Protesto dos Eagles em Chicago e de outros atletas: como a mensagem de Colin Kaepernick está funcionando

Penúltimo jogo da pré-temporada e um protesto inusitado. Colin Kaepernick, que já havia perdido (não oficialmente) a vaga de titular para Blaine Gabbert, fica sentado durante o hino nacional em um protesto silencioso. A reação instantânea foi que ele estava sendo desrespeitoso com o país em que mora. Só que Kaepernick explicou depois o protesto, dizendo: “eu não vou ficar de pé para mostrar orgulho pela bandeira de um país que oprime pessoas negras e pessoas de cor.”

Como disse Antony Curti na reação instantânea ao assunto, a questão não era sobre a qualidade do jogador Colin Kaepernick. Aliás, Kaepernick foi para o banco não pelo seu protesto (que ainda não é bem visto pela sociedade norte-americana, de acordo com uma pesquisa recente), mas sim pela sua incapacidade de produzir dentro de campo. Independente da qualidade como atleta, Kaepernick conseguiu (intencionalmente ou não) colocar sob os holofotes a violência norte-americana contra as minorias – tanto é que Malcolm Jenkins, representando alguns atletas do Philadelphia Eagles, declarou esta semana que também irá protestar durante o hino no Monday Night Football.

Como surgiu tudo isso, intenção e posicionamento de veteranos

Para entender a origem dos protestos iniciados pelo quarterback do San Francisco 49ers, é preciso saber como surgiu a discussão sobre o posicionamento de atletas. Tudo começou no final do ano passado quando uma corte em Ohio decidiu não levar adiante o caso dos dois policiais que atiraram e mataram Tamir Rice, uma criança negra de 12 anos. Os fãs de Cleveland pediram o posicionamento de LeBron James, visto que ele é o símbolo da cidade, e isto gerou a discussão se estrelas do esporte deveriam se posicionar em assuntos político-sociais.

Obviamente nenhum atleta (e nenhum protesto durante o hino) vai mudar a realidade. O objetivo aqui é outro: jogar a luz em cima destes casos para que não haja impunidade ou negligência – e as autoridades tomem medidas para tentar diminuir o problema. Este é o principal motivo pelo qual a imprensa noticia alguns casos absurdos que ocorrem: só assim é possível pressionar para que algo mude.

Foi dentro deste contexto que o protesto de Kaepernick surgiu. Independente de suas atitudes anteriores (algumas bem questionáveis e que lhe perseguiram depois), a sua atitude deu voz à alguém e incomodou. Além disso, foi vista até mesmo com bons olhos pelos veteranos de guerra – que, ao contrário do que alguns pensam, em sua maioria se mostram a favor das pessoas terem o direito de protestar. Após entender que o gesto não é sobre o quarterback e sim sobre a sua mensagem, o movimento cresceu na primeira semana da temporada regular: seja com Jeremy Lane, Marcus Peters ou jogadores de várias franquias como New England Patriots, Miami Dolphins, Kansas City Chiefs ou Seattle Seahawks.

A discussão não é político-partidária; é social. E, no ponto social, o esporte é fundamental.

Em um tempo de discussões acaloradas, em que qualquer assunto acaba atrelado ao partidarismo, em redes sociais, é preciso entender que este protesto é de caráter social. E o esporte tem papel fundamental na questão social de qualquer sociedade. É um mecanismo que pode ajudar na queda da evasão escolar, da violência – e também proporciona uma oportunidade na vida de crianças e adolescentes. Este assunto já tornou-se além de Colin Kaepernick: a intenção é chamar atenção para a violência que vem crescendo, principalmente contra as minorias.

E uma cidade que vem evidenciando o crescimento na violência é Chicago – com o aumento de 72% nas taxas de homicídio. Além disso, esta violência atinge, em grande parte, a população negra da cidade – que sofre tanto com a violência de foras-da-lei quanto com a de policiais. Obviamente o assunto é grave e é extremamente simbólico que os jogadores do Philadelphia Eagles resolvam fazer um protesto durante o Monday Night Football contra os Bears.

Como disse Malcolm Jenkins: “Para mim, isto não tem nada a ver com o país, a bandeira ou o hino. Realmente é para continuar e levar para a frente a discussão sobre injustiças sociais.” Vale lembrar que Jenkins declarou, em agosto, que não concordava com o gesto de Kaepernick durante o hino. Mesmo assim, após entender a mensagem passada, era de se esperar uma reação em cadeia por parte das franquias ao redor da liga.

Independente da aprovação ou não do gesto, não dá para negar que o protesto alcançou o seu objetivo de colocar a questão sob o holofote da opinião pública. Isto não vai mudar, em curto prazo, as mortes em Chicago ou as condenações em Ohio. Este não é o ponto principal. Colocar em pauta um assunto delicado, ainda mais em um país que preza tanto pelos seus símbolos nacionais (isto é demonstrado, principalmente, na hora do hino), faz com que o assunto não seja esquecido e ganhe atenção de toda a mídia e sociedade em geral.

Ainda mais, vale ressaltar que Colin Kaepernick conseguiu desencadear (mesmo sem querer) uma reação de alguns esportistas no quesito de se posicionarem sobre assuntos sociais – não confunda posicionamento social com posicionamento político-partidário. Esta ideia de que atletas não devem se posicionar neste tipo de questão parece um pouco equivocada. O esporte é uma ferramenta poderosa para mudar a realidade social de qualquer um, logo faz todo o sentido os praticantes terem voz. Além disso, eles são figuras públicas e que influenciam. Chamar a atenção para a negligência de autoridades e para a violência é extremamente importante para que haja pressão por medidas que mudem esta realidade.

Colin Kaepernick, com um gesto simples, pacífico e polêmico, conseguiu fazer com que o assunto fosse discutido e, além disso, mobilizar outras estrelas do esporte. Independente do modo como foi feito ou de sua qualidade como atleta, é inegável que o seu protesto é extremamente importante e deve ir ainda mais longe.

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