4 Descidas: O naufrágio de Paxton Lynch

[dropcap size=small]Q[/dropcap]uatro Descidas é a coluna semanal de Antony Curti sobre a NFL, publicada todas as segundas. São quatro assuntos e não mais que 3000 palavras (ou quase… Às vezes vai passar). Para ler o índice completo da coluna, clique aqui.

Nas duas últimas semanas, dedicamos o espaço (e o tempo) desta coluna a dois assuntos importantes. O primeiro foi o primeiro Power Ranking do ano – aberto a todos os leitores. O segundo, um grande guia (grande mesmo, coisa de 5000 palavras) para os já iniciados em Fantasy Football.

Se você não leu, recomendo a leitura de ambos, abaixo. Agora, voltemos ao modelo normal de Quatro Descidas.

4 Descidas, Power Ranking: Os 32 elencados por força antes da pré-temporada
4 Descidas, Fantasy Football: 10 Mandamentos para você ter mais chances de ser campeão

1st and 10: Sobre prospectos crus, Paxton Lynch e etc

[dropcap size=big]”E[/dropcap]le está chateado, não gostou, quer saber o porquê”, diz o técnico do Denver Broncos. Escolha de primeira rodada no Draft de 2016, Paxton Lynch era objeto de cobiça de várias franquias.

Naquele recrutamento, os Cowboys quase fizeram uma troca para adquiri-lo. Para a sorte dos fãs de Dallas, acabaram “se contentando” com um príncipe-herdeiro para Tony Romo na quarta rodada – ele se chama Dak, acredito que você o conheça.

Recém-campeão do Super Bowl e com o xerife se aposentando, os Broncos fizeram a troca e subiram no Draft por Paxton. Na época, não parecia uma decisão tão absurda. Só que podia dar errado. Deu.

Dois anos depois, o técnico Vance Joseph demoveu Lynch para baixo no plantel de quarterbacks. Chad Kelly, sobrinho do lendário quarterback dos Bills, subiu após atuação encorajadora na abertura da pré-temporada. “Ainda estamos no processo de saber quem é o cara atrás de Case no plantel”, disse o general manager, John Elway.

Paxton Lynch representa muito do que está “errado” no Draft da NFL. Não como jogador, mas como o referido objeto de cobiça. Na época do Draft, mesmo sem saber para qual time Paxton iria, eis o que publicamos.

“Mecânica muito falha, footwork totalmente deficiente, leituras falhas, atitude extra-campo, são muitos fatores que precisam ser projetados em alguém que não está perto de ficar pronto.  Treinadores acham que podem corrigir tudo, general managers acabam minimizando detalhes e supervalorizando o futuro calouro – e o escolhendo antes da hora. Talento e atleticismo não se ensina, porém só talento não basta”, disse nosso antigo redator em texto editado e, por que não, referendado por mim.

“A mecânica de Paxton Lynch não é tão fluida quanto se deseja e o quarterback acaba sofrendo na finalização dos seus passes. Além do mais, ele segura a bola mais do que se deseja – característica que precisa de correção”, completou.

Dois anos depois, boa parte dos problemas seguem. Lynch teve inúmeras oportunidades para mostrar trabalho, seja na pré-temporada ou na temporada regular em substituição a Trevor Siemian. No ano passado, analisei extensamente o tape dele na pré-temporada. Não era animador.

 


Nesta pré-temporada, os erros mentais persistem. Abaixo, a visão de Lynch antes de passar essa bola.

Os Broncos meio que deram a Lynch uma última oportunidade para mostrar que o braço e, principalmente, a altura desejável para um  quarterback são algo que podem valer a pena. Como você viu acima, no final das contas elas não importam. Peyton Manning nunca teve espiral perfeita. Tom Brady e Joe Montana não têm um braço forte. Drew Brees e Russell Wilson estão longe de serem altos. Mesmo assim, foram bem-sucedidos.

A última oportunidade se materializou em Case Keenum. Quando você investe via free agency num quarterback, é meio óbvio que ele será o titular. Raras são as exceções, como Matt Flynn desbancado por Russell Wilson em 2012. A gota d’água é que Paxton está jogando pior que um cara escolhido na sétima rodada do Draft.

E é a segunda vez que isso acontece. Porque com Trevor Siemian foi a mesma coisa. A expectativa frustrada, o desempenho – e o insucesso – de Paxton são dignos de nomes como Johnny Manziel, Andre Ware e outros tantos busts vindos de ataques pirotécnicos do college football.

Em abril, Johh Elway disse que (ainda) não estava desistindo de Paxton Lynch. Tal como um investimento na bolsa que acaba caindo mais do que pensávamos, é hora do “stop-loss”. Abandonar o barco antes que ele afunde de vez.

2nd and 4: Por que o “sunk cost” é um conceito importante quando lidamos com quarterbacks?

Como disse acima, certos investimentos não rendem como a gente esperava. Normal. Até por isso existe esse instrumento que disse, do stop loss. Você coloca um gatilho de preço “mínimo” caso o papel entre em queda livre. Em tradução livre, isso evita mais perdas.

O conceito de sunk cost vai nessa toada. É algo como “não adianta chorar pelo leite derramado”. Bons técnicos cortam essa mal pela raiz antes que o atrito de permanecer na mesma continue.

Vou dar dois exemplos. Eddie Lacy chegou a ficar inativo em alguns jogos dos Seahawks no ano passado. Mesmo não estando machucado e sendo um nome de peso. O próprio Pete Carroll viu que Matt Flynn era um “sunk cost” em 2012 e escalou Russell Wilson.

Outro; Com pass rush fragilizado e com Rob Ninkovich aposentado, muito se esperava de Kony Ealy nos Patriots, após troca feita por Bill Belichick. O cara não rendeu e Belichick abortou a missão.

A lição é que existem certas coisas que não vão mudar, por mais que tenhamos feito um investimento emocional. Se você fez o melhor que pode, como a diretoria dos Broncos deve acreditar que fez, é melhor estancar o “sofrimento” agora e seguir em frente. Cortar Paxton Lynch pode ser dolorido, porque um investimento alto foi feito – uma escolha de primeira rodada num potencial sucessor de Peyton Manning.

Mas, mesmo assim, é a decisão certa. Como? Bom, se ele fosse escolha de, digamos, quarta rodada, os Broncos já não estariam (ainda mais) inclinados ao corte? Viu como a questão do investimento e do “medo da perda” complicam as coisas?

No fundo, já foi. Investiu, tentou, não deu certo. O melhor para os dois lados é que esse laço seja rompido, porque Denver vai ficar com um cara no vestiário que lhes lembrará do erro e Paxton estará atrelado para sempre, em Denver, ao seu custo.

Especificamente no caso dele, o corte não seria uma sentença de morte na NFL. Conforme bem lembrado por este artigo do Bleacher Report, Tommy Maddox foi escolha número 25 no Draft de 1992, Lynch foi 26. Por ironia, ambos pelo Denver Broncos, que se livrou de Maddox… Depois de dois anos.

9 anos depois, Maddox foi para a XFL – tentativa de WWE + futebol americano – foi MVP, campeão e ganhou uma chance nos Steelers, onde chegou a ser Comeback Player of The Year em 2002 e reserva de Ben Roethlisberger no Super Bowl vencido pelo time na temporada 2005.

Para os Broncos, o sunk cost é representado pela escolha de primeira rodada, que poderia ser outro titular do time no momento. Michael Thomas, Myles Jack, Hunter Henry e outros bons nomes estavam disponíveis naquele momento. Mas, no final das contas… Já foi. Já foi. Errar é horrível. Insistir no erro é pior.

3rd and 2: Daí meu problema com Josh Allen e com algumas coisas do Draft

Porque, tal como E.J. Manuel, Paxton Lynch e outros tantos, é o mesmo problema de novo e de novo. Teto alto e uma escolha na primeira rodada que não tinha valor de primeira rodada.

Os raios não caem 100% das vezes no mesmo lugar. Nada garante que Josh Allen terá um carreira com destino semelhante às de Lynch, Manuel e tantos outros que chegaram na NFL com mecânica problemática e processamento mental abaixo do desejado para um quarterback.




Indícios. Este é o ponto. Allen é um dos prospectos mais crus que já estudei antes do Draft. Alguns traços, como altura, braço forte e potencial estão ali. O problema é o resto. Vai se desenvolver? As dores de crescimento serão fortes demais para ele? Esses são os pontos. Eu, particularmente, não arriscaria.

A propósito, comentei sobre ele e os outros quarterbacks escolhidos na primeira rodada neste vídeo que fiz no início da semana.

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4th and 1: Falando neles, temos um novo favorito para o primeiro a virar titular

Sam Darnold tem uma situação bem interessante. Seu maior problema no college eram os turnovers a rodo – fora isso, ele estava pau a pau com Josh Rosen pelo posto de quarterback com maior piso de produção na NFL.

Turnovers vão acontecer e é até bom nesse primeiro ano. Lembro sempre ao leitor que o recorde de mais interceptações por um quarterback calouro ainda pertence a Peyton Manning, em sua temporada de 1998. Se o cara não aprender com os erros, aí, numa visão bem estoicista, era porque não era para ser mesmo e é hora de abortar a missão.

Natural, portanto, que colocar o calouro para jogar em algum momento seja uma decisão que alguma hora tem que acontecer. No caso de Darnold, deve ser antes dos outros quatro quarterbacks escolhidos na primeira rodada do Draft e não vejo problema nenhum nisso.

Para começar, não é como se os Jets competissem por título nesta temporada, de maneira que colocar um quarterback calouro vá minar todas as chances. Ainda, ele está fazendo por merecer. Darnold vem recebendo muitos elogios nos treinos, fez uma excelente partida contra o Atlanta Falcons na abertura da pré-temporada e nesta semana está treinando com o time titular do New York Jets.

Mais sobre a pré-temporada e suas transmissões:
8 jogos: Definidas as transmissões da pré-temporada 2018 da NFL na ESPN
NFL voltando! Entenda como funciona a lógica na escolha de transmissões da pré-temporada no Brasil

Ou seja, Josh McCown será tutor do banco mesmo. Tudo indica isso. Manish Mehta, do New York Daily News, escreveu que seria uma grande zebra caso Darnold não abra a temporada como titular.




Quando o calouro não tem um grande quarterback à frente no plantel, o time não tem aspirações de título, treina e joga bem, não dá outra. A titularidade é iminente.




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