Quando você tem um elenco talentoso em praticamente todos os setores e, combinado a isso, um quarterback que está dentre a elite da liga, é impossível com que a expectativa sobre seu time não seja alta. Para o Seattle Seahawks, vindo de um ano de recuperação que terminou em classificação para a pós-temporada, as expectativas de superar Sean McVay e o Los Angeles Rams eram realistas – mais ainda, eram prováveis.
Bem, o time superou os Rams e repetiu a ida aos playoffs, mas o título da divisão ficou com o San Francisco 49ers. Os Seahawks ficaram à centímetros – literalmente – de vencerem a NFC West e até conseguiram chegar na Semifinal de Conferência, onde sucumbiram frente ao Green Bay Packers. Mesmo assim, o sentimento é de que o time foi limitado por suas próprias escolhas ruins.
Quais eram as expectativas do torcedor para 2019: Com novas adições na defesa e sabendo do potencial de Russell Wilson, o torcedor mais otimista sonhava com sucesso na Conferência Nacional. Uma expectativa mais racional e moderada sabia que a defesa, apesar de um bom início em seu processo de reconstrução em 2018, ainda tinha muito o que melhorar, mesmo sabendo que Pete Carroll comanda o time.
A grande maioria dos torcedores imaginava uma temporada com 9 ou 10 vitórias, talvez com a adição de Jadeveon Clowney aumentando um pouco dessas expectativas. Seja como for, era esperar muito que o time voltasse aos tempos de domínio na NFC já em 2019.
Quais eram as nossas expectativas para 2019: Víamos os Seahawks chegando até a Semifinal de Conferência (como o fizeram), mas acreditávamos no time vencendo a NFC West – não esperávamos uma ascensão como a dos 49ers, pra ser sincero. Os buracos na defesa eram evidentes, as saídas de Frank Clark e Earl Thomas machucariam muito a unidade e, mesmo com algumas adições, a unidade ainda não estava pronta para competir com os times mais fortes.
O que esperávamos uma melhora era justamente na forma que o ataque era montado. Vindos de uma derrota desanimadora no Wild Card Round para o Dallas Cowboys, mesmo com a manutenção de Brian Schottenheimer no comando do ataque, era de se esperar que Russell Wilson se tornasse o ponto focal do sistema ofensivo. Parecia uma decisão óbvia: dar a bola nas mãos de seu melhor jogador.
O que aconteceu: Autossabotagem, em resumo. Os Seahawks se ateram a uma forma de jogar e essa deu certo até a página 2. O time terminou com campanha positiva, venceu um jogo de pós-temporada, e ainda assim você pode se perguntar até que ponto 2019 foi um sucesso, considerando a forma que o time se apresentou no último ano dado o material disponível.
O que eu quero dizer, sendo mais direto, é que a comissão técnica dos Seahawks, ao longo de todo o ano, limitou o time de chegar mais longe e de alcançar todo seu potencial ao investir num modo de jogo antiquado e que, embora efetivo, certamente poderia ter sido mais explosivo se explorado da forma certa. Em outras palavras: o ponto focal do time deveria ter sido Russell Wilson.
Foram 11 vitórias e 5 derrotas na temporada regular, uma excelente campanha à primeira vista. Sabe qual foi a diferença total de pontos em todos esses 16 jogos? +7. Seattle venceu uma porção de jogos apertados – 9-1 em jogos decididos por 7 ou menos pontos em 2019 -, uma receita perfeita para a regressão no próximo ano. Você não constrói um modelo de jogo sucessivo à longo prazo se ele é baseado na sorte, e os Seahawks de 2019 foram sortudos.
Pete Carroll prefere que seu time jogue de uma forma específica: controlando a defesa adversária por meio do jogo terrestre e se utilizando de uma excelente defesa. Não precisa ser um gênio pra saber que Seattle não tinha essa defesa em 2019 – aliás, eles não tem essa defesa desde o auge da Legion of Boom. O pass rush, principalmente, foi extremamente deficitário – e o time draftou um EDGE na primeira rodada do Draft e ele praticamente não entrou em campo, lembremos.
O jogo terrestre é o outro ponto de discussão. Os Seahawks eram um time bom correndo com a bola, especialmente antes das lesões de Rashaad Penny e Chris Carson. A questão é que, ofensivamente, eles poderiam ser ainda melhores se o jogo aéreo fosse o foco do ataque. Schottenheimer, para todos seus defeitos, tem um desenho esquemático interessantíssimo em seus conceitos de passe; Tyler Lockett e D. K. Metcalf são uma excelente dupla de recebedores, e claro, Seattle possui um dos 3 melhores quarterbacks da liga. E hoje a gente sabe que ter um ataque eficiente pelo ar é muito melhor do que ter um ataque eficiente pelo chão.
Imagina se os Seahawks tivessem um técnico que soubesse aproveitar isso?
Há esperança para 2020? Esperança, sim, já que o elenco é talentoso. O ponto é que lá atrás, depois da derrota para os Cowboys nos playoffs, a discussão não era assim tão diferente: “o time precisa deixar de correr tanto com a bola” “precisam dar mais a bola nas mãos do Russell Wilson”. Não é como se a necessidade dessas mudanças fosse algo novo, e não parece que a comissão técnica vá sofrer alterações tão significativas – a demissão do coordenador defensivo Ken Norton Jr. é uma possibilidade, mas o problema está um pouco mais acima.
O que precisa mudar urgentemente no time: Pete Carroll precisa urgentemente abandonar essa filosofia arcaica de que seu ataque precisa estabelecer o jogo terrestre e deixar Russell Wilson ser Russell Wilson. Do contrário, os Seahawks continuarão limitados e a história será a mesma no próximo jogo de playoff: time não consegue correr com a bola, tem desvantagem grande no placar, começa a passar, ataque se torna produtivo, encosta, e fica a sensação de que o resultado poderia ser diferente caso tivessem passado mais a bola desde o início.
Quer um exemplo de como Seattle poderia ser melhor? Veja Patrick Mahomes e Andy Reid no Kansas City Chiefs. Reid é um gênio ofensivo e que faz de Mahomes o ponto focal do ataque não importa a situação, sabendo que ele possui um quarterback extremamente acima da média e que passar a bola é a melhor forma de se vencer um jogo. Tendo um jogador under center praticamente do mesmo nível, magina se Carroll tivesse a mesma mentalidade? Os Seahawks seriam um time bem melhor.







