintes (incluindo o Fiesta Bowl). Jones tinha tudo para se estabelecer como aquele tanque de guerra que vimos nos playoffs da temporada anterior. O problema é que o espaço amostral para os coordenadores defensivos adversários aumentou – ou seja, mais vídeo de Cardale jogando significaria mais formas de estudar suas virtudes e problemas. Acredite, os problemas foram maiores.

Jones errava passes simples, como rotas slant. Ele herdou o cargo de quarterback mas nunca foi realmente dono desse cargo. Interceptações tolas foram lançadas – ao meu ver, muito por conta da confiança excessiva que ganhou na temporada anterior. Quando começou a ser forçado a sair do pocket, Cardale viu sua porcentagem de passes completos em movimento cair em 30% na temporada de 2015 – e o prospecto, outrora kriptonita de defesas físicas, viu na blitz seu próprio ponto fraco.

Além de todos esses problemas, temos as constantes polêmicas nas quais o jogador se mete. Quando era um completo desconhecido, Cardale twitou o seguinte; “Por que raios você tem que ir pra aula se estamos aqui para jogar FUTEBOL AMERICANO? Nós não viemos aqui para jogar ESCOLHA, aulas não servem para nada”. É óbvio que isso explodiu na época em que Jones virou titular.

Para complicar as coisas, seu técnico não lhe é muito amistoso nos comentários. “Seja quem for que o escolha no Draft, haverá de ter um pouco de paciência”, disse Urban Meyer recentemente. “Ele tem um bom conjunto de habilidades, é intelectual, bem esperto, mas não ia bem na escola”, completou o treinador a uma entrevista de um jornal de Ohio. A última coisa que você quer saber de um prospecto é que ele não recebe apenas elogios de seu treinador do College – ou pior ainda, que ele constantemente causa em redes sociais. Isso é uma distração de vestiário e na NFL, quanto menos distrações, melhor. São apenas 16 jogos numa temporada, você não pode ter coisas racionalmente evitáveis atrapalhando seu time. Por tudo isso, Jones se tornou radiativo e deve ser escolhido por volta da quinta rodada. Uma catástrofe para alguém que até recentemente era cotado para a primeira em 2016.

Cardale Jones tem as ferramentas físicas de prospectos recentes como Derek Carr. Mas não tem o toque na bola. De nada adianta o físico se o cérebro não se mostra presente como deveria para um jogador no nível profissionais – onde, aproveitando que isso é um mantra em meus textos, a defesa é mais rápida, inteligente e complexa. Não quer dizer que Jones terá um destino ruim: só que ele é um diamante extremamente bruto numa classe repleta de diamantes brutos na posição.

A coluna “Primeira Leitura” é um exemplo de uma das metas do nosso programa de assinantes: veja aqui como você pode nos ajudar a ter ainda mais conteúdo de alta qualidade no ProFootball

Como muitos olheiros determinaram, Cardale é uma refeição que você pode ou não ter os ingredientes para preparar no futuro. E o problema é que quem vai avaliar essa refeição são defesas dignas de serem juradas do MasterChef – ok, a analogia foi péssima, peço desculpas de antemão. Jones teve muita pouca experiência e sofreu um perrengue danado quando os coordenadores defensivos adversários conseguiram se adaptar ao seu estilo, neutralizando seu jogo. Será que ele será capaz de evoluir ou será um eterno “Lepo Lepo” – nota mental, se quiser, coloque “Tá Tranquilo, Tá Favorável” na metáfora. E, novamente, desculpas – mas desta vez por colocar essas músicas na sua cabeça.

A classe de 2013

Como de costume, gosto de falar um pouco de história aqui nesta parte da coluna. A dinâmica dos quarterbacks na classe de 2016 em relação à classe de 2015 lembra ligeiramente a dinâmica 2013-2012. Em 2012, Andrew Luck foi escolhido em primeiro – Robert Griffin III em segundo. No ano seguinte, a classe era notoriamente menos talentosa – E.J Manuel foi o primeiro quarterback a ser escolhido e, bem, foi o único na primeira rodada. Depois veio Geno Smith na segunda – uma escolha que condeno até hoje, como o leitor de longa data bem sabe.

Não que a classe deste ano seja igual àquela de 2013. Mas é interessante como as equipes, por demanda, podem “se contentar” com jogadores mais crus porque, bem, quarterback é a posição mais importante do jogo.

Um pouco sobre o calendário

Vamos fazer uma dinâmica diferente aqui em ProFootball. Acho que vocês viram um festival de sites americanos já numerando “os 10 melhores jogos”, os “5 melhores Sunday Night”… Acho que é muito cedo para isso. Vamos esperar o Draft. Mas, de toda forma, falemos sobre uma coisa que vai ser legal em específico: os jogos-revanche.

Destaco três: o primeiro você já sabe, é a abertura da temporada regular da NFL na quinta-feira 8 de setembro. O Carolina Panthers viaja para Denver após ter perdido o Super Bowl 50 para os Broncos em fevereiro. Os outros dois passaram mais batidos.

Na Semana 4 temos Washington recebendo um filho conhecido: a primeira escolha da franquia no Draft de 2012, Robert Griffin III, deve ser o quarterback do Cleveland Browns na partida entre a franquia de Ohio e o time da capital. Interessante notar que é um jogo normal da tarde, a liga não fez questão de marcar o confronto para o horário nobre.

O destaque técnico da Semana 7 naturalmente iria para Steelers e Patriots, que se enfrentam à tarde. Mas o destaque emotivo, digamos, vai para o jogo entre Houston Texans e Denver Broncos. A partida é no Mile High Stadium e marca a volta de Brock Osweiler ao Colorado. Osweiler, lembrando, optou por não renovar com Denver e agora é o quarterback titular dos Texans.

aa

O melhor da semana: a troca Rams-Titans

Jean Souza já analisou os detalhes técnicos da troca entre Los Angeles e Tennessee. Se você estava em Marte no último ano, os Rams foram para Los Angeles e trocaram uma penca de escolhas com os Titans pelo direito de ter a primeira escolha do Draft de 2016.

Imagino que você queira algum pitaco sobre, mas vou reservar a próxima seção da coluna para tanto. Aqui, listo a troca como “o melhor da semana” porque ela faz com que o recrutamento seja ainda mais bacana de assistir.

ACOMPANHE AQUI A NOSSA COBERTURA DO DRAFT DE 2016.

Antes da troca, tínhamos Tennessee, que já tem seu quarterback titular em Marcus Mariota, em dúvida entre Laremy Tunsil (offensive tackle) e Jalen Ramsey (defensive back). Convenhamos, não é uma dúvida que chama tanto a audiência como a que Los Angeles terá: Jared Goff ou Carson Wentz? Saber qual dos dois jogadores da posição mais importante do jogo será o eleito para tentar fazer com que os Rams deem o passo seguinte na NFC West será sensacional.

Mais: uma das coisas mais bacanas do Draft são as trocas. Elas deixam o recrutamento ainda mais imprevisível – e a gente gosta de quando não dá para saber o que vai acontecer. No ano passado, aliás, a falta de trocas “afetou” a audiência do recrutamento nos Estados Unidos. Houve apenas uma troca notória, no meio da primeira rodada, com os Chargers subindo para a décima-quinta escolha – escolhendo Melvin Gordon com ela.

O pior da semana

A situação de Johnny Manziel. É completamente irresponsável a cobertura midiática que está sendo feita a respeito do ex-quarterback do Cleveland Browns. Não porque eu julgo ser sensacionalismo ou qualquer coisa do gênero, mas a impressão que passa é que Manziel gosta dessa atenção e gosta de aparecer.

Não que ele tenha escolha. Vício em drogas é doença e assim tem que ser tratado. A mídia falar sobre ele constantemente, noticiando suas peripécias, não está ajudando em nada. É por isso mesmo que não falaremos sobre ele aqui em ProFootball enquanto o assunto não for futebol americano. Para você ter noção do ponto que as coisas chegaram, o agente de Manziel implorou publicamente para que Johnny busque tratamento. A coisa ficou fora de controle e a vida do jogador, literalmente, pode estar em risco.

Lembro-me agora daquela foto no banheiro de cassino de Las Vegas em 2014, antes de Johnny começar sua carreira pelos Browns. Era ele, enrolando uma nota de dólar. Se você já viu qualquer filme dos anos 80, sabe o que acontece quando pessoas enrolam notas de dólar em banheiros de cassinos e baladas. Pois é.

Nosso podcast desta semana:

Duas perguntas e uma afirmação

Será que os Rams trocaram porque querem Jared Goff e não Carson Wentz? Explico: o boato mais forte era que o Cleveland Browns estava “apaixonado” por Goff e que iria escolher o produto de California. Pois bem. Os Browns tinham a segunda escolha do recrutamento e os Rams a décima-quinta. Mesmo numa eventual troca com os Ravens pela sexta escolha, ainda sim Los Angeles estariam em risco de não ter o cara que os Browns cobiçavam – isso, em parte, poderia explicar a troca.

O que os Browns vão fazer agora? Eu, pessoalmente, trocaria para baixo. Cleveland tem uma miríade de buracos em seu elenco e precisa se reforçar em múltiplas posições. Por isso, agora que não poderá escolher o cara que queria, pode se contentar em trocar para baixo ou mesmo buscar um reforço defensivo – Jalen Ramsey, por exemplo. Lembrando sempre que a classe do ano que vem tem o quarterback DeShaun Watson, de Clemson, que é considerado por muitos um signal caller melhor do que os desta classe.

O San Diego Chargers foi incrivelmente beneficiado da troca Rams-Titans. Duvida? Se os Browns apertarem o gatilho e escolherem “o quarterback que sobrar”, San Diego tem Jalen Ramsey ou Laremy Tunsil a sua disposição. Ambos seriam ótimas adições ao elenco dos Chargers.

[the_ad id=”1532″]

Primeira Resposta: seu feedback!

Seu feedback é sempre importante para nós. Toda terça-feira a noite publicaremos perguntas dos leitores com nossas respostas. No passado essa parte da coluna não deu tão certo muito porquê não colocava os tweets que vocês me mandavam nela – queria que fosse exclusivo por email. Agora vamos colocar também!
Participe, então, da seguinte forma:

a) Comentando com o DISQUS lá embaixo

b) Mandando perguntas para meu twitter, @CurtiAntony

c) Mandando e-mail para curti@profootball.com.br – mas só uma pergunta ta? ahahaha antigamente mandavam 200 no mesmo email, ai complica. 

PS: Lembrando que ao mandar perguntas você autoriza a publicação delas aqui no ProFootball, ok?

Hello, Goodbye!

A única coisa minimamente política que comentarei nesta coluna – em qualquer momento que ela existir – não versa sobre posicionamento político direita/esquerda: mas sobre o português apresentado por nossos representantes.

É incrível como boa parte dos deputados ontem na votação do impeachment não tem a menor noção de concordância verbal, nominal e mais regras básicas da língua portuguesa. Perdi as contas de quantas vezes ouvi “o povo votaram” e coisas do gênero. Aparte disso, o nível “gincanesco” da votação – dos dois lados, que fique claro – só me faz lamentar, igualmente. Se você ver vídeos da instrução do processo de impedimento de Bill Clinton nos anos 1990, não vê esse circo que foi armado no Brasil.

Dito isso, fica a promessa aqui que mesmo que trate formalmente de política – e não materialmente, como fiz acima – esta coluna não mencionará mais nada sobre Brasília nas semanas, meses e espero, anos vindouros.

Quer uma oportunidade para assinar nosso site? Aproveita, R$ 9,90/mês no plano mensal, cancele quando quiser! Clique aqui para assinar!
“odds