Quem é Brett Hundley e o que esperar dos Packers com ele?

Independe do fato de ser torcedor dos Packers ou não, todo mundo que gosta de futebol americano pode ficar triste com a lesão de Aaron Rodgers. O motivo é simples: ele torna a NFL melhor e mais divertida. Sem Rodgers e a sua genialidade, o esporte perde muito, assim como o basquete perderia com a ausência de LeBron James ou o futebol sem Messi e Cristiano Ronaldo.

O quarterback quebrou a clavícula do ombro direito e precisou passar por cirurgia. Seu retorno em 2017 é bastante improvável, a não ser, no melhor dos cenários, nos momentos derradeiros da temporada regular ou eventualmente nos playoffs. Ao contrário de 2013, quando Rodgers quebrou a clavícula esquerda e ficou afastado sete semanas, esta contusão ocorreu no ombro usado para lançar a bola, o que torna a recuperação bem mais complexa.

O jeito é seguir com a vida, afinal como sabemos bem as lesões são algo constante no futebol americano. Especialmente Green Bay não tem tempo para se lamentar, pois no domingo terá pela frente um duelo complicado contra os Saints. O time precisa estar preparado para não sucumbir com a perda do seu melhor jogador.

A bola da vez agora é o quarterback terceiranista Brett Hundley. O head coach Mike McCarthy foi enfático ao afirmar que a franquia não irá atrás de Colin Kaepernick[note]http://profootballtalk.nbcsports.com/2017/10/16/mike-mccarthy-gets-angry-as-reporter-asks-about-colin-kaepernick/ Acesso em: 20/10/2017[/note] – ademais, desaposentar Tony Romo é mais um devaneio da imprensa do que uma opção realista -, então caberá ao jovem de 24 anos a missão de comandar o ataque daqui para frente.

Mas quem é Brett Hundley?

Hundley foi uma escolha de quinta rodada no Draft de 2015 (147ª pick geral). Durante boa parte do processo pré-recrutamento, ele disputou com Bryce Petty o posto de terceiro melhor quarterback da classe logo atrás de Jameis Winston e Marcus Mariota, mas no final acabou surpreendentemente despencando até o início do quinto round, quando foi selecionado por Green Bay.

Na época, dissemos aqui no ProFootball, ou melhor, no antigo The Concussion, que Hundley era um projeto em longo prazo dos Packers. A ideia era desenvolvê-lo e transformá-lo em um bom reserva para que ele fosse trocado no futuro ou jogasse em alguma situação de emergência. Com certeza a equipe preferia nunca ter que explorar a segunda opção, contudo a tal situação de emergência chegou.

Falando de seus atributos dentro de campo, Hundley saiu do College como um prospecto com excelentes características físicas, mas pouquíssimo refinado tecnicamente para a posição. Por exemplo, Brett brilhou em todos os testes físicos realizados no Combine, demonstrando muita mobilidade, velocidade, agilidade e conseguindo ótimos números entre os quarterbacks. Não por acaso, correu 1.747 jardas e somou 30 touchdowns terrestres em três anos como titular de UCLA[note]https://www.sports-reference.com/cfb/players/brett-hundley-1.html Acesso em: 20/10/2017[/note]. Além disso, quebrou recorde da universidade em jardas e touchdowns totais (respectivamente 11.713 e 105).

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Por outro lado, é preciso contextualizar estas enormes estatísticas. Hundley atuava em um esquema muito “amigável”, simples e diferente do que é usado na NFL. A maioria do seus passes eram curtos ou mesmo para trás da linha de scrimmage (em 2014, 54% dos seus lançamentos viajaram até seis jardas)[note]http://www.nfl.com/draft/2015/profiles/brett-hundley?id=2552588 Acesso em: 20/10/2017[/note]. Isso prejudicou seu desenvolvimento como pocket passer, assim como sua capacidade de ler as defesas adversárias e fazer progressões. Ademais, também não era considerado um bom passador fora do pocket, visto sua baixa porcentagem de lançamentos completos em scrambles (32,6%). Resumindo, Brett saiu do College Football sem a menor capacidade de ser titular entre os profissionais.

E hoje, Hundley tem condição de jogar na NFL?

A verdade é que ninguém sabe. O jovem vem atuando bem nas últimas pré-temporadas, até por isso conquistou a confiança da comissão técnica e tornou-se o reserva imediato de Aaron Rodgers, mas temporada regular é completamente diferente. Tempo e oportunidade para se desenvolver ele teve, isso é um fato, sobretudo aprendendo com Rodgers e um técnico de mentalidade ofensiva como McCarthy.

Usando a partida contra os Vikings como base podemos notar um quarterback que ainda oscila bastante. Por exemplo, no lance do touchdown de Davante Adams, Hundley mostrou boa presença no pocket, se movimentou para frente quando a pressão chegou e encontrou o recebedor sozinho no meio do campo para uma pontuação relativamente fácil[note]https://www.youtube.com/watch?v=YkcuuRgsEDQ Acesso em: 20/10/2017[/note]. Em outro momentos, porém, o signal caller demorou demais para tomar uma decisão e ou acabou sackado ou lançou a bola na mão dos adversários.

Em todo o caso, o espaço amostral é muito pequeno para termos qualquer certeza. Sem dúvida as três interceptações e a pífia média de 4,8 jardas por tentativa de passe preocuparam, porém não custa lembrar que Hundley entrou de surpresa na partida e enfrentou fora de casa uma das melhores defesas da liga. Com uma semana treinando com o ataque titular e um plano de jogo desenhado para ajudá-lo e favorecer suas qualidades, a expectativa é as coisas funcionarem melhor diante dos Saints.

O que podemos esperar do ataque de Green Bay a partir de agora?

A resposta mais simples e óbvia: maior adesão ao jogo terrestre. Atualmente, a porcentagem de jogadas de Green Bay é aproximadamente de 63% passes (227) e 37% corridas (133). A tendência é que essa proporção fique menos desigual com Hundley under center. Não só Aaron Jones e Ty Montgomery devem ser mais envolvidos no ataque, como o próprio quarterback pode aproveitar sua mobilidade e correr ele mesmo de vez em quando. Brett definitivamente não é o novo Cam Newton, mas tem a mobilidade como uma arma a ser explorada.

Investir mais no jogo terrestre será também uma necessidade por conta da fragilidade da linha ofensiva. Rodgers compensava a falta de proteção com seu release absurdamente rápido ou ao improvisar e sair do pocket para ganhar tempo. Hundley provavelmente não é capaz de fazer isso. Os quarterbacks de Green Bay foram pressionados em 32% dos dropbacks nesta temporada, sexta maior marca da NFL. Deixar Hundley plantado no pocket esperando três segundos para lançar a bola é a receita para o desastre, sobretudo após as novas lesões dos tackles David Bakhtiari e Bryan Bulaga e do guard Lane Taylor.

Ainda pensando em formas de atenuar os efeitos do pass rush adversário, é possível que vejamos muitas jogadas desenhadas para Hundley lançar em movimento fora do pocket, como os chamados bootlegs, uma chamada bastante amigável para quarterbacks inexperientes ou com problemas na linha ofensiva. Além disso, se tivéssemos apostando alguma coisa, diríamos que os Packers lançarão vários passes curtos e rápidos na direção de Randall Cobb para ele ganhar jardas com as pernas.

Obviamente não dá para esperar que o ataque de Green Bay mantenha o mesmo nível ou seja tão ameaçador sem Aaron Rodgers, porém existem maneiras de tentar sobreviver – McCarthy e o resto da comissão técnica precisarão ser criativos. As chaves parecem ser tirar a pressão dos ombros do terceiranista e fazer o jogo corrido render melhor. Hoje, a franquia é 26ª e a 22ª em média de jardas terrestres por partidas (88,3) e jardas por tentativa de corrida (3,98).

As pretensões dos Packers de vencer o Super Bowl ou mesmo conquistar mais um título de divisão sofreram um imenso baque com a lesão de Rodgers, mas não dá para o time simplesmente jogar a toalha depois de apenas seis confrontos disputados. Exemplos como o dos Patriots de 2008, os quais venceram 11 partidas após Tom Brady machucar o joelho na semana 1, precisam servir de motivação.

Embora ainda seja uma grande incógnita, Hundley deve ter mostrado alguma coisa boa para ser o plano B de Green Bay caso algo acontecesse com Aaron Rodgers. Pelo menos essa é a esperança da torcida.

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