Romo deixa NFL para se juntar a Fouts e Moon no panteão dos quarterbacks subestimados

Um título importa em muita coisa. Para o fã mais casual que acompanha a história da liga, ainda mais. Diz aí: você sabe quem foi Warren Moon e quem foi Dan Fouts? Bom, boa parte dos leitores vai dizer que não sabe. Eles foram dois dos mais prolíficos passadores entre o início da década de 1980 (Fouts) e o início da década de 90 (Moon).

Sim, a West Coast Offense e a regra de interferência de passe (1978) como conhecemos hoje ajudou, por meio do jogo aéreo, a consolidar a NFL como liga mais popular dos Estados Unidos. Sim, Joe Montana e a classe do Draft de 1983 (Marino, Kelly, Elway) estão no Olimpo dos quarterbacks da época. Mas Moon e Fouts são dois dos caras que pilhavam jarda sobre jarda e colocaram o jogo aéreo ainda mais em voga.

Moon é o sétimo na lista de mais jardas passadas. Fouts, o décimo-quinto. Você ficaria surpreso ao saber que ambos estão na frente de Joe Montana e Johnny Unitas na lista. Mas eles estão atrás no que costuma importar para a maioria: Vince Lombardy Trophy, com zero.

Com a notícia da aposentadoria de Tony Romo, a tendência é que ele seja conhecido assim daqui vinte ou trinta anos. Tirando os torcedores dos Cowboys e seus filhos, possivelmente só os fãs mais hardcore lembrarão num piscar de olhos de Tony. Porque a legitimidade-mor, o Vince Lombardi Trophy, ele não conquistou.

Não que eu concorde com essa abordagem. Não sou daqueles que acha que o Super Bowl é tudo para considerar a existência de um quarterback no rol dos grandes. Fosse assim, Dan Marino seria descartado e não é. A carreira de John Elway até 1996, idem. Fran Tarkenton, o pioneiro da NFL moderna no que tange a quarterbacks móveis, seria esquecido.

Não devem ser. Romo, porém, é o Fouts/Moon desta geração. Philip Rivers, na Conferência Americana, idem. O título deste artigo diz tudo: subestimado. As pessoas sempre deram um valor a Romo que, ao meu ver, era inferior ao valor que ele realmente teve.

Sim, ele se machucava bastante. Mas jogava bem demais. O camisa 9 tem uma história de Cinderella que teve início semelhante ao de Tom Brady – esquecido e negado – mas final sem anéis. Se Brady foi draftado na sexta rodada, Romo sequer foi escolhido no Draft. Com a queda de produtividade de Drew Bledsoe em 2006, Bill Parcells apertou o gatilho e colocou Romo em campo para que ele só perdesse a titularidade em 2016.

A imagem que fica daquele ano, infelizmente, não é a de um reserva que veio do nada e se tornou líder do America’s Team. É o erro de Romo nos playoffs. Sequer como quarterback, mas como holder: ele não segurou direito a bola no que seria o field goal da vitória de Dallas ante Seattle.

No ano seguinte, Dallas teve uma das melhores campanhas da NFL e foi aos playoffs com pompa. Ruiu ante os Giants, destruidores de sonhos quando jogavam fora de casa. Em 2014, Dallas novamente teve campanha magnífica, com 12 vitórias e 4 derrotas. Os Cowboys ruíram ante os Packers no playoff divisional.

Romo termina a carreira com 34.183 jardas passadas e 248 touchdowns. Mas quando “importa”, na pós-temporada, o sucesso de temporada regular não se traduziu. São 78 vitórias e 49 derrotas na temporada – e 2 vitórias com 4 derrotas em pós-temporada. Isso, mais as lesões e alguns erros crassos em partidas delicadas – para o deleite de páginas de memes – deve ser o que fica na mente da maioria dos torcedores.

Para o torcedor dos Cowboys e para quem ama futebol americano mais do que tudo na vida, o legado de Romo deve ser diferente. Deve ser de reverência. O produto de Eastern Illinois deu a primeira vitória em playoff para os Cowboys desde 1995, quando a franquia ganhou seu último título. Por mais que se machucasse constantemente, havia sempre o outro lado da moeda. Vão se lembrar das lesões: eu vou me lembrar das costelas fraturadas e pulmão perfurado e, mesmo assim, ele em campo para jogar contra San Francisco em 2011. Dois anos depois, em campo contra Washington em jogo decisivo – mesmo tendo hérnia de disco.


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Romo nunca foi um quarterback amado por todos

Mas não há nenhum – frise-se, nenhum – quarterback com mais viradas em 4º período entre 2006 e 2014. Romo teve 27, a maior marca da NFL. Peyton Manning e Matt Ryan, 26. Se continuarmos nessa toada, lembramos que ele se aposenta com o quarto melhor rating da história da NFL (97.1), atrás apenas de Brady, Wilson e Rodgers.

Ainda, na história de Dallas, Tony foi o “salvador” depois de uma sequência nada digna de substituir Troy Aikman. Quincy Carter (15-15), Drew Bledose (12-10), Vinny Testaverde (5-10), Chad Hutchinson (2-7), Anthony Wright (1-2), Ryan Leaf (!!!!!) (0-3), Clint Stoerner (1-1) e Drew Henson (1-0). Romo? (78-49).

Este para mim é o legado de Tony Romo. Muitos já dizem que ele deve seguir o caminho de outros ex-quarterbacks dos Cowboys. Don Meredith foi  – junto de Howard Cosell – o primeiro comentarista da história do Monday Night Football. Roger Staubach chegou a trabalhar comentando jogos após sua aposentadoria. Troy Aikman é o principal comentarista da FOX. Romo deve se juntar à CBS. Espero ansioso para ouvi-lo, tal qual esperava para vê-lo jogar.

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